quinta-feira, 8 de agosto de 2013


08 de agosto de 2013 | N° 17516
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio Araujo

Houve um verão

Em cinco anos na Casa Branca, nenhum setor da política externa foi mais auspicioso para Barack Obama do que as relações com a Rússia. É verdade que o panorama dificilmente poderia ser pior que o dos anos George W. Bush. Na década de 2000, o governo do presidente Vladimir Putin usou poderio militar avassalador contra a ex-república soviética da Geórgia e incentivou a separação da Ossétia do Norte (a do Sul continuou território georgiano), sem dar ouvidos aos protestos americanos e europeus.

No âmbito doméstico, demonstrou pouco apreço pelas conquistas democráticas obtidas com a derrubada do regime de partido único: passou a controlar na prática a Duma (câmara dos deputados), extinguiu eleições para governadores e perseguiu oposicionistas de todos os matizes.

Nada foi empecilho para a assinatura de um tratado bilateral de limitação de armas estratégicas e a aprovação de sanções contra o Irã no Conselho de Segurança da ONU em 2010. Tampouco impediu o ingresso russo na OMS em 2012 ou a colaboração militar no Afeganistão.

Oito meses depois, o Verão do Amor nas relações russo-americanas parece encerrado. A lista de contenciosos voltou a crescer: vai da Lista Magnitsky (sanções americanas contra russos envolvidos na morte do contador russo Serguei Magnitsky, em 2009) à falta de acordo sobre o fim do regime sírio. Até mesmo um tratado para facilitar adoções (que, na prática, servia para encorajar pais americanos a adotar crianças russas) foi anulado.

Quando o azedume já estava avançado, em maio, ninguém se surpreendeu com a prisão, por agentes russos, do americano Ryan Fogle, que aparentemente se preparava para comprar informações confidenciais. Putin colhe dividendospolíticos dessa situação, que lhe permite se apresentar como defensor nº 1 da Pátria Mãe.

O asilo a Edward Snowden e o consequente cancelamento da visita de Obama à Rússia são desdobramentos de uma crise em fogo brando. De qualquer sorte, Putin não governa uma grande potência, e Obama tem preocupações mais urgentes. A má notícia, para os EUA, é que será preciso recomeçar o que já foi descrito como “recomeço” nas relações com Moscou.