05 de janeiro de 2014 |
N° 17664
PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES
(INTERINO)
Gato ou cachorro?
A vida e suas escolhas. Você acha
que uma das grandes decisões da humanidade é esta que deve tomar agora, no
vestibular, por exemplo, entre Engenharia e Medicina.
Outra escolha: você tem que optar
entre pegar logo aquela bolsa e ir para Paris, ou ficar por aqui mesmo, porque
a Sorbonne já não tem tanto charme e a Bruna pode arranjar outro. Imagine: você
vai estudar o fim da pós-modernidade em Paris, volta insuportável e ainda perde
a Bruna.
Ou fica aqui, não evolui
profissionalmente nem como pessoa e perde a Bruna de qualquer jeito. Ou esquece
a Bruna e se inscreve como candidato a colonizar Marte, com passagem só de ida.
No fim, as grandes decisões mesmo
são as cotidianas, que podem mudar muito mais a vida de alguém do que dois anos
na Sorbonne. Uma decisão grave, que o mundo ocidental toma diariamente, é esta:
gato ou cachorro?
A família chega à pet, decidida a
levar um cachorro, mas acaba levando um gato. É a grande dúvida do começo do
século. As estatísticas ampliaram o dilema. Dizem que, quanto mais desenvolvido
o país, mais tem gato.
Há mais gatos na Alemanha, nos
Estados Unidos, na França. Tem mais cachorro na Colômbia, no Brasil, na China.
Quando o mundo todo for rico, inclusive a Coreia do Norte, teremos bilhões de
gatos e meia dúzia de linguicinhas. Uma das vantagens é que terminarão com os
pitbulls.
Metade dos prêmios Nobel de
Literatura aparecem em fotos com gatos no colo. Gatos conferem mistério ao
dono. Há uma foto em que Jorge Luis Borges (que não ganhou o Nobel) aparece
sentado, e Beppo, seu gato, está estirado no chão ao lado da poltrona. Borges
já estava cego quando aquela foto foi feita. E ele olha para Beppo.
Gatos são femininos, cachorros
são masculinos. Mas os gatos olham uma mão e não conseguem ver que a mão está
ligada a um braço. Cachorros são holísticos: enxergam os dedos, a mão, o braço,
o dono.
Cachorros, com certeza, sorriem.
Gatos são impassíveis, mas intuitivos. Dizem que os gatos previram, por
agitação noturna, a crise de 2008 que quebrou o Lehmann Brothers e as bolsas.
Um cachorro, menos apegado a bens materiais, não entende nada de capitalismo.
Mas, enfim, questões práticas
dividem e unem gateiros e cachorreiros. Ouvi colegas. Clóvis Malta gosta da
ideia de que um cão e um gato possam compartilhar o mesmo espaço e ser presença
importante um para o outro. Suzete Braun diz que gato a faz pensar em alergia.
E gatos sobem nas mesas, vasculham panelas, quebram bibelôs. Gatos miam por
nada. Mas Henrique Erni Gräwer gosta da autonomia dos gatos. E, na comparação,
relembra um trauma da infância: cachorro morde.
Gatos são metidos e se chamam
Lucky, Sary, Harumi, Nikita, Zhara, Dimmy, Dorothy, Miuki, Judy. Cachorros são
Bola, Lobo, Batata, Xica, Duque, Princesa, Pitoco, Tarzan. Cachorro abana o
rabo quando está alegre; o gato, quando está irritado.
Eu prefiro cachorro. Desculpem,
mas estou falando disso tudo aqui porque não tenho Facebook.