VINICIUS
TORRES FREIRE
A educação de Dilma Rousseff
O
que a presidente terá aprendido com o fracasso de suas previsões e análises
sobre a economia?
NA
PRIMEIRA VEZ em que reuniu seus ministros, 13 dias depois de tomar posse, Dilma
Rousseff acreditava que o Brasil cresceria em média 5,9% ao ano, um ritmo 50%
mais rápido que o dos anos Lula. Os economistas do governo diziam, com a anuência
da presidente, que o crescimento seria de 5% em 2011, 5,5% em 2012 e 6,5% em
cada ano do biênio final do mandato.
A
inflação cairia até chegar a 4,5% em 2012. Não haveria mais "ajuste fiscal"
(redução do deficit das contas do governo), mas "consolidação fiscal",
pois o "ajuste clássico" provocaria desemprego e baixa dos
investimentos. Haveria "racionalização das despesas e aumento da eficiência
do gasto público".
Em
setembro, com o caldo daquele ano de 2011 entornado, a presidente e seus
economistas não mais previam, mas se davam a meta de fazer o país crescer 4% ao
ano. O governo pouparia o equivalente a 3,1% do PIB das suas receitas.
O país
cresceu 2,7% em 2011, 0,9% em 2012 e deve crescer algo entre 1,8% e 2,7% neste 2013.
O deficit aumentou, a inflação foi maior.
Não
importa o "erro de previsão" nem o fracasso em acertar o alvo. Interessam
as ideias que embasavam prognósticos e diagnósticos, além das subsequentes
decisões tomadas a princípio para "corrigir rumos" e, a seguir, para
salvar a todo custo e desesperadamente a face política.
O
governo assumiu com a ideia de que o Brasil estava pronto para crescer no ritmo
mais rápido de sua história. Eram desnecessárias mudanças institucionais (leis,
rearranjos do Estado, da intervenção na economia etc.), entre outras.
Quando
se frustrou o crescimento previsto, aumentou-se cada vez mais o gasto público
direto e indireto (com a estatização parcial do crédito bancário, via endividamento
para a capitalização de bancos públicos).
Ansioso,
depois desesperado, o governo atacou com estímulos desordenados ao consumo,
como um time de futebol fraco e pueril que parte em massa para o ataque a fim
de virar o jogo, levando goleada infame.
Nova
frustração do "estímulo ao crescimento" suscitou a desconversa
derrotada de que o importante mesmo é o desemprego em recorde de baixa e o povo
satisfeito.
De mãos
quase atadas, pois não tem como manejar o gasto público e os juros sobem, dada
a inflação persistente, o governo agora limita o diálogo público a queixas
sobre o pessimismo de seus críticos ou inimigos.
O
que terá aprendido Dilma Rousseff?
Não
revê o seu curso apenas porque está emparedada pela eleição próxima, a qual
poderia perder se mexesse a fundo na economia? Sua mudez e isolamento são
apenas uma estratégia de evitar conversas perigosas para sua reeleição? Ou
teimosa e iludida acredita que foi vítima dos azares de um mundo conturbando e
do pessimismo de adversários?
Candidata,
vai ainda tentar manter as aparências e evitar qualquer conversa racional sobre
mudanças para o país?
Se
eleita, enfim vai apresentar um programa de mudanças, uma conversa adulta e
informada sobre as insuficiências da economia, dos problemas da administração pública
e dos conflitos políticos que precisam ser resolvidos (com perdas e danos para
alguns)?
O
que dirá Dilma Rousseff sobre um segundo mandato? O primeiro acabou.
vinit@uol.com.br