05 de janeiro de 2014 |
N° 17664
FABRÍCIO CARPINEJAR
Amor-sequestro e amor-remanso
Se você se afastou dos amigos,
dos filhos, da família, é bem possível que esteja vivendo um amor-sequestro.
Não está numa relação, mas num
cativeiro, sem contato com o mundo externo e apartado de uma segunda opinião.
Seu paradeiro é desconhecido, não
sai do quartinho escuro, não troca ideias com a roda de colegas, não avalia sua
condição, apenas se alimenta das sombras do passado e do pensamento.
Ficará tão sozinho, tão
distanciado de sua rotina anterior, que não terá mais uma vivalma para pagar o
resgate.
O isolamento é o termômetro da
falta de felicidade.
O amor-sequestro consiste em
devotar suas energias exclusivamente para sua companhia e esquecer o elo das
demais amizades. É criar uma simbiose com o sequestrador (namorada ou
namorado), a ponto de discutir por qualquer coisa, por qualquer problema.
Você passará mais tempo tentando
salvar o relacionamento do que aproveitando o relacionamento. Enfrentará uma
situação de pânico, contando os dias, angustiado com a ausência de perspectiva
e de estabilidade. Só falará do mesmo assunto: o tratamento injusto que recebe.
Não há como amadurecer com o
amor-sequestro. Ninguém cresce pressionado. Ninguém cresce emparedado. Ninguém
cresce cobrado. Ninguém cresce ameaçado do fim.
No amor-sequestro, nada é
suficiente. Pode oferecer seu máximo de ternura, que será pouco, o máximo de
gentileza e será pouco, o máximo de entrega e intensidade e será pouco.
Quando os pedidos são
insaciáveis, você não está sendo amado, demonstra que seu par apenas espera sua
falha para humilhar e expor a superioridade.
Tornou-se refém das brigas e da
insatisfação do outro. Buscará agradar, e decepcionará com frequência. Buscará
reverter a situação, e somente agredirá de volta.
No amor-sequestro, deixa-se de
ser inteiro para ser fragmentado, parcial, com dificuldades de resolver o
trabalho e dar continuidade para a vida social. Nunca sobra folêgo para novas
tarefas e compromissos.
O ideal é o amor-remanso. Ter paz
para errar, pensar no erro e retribuir com atitudes afirmativas. Experimentar
um relacionamento com a sensação de contar com todo o tempo para alinhar os
passos (entender para aprender). Pois a solução dos problemas não acontece com
hora marcada.
Os amigos e a familiares se
manterão próximos, aconselhando, amparando, valorizando o enlace. Tem chance de
sentir saudade, não estará sufocado e asfixiado num mesmo lugar, não se
enxergará culpado ou em desvalia. Será admirado pela sua lealdade, por aquilo
que você é. Por mais que não esteja certo, sua namorada ou seu namorado estará
com você, ao lado, esperando que perceba a verdade, respeitando seu ritmo.
Não há maior liberdade do que a
tranquilidade. Desfrutar de calma para se conhecer e assim se doar melhor.
A eternidade está no presente,
não no futuro. Que seja eterno porque confiamos.