11
de julho de 2014 | N° 17856
DAVID
COIMBRA
Governista ou
canalha?
Ou
você é governista, ou é canalha. É assim, no Brasil do século 21. Antes, um
jornalista, por exemplo, se fosse governista, chamavam-no de “chapa-branca”.
Hoje, se o jornalista não é governista, chamam-no de chapa-branca.
Como
o governo conseguiu essa façanha?
É a
aposta no seccionamento da sociedade. Aparta-se alguns para ganhar outros
tantos. O governo é a favor dos pobres; logo, quem é contra o governo é contra
os pobres. Os governistas eram contra a ditadura; logo, quem critica os
governistas é a favor da ditadura. Onde estão os negros, que não são vistos nos
estádios da Copa, onde se vaia a presidente? Estão nos mocambos do Brasil,
abençoando a mão maternal do governo. Elite branca versus negros pobres, esse é
o jogo promovido pelo governo.
Eu,
aqui, prefiro ser chamado de canalha a ser governista. Quero poder criticar o
governo, qualquer governo, em qualquer tempo. Quero poder reclamar, como
jornalista em segundo lugar, como cidadão em primeiro. E elogiar também, se for
o caso.
Até
porque todos os governos do Brasil tiveram defeitos e qualidades, como sói
acontecer com os governos todos. O busílis é que, no Brasil, os governos só
deram e só dão atenção a supostas necessidades materiais da população. Isso é
fácil. Ou menos difícil.
O
Brasil é um país com vocação para o crescimento material. Sempre cresceu materialmente,
mesmo nos piores momentos. O pior talvez tenha sido o governo de Sarney, na
época da hiperinflação. E mesmo assim o Brasil foi para frente, graças à
variedade de seu parque industrial, à pujança da sua agropecuária, à capacidade
de trabalho de um povo multiétnico.
Moralmente,
porém, o Brasil só submerge. A decadência moral do Brasil é palpável e se
aprofunda a cada ano. E, quando o governo aposta na divisão da sociedade, essa
desintegração só faz aumentar.
A
força do Brasil está na sua variedade, na coabitação das suas diferenças.
Existe racismo, discriminação, preconceito? Claro que sim. Onde não há? Mas
existe também natural miscigenação e convivência pacífica. Todos somos
brasileiros.
O
governo vai faturar com a realização desta bela Copa do Mundo? Decerto que sim,
e é justo que fature. Vai perder com o vexame da Seleção? Espero que não, não é
culpa do governo. Lula foi um visionário ao candidatar o país para sediar a
Copa. Lula agiu como estadista, porque foi um estadista. Fernando Henrique
também. Dilma, não.
Dilma não é uma carismática. É uma técnica, é de executar,
não de ideias, não de liderar. Se o governo acertou ao propor a Copa, errou na
condução dos negócios da Copa. Houve gastança desnecessária em estádios
desnecessários, houve atrasos imperdoáveis, obras inacabadas e improvisos que
podem até ter ocasionado acidentes como o desabamento do viaduto em Minas.
A
Copa é um sucesso. A maioria das ações do governo na Copa, não. O governo
merece seu quinhão de aplausos, e outro tanto de apupos. E podem me chamar de
canalha.