terça-feira, 8 de julho de 2014


08 de julho de 2014 | N° 17853
MOISÉS MENDES

Os bumerangues

Algumas observações derradeiras sobre a Copa. Começo pela cena da troca de flâmulas. Flâmulas são mais do que manifestações de identidade, são objetos da nossa infância. O momento mais solene de um capitão em campo, nesta Copa, é o da troca das flâmulas, como todos os capitães de clubes faziam no século 20.

Quem, com mais de 50 anos, não teve flâmulas nas paredes do quarto? Por que o sapato de bico fino vai e volta e as flâmulas desapareceram das nossas vidas e nunca mais voltaram? Começo agora uma campanha para que pelo menos os colégios voltem a ter flâmulas.

Ainda há holandeses circulando pela Cidade Baixa. Alguns já são famosos. Dois deles, disputadíssimos, se chamam Sjaak e Harmjan.

Andam em dupla pelos bares da vida com bandeirinhas do Brasil no chapéu, gargalhando, contando histórias e repetindo frases em português, como esta: “Irrei emborra chorrrando”.

Dependendo das circunstâncias, depois de muita cerveja, ao final da prorrogação da madrugada, Sjaak sai para Harmjan entrar na hora do pênalti.

Este ficará para sempre como o inverno dos bumerangues. Alguns australianos presentearam gaúchas com bumerangues e prometeram voltar. Um deles disse a uma guria de família de Quaraí, que mora no Menino Deus: “Irrei emborra, mas um dia voltarrrei, como se fosse um bumerranga”.

A guria sabe que ele nunca mais voltará, mas não se incomoda. Os bumerangues, ao contrário do que se diz, raramente voltam.

Quem é o homem da Fifa responsável pelas tampas de bueiros? Por que as tampas de bueiros continuam afundando em Porto Alegre, sem que ninguém faça nada? Quantos argentinos podem ter sumido nesses bueiros?

É ruim pensar que daqui a uma semana, em algum momento, logo no começo de um jogo do Campeonato Brasileiro, a bola vai sair pela lateral. E irá demorar meia hora para voltar a campo. E, dois minutos depois, sairá de novo.

É terrível imaginar que, depois dessa sequência fantástica de craques duelando em prorrogações, sem que a bola saia para a lateral, passaremos anos vendo pernas de pau batendo laterais e espantando quero-queros.

E os comentaristas passarão jogos inteiros comentando como se bate lateral no Brasil.

E se o Brasil, na hora dos pênaltis contra os alemães, trocasse de técnico? Parreira entraria para orientar o momento do choro. Felipão é emotivo e deixou o choro sair meio frouxo no jogo contra o Chile. E contra a Colômbia ninguém chorou. O choro copeiro tem que voltar. É o forte do Brasil.


Ou será que os alemães finalmente vão chorar hoje?