10
de março de 2014 | N° 17728
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Dez bilhões de prejuízo
As
notícias são alarmantes. Ali são os excessos de chuva e aqui o excesso de
calor, ambos os fenômenos resultantes de fatores da natureza, alheios e acima
da vontade humana. Os efeitos funestos que se multiplicam são desiguais aqui e
ali. As causas também são diferentes; de modo que o levantamento sinistro,
embora importante, não é necessário, quando se trata de uma referência em um
artigo.
O
fato certo e induvidoso é que os prejuízos do agronegócio com a seca e as
chuvas são estimados em R$ 10 bilhões, porque só ao cabo da colheita se saberá,
realmente, a extensão dos danos e consequente prejuízo. Mas, para efeito de um
primeiro exame do fato, bastam os números divulgados. Dez bilhões de reais é dinheiro
em qualquer lugar.
Pois
me contento com os dados divulgados para lembrar que é comum a referência de
pessoas alheias ao setor a ele se referirem como algo ligado à rotina e ao
atraso, chegando mesmo a insinuar o seu caráter antissocial, para dizer tudo em
uma palavra. Em verdade, as pessoas que dogmaticamente assim se pronunciam, e não
são poucas, geralmente, nunca lançaram à terra uma semente. De modo que os números
agora mencionados como indicativo das perdas já ocorridas valem para salientar
aos opinantes ignaros os riscos inerentes a uma atividade intimamente ligada às
surpresas da natureza.
O
leitor poderá estranhar que não fale em pecuária e apenas em agricultura. É que
tenho presente a lição de Assis Brasil, segundo a qual, quem diz a agricultura
engloba necessariamente a pecuária e exemplificava: dizer agricultura e pecuária
seria o mesmo que falar em uma loja de fazendas acrescentando de lã, seda ou
simples chitas.
De
qualquer sorte, usando o termo genérico agricultura ou empregando o pleonasmo
corrente, agricultura e pecuária, pouco importa, o certo é que a atividade é dependente
imediata dos fatores naturais, e o que está acontecendo por excesso de chuva e
por falta de chuva, reaviva demonstração dessa realidade. Contudo, ninguém
ignora que o Brasil é exportador de alimentos e a tendência é de aumentar os índices
de exportação, uma vez que não tem cessado o crescimento da população, bem como
a incorporação de novas áreas deficientes em produção agrícola. Enfim, a
componente rotulada de agricultura ou agronegócio importa em torno de 30% da
produção global do país. Creio que isso diz tudo, suprima-se este dado e
verificar-se-á o real significado dessa componente na economia nacional e na
vitalidade da nação.
Diante
desses dados, seria de esperar não digo o desaparecimento dos maldizentes da
agricultura, porque esses são inextinguíveis, mas que eles, pelo menos, diminuíssem
em face do quadro hoje tão eloquente.
Aliás,
se estou bem lembrado, maldizer faz lembrar o que Machado de Assis disse acerca
do boato “é uma das mais cômodas invenções humanas, porque encerra todas as
vantagens da maledicência, sem os inconvenientes da responsabilidade.”
Para
encerrar o assunto da perda do agronegócio, não se conhece uma medida nem mesmo
o anúncio de uma promessa do governo federal que viesse minorar os efeitos
dessa calamidade; é verdade que, outro dia, houve quem indagasse quem era o
ministro da Agricultura e nenhum dos presentes, todos informados em coisas políticas,
foi capaz de decliná-lo. Desconfio que o mesmo ocorresse se a indagação
envolvesse outros ministros. Ou estarei enganado?
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF