É necessário αbrir os olhos e perceber que αs coisαs boαs estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisαm de motivos nem os desejos de rαzão. O importαnte é αproveitαr o momento, pois α vidα estα nos olhos de quem sαbe ver. Tento me lembrαr, de tudo que vivi, o que tem por dentro, ninguém pode roubαr. Pois os diαs ruins, todo mundo tem já jurei prα mim, não desαnimαr, não ter mαis pressα , eu sei que o mundo vαi girar . . .Eu espero α minhα vez.
domingo, 30 de junho de 2013
BOM FINAL DE SEMANA!

Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve
nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre
uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a
em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe
lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de
esperança
e vive á sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem
não sabe dar.
Vive com amor e fá-lo conhecer ao
Mundo.
"Beijos"

FERREIRA
GULLAR
A vez do povo desorganizado
Os
políticos se tornaram uma casta que se apropriou da máquina do Estado em seu próprio
benefício
As
manifestações de protesto ocorridas nas últimas semanas em numerosas cidades
brasileiras são, sem sombra de dúvida, um fenômeno novo na vida política do país,
nos últimos 20 anos.
Causou
surpresa a muita gente --inclusive a mim-- que o aumento de R$ 0,20 nas tarifas
de transporte urbano tenha provocado tamanha revolta e mobilizado tanta gente.
É que
essas manifestações traziam consigo outras motivações que não se revelaram no
primeiro momento. Logo pôde-se ver que o aumento das tarifas foi apenas o
detonador de um descontentamento maior que põe em questão o próprio sistema político
que nos governa.
Ouvi
e li opiniões segundo as quais trata-se de um fenômeno internacional, uma vez
que, em vários países, protestos populares têm se repetido com frequência. Trata-se,
creio eu, de uma opinião equivocada, já que as razões desses protestos são
diferentes de país para país. O que há de comum neles é a influência das redes
sociais, que possibilitam mobilizações em tal escala.
No
caso do Brasil, por exemplo, está evidente que a revolta é contra os políticos
em geral, sejam de que partidos forem, pertençam ao governo ou à oposição. Isso
se tornou evidente em diversos momentos quando militantes deste ou daquele
partido tentaram se manifestar: foram vaiados e até espancados. Foi o caso do
PT que, oportunista como sempre, tentou tirar vantagem da situação e se deu mal.
Mas
de onde vem esse horror aos políticos? A resposta é óbvia: eles se tornaram uma
casta que se apropriou da máquina do Estado em seu próprio benefício.
Essa
máquina, que é mantida com o dinheiro de impostos escorchantes, eles usam para
empregar seus parentes e companheiros de partido, para enriquecer a si e a seus
familiares, manipulando licitações e contratos de obras públicas --e usam isso,
sobretudo, para se manter no poder.
Essa
situação tornou-se particularmente insuportável depois que Lula assumiu o
governo e pôs em prática uma política populista que veio agravar ainda mais
aqueles fatores negativos da vida política brasileira. Quem nele acreditava viu,
decepcionado, que ele ignorou os compromissos éticos assumidos e aliou-se a
figuras como Maluf e o bispo Macedo --sem falar na compra, com dinheiro público,
de partidos corruptos.
Essa
aliança, com o submundo político, de um líder que surgiu como uma esperança de
renovação, só poderia conduzir as pessoas em geral --e particularmente os que
confiaram nele-- à desesperança total quanto ao futuro da nação.
O
mais grave é que, somando-se isso à política assistencialista que adotou,
tornou-se eleitoralmente imbatível. Assim, sem outra saída, os inconformados
foram para as ruas. Nessa rejeição ao poder constituído e aos políticos em
geral, o povo descontente pode não saber ainda por onde vai, mas sabe por onde
não vai.
Não
por acaso, a maioria desses manifestantes é de classe média. Não foram os
pobres dos subúrbios que vieram para as ruas protestar, pois recebem Bolsa Família
e melhoraram de vida. Quem está insatisfeita e revoltada é a parte da sociedade
que só perdeu com o populismo lulista, uma vez que o dinheiro público, em lugar
de ser investido em hospitais, escolas e serviços públicos, foi e é usado em
programas assistencialistas e demagógicos.
Por
outro lado, o lulismo cooptou as entidades representativas dos trabalhadores e
dos estudantes (a CUT e a UNE), que, contrariamente a suas origens e à sua história,
agora impedem manifestações contrárias ao governo. Desse modo, tanto os
trabalhadores quanto os estudantes não têm quem os represente na luta por suas
reivindicações.
Por
isso, meses atrás, afirmei nesta coluna que a única solução possível seria o
povo desorganizado ir para as ruas, já que não conta com as organizações que
deveriam representá-lo. É o que acontece agora: o povo desorganizado está nas
ruas. Desmascarada, a CUT tentou juntar-se aos manifestantes, mas foi repelida
por eles.
Sem
alternativa, a presidente Dilma promoveu uma reunião com governadores e
prefeitos para aparecer como porta-voz dos inconformados, e propôs medidas que
não se sabe quando nem se serão mesmo postas em prática
JOSÉ SIMÃO
Congresso!
Trabalhos Forçados!
E o
PGN, o meu Partido da Genitália Nacional, já lançou a sua PEC: PEC 69! PEC NA
MINHA E BALANÇA!
Buemba!
Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o PGN, o
meu Partido da Genitália Nacional, já lançou a sua PEC: PEC 69! PEC NA MINHA E
BALANÇA! Rarará!
E o
Congresso trabalhando? Trabalhos Forçados! O Congresso tá parecendo viúva
tirando atraso de dez anos!
E o
Renan Escandalheiros quer passe livre para estudantes. E eu quero passe livre
pra ele sumir! Passe Livre pro Renan Sumir! Ele já virou tanta casaca que o
casaco dele deve ter 20 avessos! Rarará!
E
esta piada pronta de Floripa: "Com dois atos simultâneos, manifestantes
sem partidos erram de protesto". Tá virando pastelão! E esta: "Líder
do PSDB, Sérgio Guerra se engana e vota a favor da PEC 37". ANTAlógica. O
Tiririca votou direitinho!
E
sofremos duas baixas internacionais! "Brad Pitt cancela sua vinda ao Rio
por causa dos protestos." Bundão! Chama o Chuck Norris e o Arnold
Schwarzenegger que eles topam. Dorme com a Angelina Jolie e tem medo de
protestos?
"Por
causa dos protestos, Superman cancela vinda ao Brasil". Bundão! Chama o
Chapolin Colorado! E o Superman vinha pra divulgar o filme "O Homem de Aço".
O Homem de Aço tem medo de bala de borracha! Rarará!
E a
Dilma, pro próximo discurso, vai fazer um botoshop: botox com photoshop! O Laquê
Acordou! E eu fui a três manifestações. E o melhor cartaz: "Se a bomba é de
efeito moral, joga no Congresso".
E o
plebiscito? Proponho fazer um plebiscito para saber se a gente quer um
plebiscito. Um PRÉbliscito! O cúmulo da democracia. E claro que gostei da IDEIA
do plebiscito. Quando os políticos entram em pânico, a ideia é boa!
E os
cartazes "Fora Feliciano"! "Feliciano, não nos esquecemos de você!
É que estamos limpando uma merda por vez." "Feliciano, isso é orgulho
ferido de um fiofó não comido." "Feliciano, me dê um atestado, hoje
acordei sapata." Rarará!
E um
gay: "Tá bom, quero me curar; aí vou ao médico e ele me receita o quê?
Comer duas pererecas por dia?".
"Não
me curem, não tenho roupa pra ser hétero". Vai pra Colombo e pra Vila
Romana! E não
se muda o Brasil com rancor, mas com humor!
Nóis
sofre, mas nóis goza.
Que
eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
MIGUEL
SROUGI
Depredando a saúde da nação
As
propostas para a saúde feitas pelo governo federal são piores do que os depredadores
soltos pelas ruas, já que destroem vidas humanas
Como
cidadão, fiquei deslumbrado com o clamor que varre a nação. Como médico, e
ligado à saúde, mergulhei em esperanças. Contudo, com a mesma velocidade que
esse sentimento aflorou, fui tomado por uma angústia incontida ao observar as
manifestações oficiais.
Anunciou-se
solenemente que seriam importados milhares de médicos estrangeiros e injetados
R$ 7 bilhões em hospitais e unidades de saúde. Também se propôs a troca de R$ 4,8
bilhões de dívidas dos hospitais filantrópicos por atendimento médico e foi anunciada
a criação de 11.400 vagas de graduação em escolas médicas.
Perplexo,
gostaria de dizer que essas propostas são tão surrealistas que não podem ter
sido idealizadas por autoridades sérias, mas sim por marqueteiros afeitos à empulhação.
Piores do que os depredadores soltos pelas ruas, já que destroem vidas humanas.
A
medicina exercida condignamente pressupõe equipes qualificadas, não apenas com
médicos, mas também com enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. Exige
instalações minimamente equipadas, para permitir diagnósticos e tratamentos
mais simples.
Necessita
do apoio de farmácias, capazes de prover sem ônus para os necessitados, as
medicações essenciais. Requer processos de higiene, assepsia e certo conforto,
para dar segurança e respeitar a dignidade humana dos pacientes.
O
que farão os médicos estrangeiros nas áreas remotas do Brasil apenas com termômetros
e estetoscópios nas mãos? Irão receitar analgésicos, antidiarreicos e remédios
para tosse, o que poderia ser mais bem executado por qualquer prático de farmácia,
também afeito às doenças regionais. Médicos que nos casos mais delicados nem
atestado de óbito poderão assinar, pois não conseguirão identificar a causa da
infelicidade.
Pior
ainda, como esses médicos conseguirão atuar limitados pela dificuldade de
comunicação, desqualificados para tratar doenças já erradicadas em países sérios,
frustrados por viverem em regiões destituídas de condições mais dignas de existência
para eles próprios, suas mulheres e seus filhos? Certamente tratarão de migrar
para centros mais prósperos, abandonando aqueles que nunca conseguirão
expressar a desilusão.
Não
custa lembrar que muitos países desenvolvidos aceitam médicos estrangeiros,
contudo nenhum deles atua sem ser aprovado em exames extremamente rigorosos,
que atestam a elevada competência profissional.
Igualmente
falaciosa é a proposta de incrementar os recursos para a saúde. Num país como o
Brasil, que gasta apenas 8,7% do seu Orçamento em saúde --muito menos que a
Argentina (20,4%) e Colômbia (18,2%)-- somente mal-intencionados poderão
acreditar que um aporte de recursos de 0,7% corrigirá a indecência nacional.
Também
enganadora é a ideia de se recorrer às instituições filantrópicas. Em situação
falimentar, deixam de pagar tributos porque não recebem do governo federal os
valores justos pelo trabalho. Pelo mesmo motivo, serão incapazes de aumentar o
já precário atendimento.
Quanto
à criação de novas vagas para alunos de medicina, nada mais irrealista. Para
acomodar os números apresentados, o governo teria que criar entre 120 e 150
escolas médicas. Com que recursos? Com que professores? Com que hospitais?
Presidente,
termino pedindo desculpas pela minha insolência. Você, que é digna e tem história,
não pode tergiversar perante o clamor de tantos filhos da nação. Faça ouvidos
moucos ao embuste e combata de forma sincera os malfeitos.
Assuma,
de forma sincera e não dissimulada, a determinação política de priorizar os
recursos para as áreas sociais. Para não ser tomada por angústia infinita ao
cruzar com a multidão, entoando com indignação o canto de Chico Buarque: "Você
que inventou a tristeza/ Ora, tenha a fineza/ De desinventar/ Você vai pagar e é
em dobro/ Cada lágrima rolada/ Nesse meu penar".
MIGUEL
SROUGI, 66, pós-graduado em urologia pela Universidade de Harvard, é professor
titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP e presidente do conselho do
Instituto Criança é Vida
ELIANE
CANTANHÊDE
Dilma em chamas
BRASÍLIA
- O Datafolha confirma para o leitor/eleitor o que oposições, Planalto e Lula já
sabiam: a popularidade de Dilma esfarela e a reeleição vai para o beleléu. Uma
queda de 27 pontos pode ser mortal.
Não
foi por falta de aviso. Dilma entrou mal em 2013, autoconfiante com os recordes
nas pesquisas, surda para o baixo crescimento com inflação alta, muda para os
políticos e estridente com os auxiliares.
A
popularidade já tinha despencado oito pontos antes mesmo das manifestações,
pela falta de comando político e de rumo na economia. A explosão social fechou
o cerco.
E não
houve má vontade da mídia, tão demonizada no poder. Telejornais e jornais
resistiram a admitir que a crise batia à porta da presidente, mesmo com o
Planalto cercado na quinta-feira aguda. Não foi só o Exército que protegeu
Dilma...
Mas
o presidencialismo brasileiro é muito concentrador, e os louros e as culpas de
tudo e qualquer coisa são sempre do (da) presidente. Dilma ainda pode se
recuperar em parte, mas a abstrata reforma política não sensibiliza as massas e
ela nunca mais será a mesma.
A
perda de mais da metade da popularidade (8 mais 27) deixa o PT em pânico,
desequilibra as peças no PMDB e mexe com os cálculos de toda ordem na complexa
base aliada.
Do
outro lado, reacende a candidatura Eduardo Campos, dá gás a Marina Silva e cria
a sensação de "agora vai" na campanha de Aécio Neves, em que as atenções
estão no PMDB, que tem faro para o poder.
Dilma
ofendeu o vice Temer com a "barbeiragem" da constituinte exclusiva,
bateu de frente com o deputado Eduardo Cunha, que manda na bancada, e não tem
ideia do efeito arrastão que o PMDB pode ter nos outros partidos aliados.
Mas
o mais devastador para Dilma é o efeito em Lula. Calado estava, calado continua.
Soltou nota burocrática na sexta-feira e escafedeu-se para Lilongwe e Adis
Abeba. Posto a salvo, enquanto Dilma vira cinzas.
sábado, 29 de junho de 2013
30
de junho de 2013 | N° 17477
MARTHA
MEDEIROS
Anjos
Vou
compartilhar uma história que aconteceu no final de fevereiro. Recebi um
convite para integrar a equipe de uma instituição britânica liderada pelo
filósofo e escritor Alain de Botton, a The School of Life, que está
introduzindo atividades no Brasil. Topei. No entanto, meu inglês é precário.
Consigo
viajar sem pagar micos, me comunico em hotéis e restaurantes, mas não tenho
fluência para manter uma conversa digna com um estrangeiro. E isso será
fundamental no novo desafio profissional que me surgiu. Preciso aprender inglês
pra ontem. Como? De preferência, estudando fora, fazendo um curso de imersão.
Até então, isso nunca tinha passado de um sonho da juventude.
Dias
depois de a The School of Life me procurar, recebi outro convite: lançar meus
livros em Torres. Passei quase três horas autografando para veranistas e
moradores da cidade. Quando a livraria estava fechando a porta, um homem
insistiu em entrar. Um turista. Ele pediu minha dedicatória, a última da noite,
e me entregou seu cartão.
Era,
simplesmente, um renomado gestor de cursos de inglês no Exterior. O procurei na
semana seguinte e, para encurtar a história, estou matriculada em uma das
escolas mais sérias da Inglaterra, já tenho um flat alugado e estou com toda a
burocracia resolvida. De quebra, fiz um novo amigo.
Esse
tipo de história é recorrente na minha vida. Qualquer questão que se apresente,
a solução cai do céu em dias, às vezes em horas, através de alguém que não
conheço. O exemplo que dei é elitista, mas já aconteceram coisas bem mais
prosaicas e milagrosas – nunca me apertei. Sempre um anjo apareceu do nada.
Pode-se
chamar isso de ter sorte, ou uma boa estrela. Dá no mesmo. Estamos falando de
receptividade e de doação. Você tem um anjo porque também já foi o anjo de
alguém. E se tudo não passar de baboseira, que seja. Num mundo rude como o
nosso, há que se flertar com o esotérico.
No
momento em que você me lê, já estou em Londres. Amanhã começam minhas aulas e
não vai ser moleza: serão seis horas por dia, afora os temas de casa e alguns
compromissos com a The School of Life, a entidade que deu início a essa minha
movimentação. Por isso, ficarei ausente do jornal durante todo o mês de julho.
Prometo retornar em agosto mais inspirada e, se os anjos ajudarem, reencontrar
vocês com saudades. Até breve.
30
de junho de 2013 | N° 17477
CARTA
DA EDITORA | MARTA GLEICH
COMOFAZ - Um novo
país
Como
será o Brasil pós-manifestações? O que está sendo pedido? O que é possível
atender e como?
Desde
terça-feira, para tentar responder a essas perguntas, Zero Hora vem publicando
a série #COMOFAZ. Inspirada nos cartazes levantados nos protestos, reportagens
em profundidade abordam os temas mais frequentes, ouvindo especialistas.
Já
foram publicados os temas redução das tarifas de transporte público, melhores
escolas, convocação de uma Constituinte, PEC 37, combate à corrupção, saúde de
qualidade, reforma política, melhorias no Interior, Copa do Mundo.
Uma
das missões de um jornal é justamente abrir suas páginas para o debate de
soluções para problemas da comunidade. Neste momento em que o Brasil clama por
mudanças, Zero Hora se propõe, além de cobrir os fatos do dia – as passeatas, a
reação do Executivo e do Legislativo etc. –, a espelhar as reivindicações das
ruas e discutir, com fontes especializadas nos assuntos, como viabilizar as
mudanças.
Nesta
edição, publicamos, à página 12, um resumo da série. Você também encontra a
íntegra das reportagens no site zhora.co/comofaz2706
Você
já espiou a nova ZH TV? Desde o final de semana passado, Zero Hora organizou
seus conteúdos multimídia em um novo canal. Ali, o usuário encontra histórias
do cotidiano, entrevistas, notícias, comentários dos colunistas.
Há
desde vídeos-minuto, com notícias curtas, até webdocumentários, além de uma
programação semanal que inclui Pós-jogo ZH, com Luiz Zini Pires, na
segunda-feira; Papo de Economia, com Bela Hammes, na terça; Conversa de
Elevador, com Tulio Milman, na quarta; No Mundo das Lutas, com Caju Freitas, e
1 Minuto pro Fíndi, com os jornalistas do Segundo Caderno, na quinta; Receita
Gastrô, com Bete Duarte, na sexta, e zh.doc, uma videorreportagem completa com
análise de um dos principais assuntos da semana, no sábado, apresentado pela
editora Marlise Brenol. Confira em www.zerohora.tv.
A
leitora Solange Giacomini enviou um e-mail criticando a forma como utilizei seu
nome e sua pergunta na semana passada. Para os leitores entenderem, baseei a
carta numa pergunta que ela fez ao colunista Tulio Milman (“Alguém deste jornal
poderia me explicar por que o povo pode se manifestar em todas as ruas, só na
Ipiranga que não?”) e na resposta do jornalista, dizendo que não há nada contra
manifestações pacíficas em frente ao jornal, mas que havia informações de
grupos que queriam invadir e incendiar o prédio de Zero Hora, onde trabalham
centenas de pessoas.
A
pedido de Solange, publico aqui sua mensagem: “Por um lado, fico muito feliz de
que um e-mail, com uma simples pergunta, tenha inspirado uma jornalista a
escrever uma carta. Por outro, fico triste ao ver que te apropriaste de um
e-mail particularmente enviado ao Tulio, deturpando-o e manipulando-o (isto é o
que eu considero vandalismo da palavra) para colocar as tuas ideias. Talvez
seja por este tipo de jornalismo que o jornal seja um alvo dos manifestantes. A
forma com que abordaste o assunto faz crer que aprovo vandalismos e o silêncio
da imprensa.
Se,
porém, tivesses lido, ou se ele tivesse te mostrado minha resposta ao e-mail
dele, verias que sou totalmente contra qualquer tipo de vandalismo ou violência
contra ninguém e, neste ninguém, inclui-se a imprensa, pois vocês não são
diferentes e somos todos iguais. A pergunta foi simples e não citava nem jornalistas
nem a RBS. Lamentável que tenhas tomado para si o que era público, já que na
Avenida Ipiranga existem milhares de pessoas além dos funcionários da RBS.”
Durante
a semana, eu e Solange trocamos vários e-mails. Respeito sua visão. De forma
alguma quis me apropriar de uma correspondência particular. Como diretora de
Redação, não podia deixar de assumir a responsabilidade de responder, a ela e a
outros leitores, à pergunta “alguém deste jornal poderia me explicar...”. Por
isso resolvi transformar a questão em esclarecimento público. Mais uma vez
quero agradecer a Solange pelo debate construtivo que tivemos durante a semana
e pela oportunidade de apresentá-lo aos nossos leitores.
30
de junho de 2013 | N° 17477
PAULO
SANT’ANA
Saiu
Luxemburgo
Foi
demitido Vanderlei Luxemburgo. Ou demitiu-se. Há muito tempo que havia um
rompimento ideológico entre a direção e o treinador. Ele só não tinha sido
demitido porque o Grêmio não tinha dinheiro para pagar-lhe a multa milionária.
Há
muito tempo que escrevi sobre os absurdos que ele vinha fazendo, que iam
culminar com a sua demissão.
Vem
de Brasília esta notícia: há um movimento lá, entre políticos e governos, para
realizar um plebiscito e uma reforma política. É muito antiga a sugestão, mas
ela agora se renova: querem adotar o voto em lista.
O
voto em lista é o seguinte: cada partido faz uma lista de seus candidatos a
vereador, a deputado estadual e a deputado federal. A lista tem numeração, 1,
2, 3, 4, e aí por diante, até quantos forem os candidatos de cada partido.
Por
exemplo, se for apurado na legenda que o partido terá direito a eleger um
deputado, só será eleito o número 1 da lista. Se, no entanto, tiver direito a
eleger 20 deputados, os 20 primeiros da lista serão eleitos. E os seguintes aos
primeiros 20 não serão eleitos.
Ou
seja, reparem bem no engodo a que querem nos submeter: quem, afinal, escolherá
os eleitos serão os partidos e não os eleitores. Vai acontecer, com isso, que
nós vamos votar em determinados candidatos que no entanto não serão eleitos
porque não estarão entre os primeiros da lista.
Quer
dizer então que votaremos em um candidato e será eleito outro. Votaremos em
Fulano e será eleito o Sicrano. E o Sicrano será aquele que o partido colocar
na frente de sua lista.
Advirto
os leitores: não entrem nessa fria!
Isso
visa a apenas eternizar entre os eleitos os preferidos dos partidos, os
escolhidos pelas corriolas para serem eleitos por serem os primeiros das
listas.
Não
entrem nessa fria.
Nada
de voto em lista. Até vou adiante: é muito aconselhável que adotemos nessa tal
de reforma política que estão engendrando uma ideia que está sendo apoiada pelo
governador Tarso Genro: que seja possível aos eleitores votar em candidatos sem
partido. Isso, sim, é uma boa ideia e temos de apoiá-la, ela acaba com o curral
eleitoral e estende aos candidatos o direito de se candidatar sem passar pela
peneira partidária, que muitas vezes exclui da lista dos partidos candidatos
que tomariam o lugar dos apaniguados.
Grande
ideia! Voto em lista, não esqueçam brasileiros, é um pega-ratão. É uma tramoia,
um estratagema de alguns políticos para favorecer a nata partidária que domina
as siglas.
Só o
que faltava era agora o povo brasileiro se atirar a essas manifestações
sublimes pelas ruas, só manchadas por uma minoria de vândalos e saqueadores,
que se infiltram solertemente entre os legítimos manifestantes, para então
recebermos essa bola nas costas denominada de voto em lista como “recompensa”
para esse sacrifício.
O
voto em lista é um cavalo de troia, pelo amor de Deus, não caiamos nessa esparrela.
E
notem bem o truque: em todas as listagens sobre as modificações hipotéticas que
poderão ocorrer com a reforma política, o voto em lista aparece em primeiro
lugar.
É
pega-ratão. Não caiam nessa! Não mordam esse queijo, pois assim ficarão presos
na ratoeira.
30
de junho de 2013 | N° 17477
O
CÓDIGO DAVID | DAVID COIMBRA
A mãe, o menino, a bola e o
mar
A
praia do Leme estava vazia de gente. A paisagem era feita apenas de sol ameno,
areia morna e as ondas do mar que iam e vinham, iam e vinham. Só havia ali uma
jovem mãe e seu filhinho de uns cinco anos de idade. Ela, de biquíni listrado,
parada de pé, de costas para o oceano, as mãos à cintura, olhando para o
menino.
O
menino olhava para uma bola.
Uma
goleira, que no Rio eles chamam de baliza, tinha sido plantada a alguns metros
do menino e da bola. Havia uma bicicleta encostada na trave esquerda da
goleira. O menino recuou alguns passos da bola, sempre olhando para ela. Como a
mãe, também pôs as mãos à cintura.
Ia
bater um pênalti.
A
bicicleta apoiada na trave me inquietou. Pelo menos metade da bicicleta, uma
grande bicicleta decerto usada pela mãe para levar o filho até a praia em
pedaladas preguiçosas, pois pelo menos metade da bicicleta invadia a goleira.
Se o menino chutasse para a esquerda, era grande a chance de acertar a
bicicleta e não marcar o gol. Por que eles não apoiaram a bicicleta em outra
coisa?
Mas
não havia nada onde apoiá-la. Havia só a areia morna, o sol ameno e as ondas
que iam e vinham. A bicicleta provavelmente não era dotada daquelas pequenas
alavancas que deixam bicicletas de pé. Ou ficava encostada em uma das traves da
goleira ou jazia ao chão, como que abandonada. Não, uma mãe ciosa não deixaria
a bicicleta abandonada. Uma mãe não larga as coisas no chão. Assim, o risco de
o menino errar o pênalti era real.
A
mãe o observava, e não ria. O menino continuava com o olhar fixo na bola. E
também não ria. Então, respirou fundo. Partiria para o chute. A mãe esticou o
pescoço levemente para frente, supus que apreensiva.
Ele
arrancou em direção à bola. Pela forma como enquadrou o corpo, percebi que era
destro. Correu com a convicção de quem está acostumado a correr na areia.
Correu, correu e parou. Fincou o pé esquerdo ao lado da bola e, com o direito,
bateu de chapa, com o ossinho do lado de dentro, feito um Zico, e a bola alçou
voo mais ou menos à altura da cabeça dele, e viajou, rápida e macia, para o
canto certo, o canto direito, e aninhou-se no fundo da rede. Gol.
Gol!
A mãe ergueu os braços e gritou:
– Gol!
Ele saiu pulando e rindo, gritando: – Gol!
Buscou
a bola no fundo da rede, enquanto a mãe lhe dava as costas e caminhava rumo ao
mar. Ela parou e sentou-se na areia. O menino a alcançou e sentou-se ao lado
dela, em cima da bola. E ficaram os dois olhando em silêncio para as ondas que
iam e vinham, iam e vinham.
A
vantagem do Brasil
Há
um fator bastante favorável ao Brasil na decisão deste domingo. É o seguinte:
nunca vi a Seleção Brasileira perder um jogo em que entra como zebra.
Nunca
vi.
É
claro que o melhor seria a Espanha ter goleado a Itália. Não foi assim, ao
contrário, a Itália mostrou que cachorro grande sempre late grosso. A dureza do
jogo semifinal faz com que a Espanha entre no Maracanã meio que sob suspeita,
mas, mesmo com alguma dúvida, ela ainda é a favorita.
Pois
esse favoritismo é o que pode fazer o Brasil crescer. Nunca houve, não há nem
jamais haverá time no mundo que pise num campo de futebol sem temer o
enfrentamento com a Seleção Brasileira.
O
peixe
Na
ponta da Praia do Leme existe o Caminho dos Pescadores. É um caminho esculpido
na pedra do morro, que vai circundando a encosta e invade o mar. O parapeito é
mínimo, coisa de meio metro de altura, algum incauto já deve ter desabado nas
ondas lá embaixo, e aquelas são ondas ameaçadoras, arremetem nos recifes e
rugem como leões na noite da savana.
Outro
dia, vi uma pescadora puxar do mar um grande peixe, grande pelo menos para mim:
era um peixe do tamanho de um cachorro, não sei de que tipo, eu que só conheço
peixes quando eles vêm mortos, no prato, de preferência com molho bechamel.
Aquele
peixe, de qualquer forma, era um belo exemplar de peixe. Uma magnífica criatura
prateada e reluzente, um animal cheio de vigor, que parecia espantado por ter
sido arrancado de seu meio. Ele arfava com ânsia de vida, respirava com gana e
se debatia com tamanha teimosia que parecia ter esperança de salvação. Cheguei
a pensar: vou ali, compro o peixe e o devolvo ao mar. Mas não o fiz.
Caminhei
mais um pouco, até a ponta do Caminho dos Pescadores. Olhei para o Cristo lá
adiante, atrás dos edifícios, atirei o olhar no oceano imenso, ouvi o bramido
das ondas. E a imagem do peixe em agonia não me saía da cabeça. Voltei em
direção à praia, esperando ver de novo a pescadora. E, de fato, lá estava ela,
lá adiante. Estava agachada, lidando com algo posto no chão. Seria o peixe?
Apressei
o passo. Fui me aproximando. Aproximando. Quando cheguei perto, vi que,
realmente, ela segurava o peixe com uma mão e, com a outra, manuseava uma faca.
Havia aberto a barriga do peixe e, enquanto trabalhava eviscerando-o, ria e
conversava com outros pescadores. Fazia isso não com frieza; com naturalidade.
Aquele peixe, tão ansioso de vida, morrera sem um olhar de piedade, sem
qualquer ponderação.
Eu
devia saber. O mundo não faz ponderações.
30
de junho de 2013 | N° 17477
CARO
E INSUFICIENTE
A decadência do transporte
público
Um
relatório do poder público sobre o serviço de ônibus oferecido aos gaúchos
mostra que, na Capital, a tarifa é cara (cresceu muito acima da inflação), a
frota aumentou muito pouco nos últimos anos e o número de passageiros cai ano
após ano. Resultado disso é um crescimento vertiginoso no índice de
reclamações.
A
percepção do porto-alegrense de que o transporte público se apequenou, com
tarifa alta, serviço insuficiente e falta de qualidade, é confirmada pela
exatidão indesmentível dos números. A começar pelo bolso de quem paga para
andar de ônibus. A Capital pratica o segundo bilhete mais caro do país – há 10
anos oscilava entre a 12ª e a 14ª posição.
Não
foi sem propósito que Porto Alegre efervesceu como o embrião dos protestos que
eclodiram pelo Brasil contra a tarifa do transporte coletivo. Durante a
vigência do real como moeda, de 1994 até o ano passado, a passagem de ônibus
subiu duas vezes mais que a inflação. Foram 670,27% em tarifaços, enquanto o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 299,61%.
Tarifa
exagerada não significou, como se poderia imaginar, melhoria no atendimento.
Dados da própria Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) apontam que
cresceu o descontentamento dos passageiros. O total de reclamações, sobre os
mais variados motivos, pulou de 7,9 mil (em 2004) para 20,2 mil (2011).
O
estrilo é mais alarmante naquilo que inferniza a vida do usuário – a
superlotação, o descumprimento de horários e os atrasos nas viagens. Em 2011,
mais de 7,9 mil se queixaram destes itens, em um aumento de 430% em relação a 2004.
O
que acontece em Porto Alegre não é isolado. O professor de Engenharia da
Universidade de Brasília (UnB) Joaquim José de Aragão lamenta que a mobilidade
urbana nunca frequentou a agenda dos governantes. Não como deveria. Diante da
inépcia das autoridades, Aragão diz que os empresários assumiram o controle.
–
Começaram a tomar o poder, a ponto de se tornarem planejadores. E, para eles,
transporte bom é com ônibus cheio, e o passageiro que se vire – critica.
Outro
indicativo da decadência no transporte público de Porto Alegre é a queda no
número de passageiros. Nos últimos 15 anos, houve uma redução de 6,6 milhões de
bilhetes, na média mensal. Em 1998, quando a Capital tinha 1,3 milhão de
habitantes, eram 25,9 milhões de passagens por mês. Em 2012, com 1,4 milhão de
habitantes, o movimento caiu para 19,3 milhões.
Várias
causas explicam o esvaziamento. Uma delas é a melhor renda do brasileiro, que
foi incentivado a comprar o automóvel ou a motocicleta. Para o professor do
Laboratório de Sistemas de Transportes (Lastran) da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, a motorização em massa gerou um
desequilíbrio, o qual se refletiu na alta das tarifas.
– A
redução da demanda pode ser a maior causa do aumento na passagem – observa
Albano, lembrando que há menos clientes para ratear o custo do bilhete.
Se
carros e motos invadiram as ruas, a frota de ônibus não acompanhou a expansão.
Houve uma renovação – a idade média dos veículos é de quatro anos –, mas não a
ampliação da oferta de assentos.
Mas
como fazer com que as pessoas deixem o carro na garagem e peguem o ônibus? O
diretor presidente da EPTC, Vanderlei Cappellari, diz que a estratégia é o
investimento em outros tipos de transporte. A grande aposta é o projeto do
metrô, de 25,8 quilômetros de extensão, que ligaria o Centro à Zona Norte.
Outra
é o sistema BRT (na sigla em inglês, transporte rápido de ônibus). Em obras
para a Copa de 2014, o BRT vai estender os atuais 55 quilômetros de corredores
para 120 quilômetros. Na avaliação de Cappellari, quando o complexo estiver
interligado e operando, o porto-alegrense terá o desejável para se mover.
nilson.mariano@zerohora.com.br
WALCYR
CARRASCO
Fé e fofoca
Um
dos meus livros prediletos é Os miseráveis, de Victor Hugo, do século XIX.
Creio que um dos trabalhos mais apaixonantes da minha vida foi traduzi-lo e
adaptá-lo para jovens. Uma das passagens mais marcantes, descrita em detalhes
no original, fala do poder da fofoca.
Fantine
é mãe solteira e deixou sua filha, a menina Cosette, aos cuidados de um casal,
a certa distância da cidade onde se fixou. Trabalha como operária e envia quase
tudo o que ganha para o sustento da menina. Só que não sabe ler e escrever.
Recorre a um profissional para redigir suas cartas e ouvir as respostas.
As
colegas de trabalho desconfiam. Para quem tantas cartas, afinal? Convencem o
homem que as escreve não a revelar seu conteúdo – ele é discreto –, mas a
fornecer o endereço para onde são enviadas. Uma delas, então, viaja às próprias
custas para apurar a história. Volta com a satisfação de “saber de tudo”. Conta
o que sabe para todas.
Estigmatizada
numa época em que ser mãe solteira era uma desonra, Fantine briga com as
outras. É demitida por moralismo. Acaba nas ruas como prostituta. Quem leu o
livro, viu algum dos filmes ou versões teatrais inspirados na obra sabe que ela
vende os dentes e cabelos para depois morrer tragicamente. Onde começou toda a
sua via-crúcis? Na curiosidade sobre a vida alheia.
A
fofoca é a base da tese da “cura gay”: maléfica, preconceituosa, com o poder de
destruir vidas
Acredito
que a fofoca é maléfica. É fundamentada no preconceito. Tem o poder de destruir
vidas. Em sua primeira peça de teatro, em 1934, a escritora americana Lilian
Hellman (1905-1984) aborda o tema. A peça, The children’s hour, foi sucesso na
Broadway e ganhou versão cinematográfica com as estrelas da época, Audrey Hepburn
e Shirley MacLaine. Aqui no Brasil, o filme ganhou o título de Infâmia.
(Procurem, vale a pena ver.) Narra a história de duas mulheres, sócias
fundadoras de uma escola infantil nos Estados Unidos. Uma aluna as acusa de ter
uma relação homossexual. Não têm, de fato.
Mas
a avó da garota espalha a fofoca na comunidade. Perdem os alunos, quebram
financeiramente e, finalmente, uma delas se suicida. Histórias como essa são
frequentes. No mundo artístico, encontro jovens que deixaram a cidade distante
onde viviam, porque não suportavam mais os falatórios.
Certa
vez, em visita à pequena Bernardino de Campos, interior de São Paulo, onde
nasci, conversei com um rapaz de cabelos pintados de verde, num estilo meio
punk, cuja família se mudara para lá. Fazia faculdade, mas queria voltar a São
Paulo, onde trabalhava como motorista. Eu me espantei:
–
Prefere o trânsito de São Paulo a terminar um curso universitário, ter uma
carreira?
–
Aqui, meu cabelo virou até notícia na rádio – respondeu ele.
Por
que falo sobre tudo isso?
Sim,
sei que a proposta de “cura gay”, do deputado Marco Feliciano, já foi muito
comentada. Seria chover no molhado dizer quanto isso nos ridiculariza
internacionalmente, já que a Organização Mundial da Saúde não classifica a
homoafetividade como doença e, portanto, não se trata de algo a curar. Mas
quero olhar a questão por outro ângulo. Todo esse movimento liderado por
Feliciano, entre os evangélicos, e pela deputada Myrian Rios, como católica
carismática, entre outros, não pode ser confundido com fé.
É
uma enorme curiosidade pela vida alheia. Como fofoca transformada em questão
política. Convivo com esse tipo de comportamento não é de hoje. Tenho uma tia
que frequenta a igreja Assembleia de Deus.
Nunca
corta os cabelos, devido a uma interpretação do Velho Testamento, em que eles
são descritos como “véu da mulher” – embora nada proíba Feliciano de depilar as
sobrancelhas. Adolescente, eu morava em Marília, interior de São Paulo. Uma
jovem evangélica da Assembleia deixou de ser virgem. A fofoca se espalhou no
templo. A moça foi expulsa publicamente da igreja. Não é o primeiro preceito
cristão acolher os pecadores?
Normatizar
a vida dos fiéis é exercer poder sobre eles. Esse poder é exercido pela fofoca
entre os membros da comunidade religiosa, que passam a controlar o
comportamento uns dos outros. Trazer esse tema, da igreja, para a política, é
um acinte para a sociedade. Quanto mais se fala em “cura gay”, mais cresce o
preconceito. E o preconceito estimula a fofoca, o controle sobre o comportamento
alheio. É um risco para quem acredita nas liberdades individuais.
Inevitavelmente surgirão novas vítimas, como a Fantine de Victor Hugo.
29
de junho de 2013 | N° 17476
NILSON
SOUZA
Cartazes com
crases
Depois
que os velhos começaram a entrar no Facebook, os jovens saíram para as ruas.
Digo isso por mim: não paro de receber pedidos de confirmação de amizade de
gente da minha idade. Em breve, tomaremos conta desse brinquedinho inventado
pelo tal Zuckerberg, que no ano que vem passará para o nosso lado. Vai fazer 30
anos, a fronteira da confiabilidade. Pelo menos é o que dizia uma frase
emblemática dos meus tempos de juventude, imortalizada na canção de Marcos
Valle, este prestes a completar 70:
–
Não confie em ninguém com mais de 30 anos.
Força,
portanto, para os que ainda não chegaram lá. É animador ver a garotada
envolvida com os problemas do país. Quem não se emociona ao ver tantos rostos
adolescentes semiencobertos pelas máscaras da insatisfação, ou pintados de
verde e amarelo, gritando por mudanças?
Para
ingressar no novo mundo da consciência social, muitos levaram com eles a mesma
estratégia da comunicação digital que utilizam cotidianamente. Todos querem ser
vistos e ter suas mensagens comentadas. Embora o romantismo inicial já comece a
ser substituído pela realidade, pelas manipulações político-ideológicas, pela
violência e até pelo desencanto, ainda acredito que muita coisa boa ficará
desta surpreendente revolução comandada pelo anonimato coletivo das redes
sociais.
Uma
delas é a reafirmação da língua portuguesa. Achávamos que a garotada só se
comunicava em internetês, com palavras abreviadas e uso confuso dos símbolos
gráficos do idioma. De repente, começaram a surgir cartazes com mensagens bem
escritas e bem-humoradas, com verbo, predicado e complemento (como se dizia
antigamente), com vírgulas no lugar certo e até com crases apropriadas.
A
parte mais empolgante das manifestações, para mim, era aquele momento em que
meninos e meninas chegavam cedo ao local da concentração munidos de cartolinas
e canetas coloridas para redigir suas mensagens em praça pública. Muitos faziam
esse trabalho em casa, pesquisando poesias, trechos do Hino Nacional ou frases
de artistas e pensadores célebres. Só nisso já tivemos um ganho cultural
incomensurável.
Pena
que agora já comecem a prevalecer faixas e cartazes impressos em gráficas,
reproduzidos em série, expressão inequívoca de grupos organizados que tentam
pegar carona na espontaneidade da juventude. Dê no que der, porém, aqueles
primeiros cartazes ficarão como registro dessa energia criativa que surpreendeu
o país e o mundo. Em bom português.
29
de junho de 2013 | N° 17476
PAULO
SANT’ANA
O novo
restaurante
O
sofrimento virou meu modo de viver. Piada colhida na internet: “Se a ‘cura gay’
depender do SUS, o povo vai morrer veado”. Pergunto aos leitores de Zero Hora:
não notaram que o jornal melhorou de 45 dias para cá? Eu notei essa visível
melhora nos textos, na diagramação das páginas, nos títulos.
Tentei
vasculhar as causas dessa melhora. E, como faz exatamente 45 dias que foi
inaugurado o novo restaurante da RBS, só posso atribuir a isso a melhor
qualidade de ZH no último mês e meio.
Nosso
novo restaurante é amplo, um ambiente arejado e limpíssimo, dotado de mobiliário
moderno, os diretores se misturam aos funcionários nas mesas, o cardápio sofreu
modificações para melhor, maior variedade nos pratos, tudo isso servido aos
funcionários ao preço em redor dos R$ 2, imaginem que barbada.
Um
funcionário de ZH procurou o também novo presidente da RBS, Eduardo Melzer, e
solicitou-lhe o seguinte: “Presidente, se por acaso um dia o senhor me demitir
de ZH, permita que eu continue a fazer minhas refeições no novo restaurante.
Ah, ia me esquecendo: demita-me, mas mantenha também o meu seguro-saúde pago
pela empresa. Serei o desempregado mais feliz e amparado do mundo”.
O
presidente sorriu com a brincadeira.
Além
de tudo isso, é de se ressaltar a gentileza extrema dos funcionários do
restaurante, que assistem os convivas em todos os seus passos de escolhas de
pratos, sucos e sobremesas, uma festa a cada almoço ou janta que se desfruta,
visivelmente os servidores do novo restaurante foram treinados para serem
gentis.
Reconheçamos
que a RBS, assim, presta relevante serviço social e trabalhista. Dá gosto
trabalhar numa empresa como esta. E são cerca de 1,5 mil funcionários da RBS
que desfrutam dessa mordomia.
Além
disso, é inteligente a medida da direção da RBS: sem dúvida que, assim
tratados, os funcionários produzem mais e melhor em suas tarefas.
Descobri
um fato extraordinário a respeito disso que estou falando: é que encontrei
esses dias no novo restaurante o Adroaldo Guerra Filho. E perguntei a ele se
não estava de férias. Ele disse que sim, mas que vinha durante todos os dias de
férias fazer as refeições no novo restaurante da empresa. E disparou: “Só
porque estou de férias, não quer dizer que deixei de ser funcionário. Não vou
perder uma barbada dessas”. Outra coisa: os que estão em férias acham que comem
melhor, nas férias, no nosso restaurante. Que coisa, hein seu Nelson Sirotsky?
Viu o que o senhor arrumou para nós?
29
de junho de 2013 | N° 17476
DAVID
COIMBRA
Sorte
grande
Ovendedor
de loteria ofereceu-me um bilhete na calçada de Copacabana. Recusei num menear
de cabeça, e ele tentou o velho truque, e foi como se recuasse no tempo.
O
truque é tão pueril que chega a comover: o vendedor simplesmente deixa um
bilhete cair da mão, como se fosse distração, e vira-se, já indo embora. A
ideia é que você, para quem ele ofereceu o bilhete, agache-se e junte o caído
para devolvê-lo ao vendedor. Então, ele exclama:
– É
a sorte que está procurando por você! Este bilhete é seu! Ele quer ficar com
você!
Se
você diz que não quer comprar e insiste em devolvê-lo, ele não aceita:
– É
seu! É seu! Pode ficar com ele de graça. Não se brinca com a sorte. Você vai
ficar rico. Rico!
Aí
você se comove e não apenas paga pelo bilhete erguido do solo como compra os
outros pedaços.
Não
chega a ser um golpe, é mais um truque, e é antiquíssimo. Por isso recuei no
tempo vendo aquele bilhete fazer volutas no ar, como uma folha seca despegada
da árvore. Porque lembrei de um dia em que, menino, andava por uma rua de Porto
Alegre de mão com meu avô.
Na
nossa frente, um vendedor de loteria fez o mesmo gesto do vendedor de Copacabana,
oferecendo-nos o que na época se chamava Sorte Grande, e meu avô, como eu,
recusou num balançar de cabeça, e o bilhete se soltou da mão do vendedor e
aterrissou suavemente na calçada. Então, meu avô fez algo que jamais esperaria
dele: não se abaixou para colher o bilhete, apenas apontou-o com o bico do
sapato e avisou:
–
Teu bilhete.
E
saiu andando, puxando-me pela mão. Perguntei por que ele fizera assim, ele que
era sempre tão gentil com todos, e ele:
– É
golpe, é golpe.
Fiquei
muito apreensivo por ter sido uma quase vítima de golpe. Olhei para o vendedor,
reconhecendo nele um terrível vigarista, e até tive medo, e talvez tenha
sugerido ao meu avô que chamássemos a polícia, algo do gênero. Mas, agora,
vendo o vendedor carioca repetir um truque tão antigo e singelo, pensei que
isso só poderia acontecer aqui, nesse bairro envelhecido do Rio, que é
Copacabana, e até senti simpatia pelo sujeito. Parei de caminhar e olhei para
ele.
Era
parecido com o vendedor de loteria da minha infância. Podia se o mesmo homem,
com o mesmo bigode, a mesma postura de apoiar o corpo num pé só, o mesmo ar
solícito. Lembrei do meu avô. Deu-me uma nostalgia, uma saudade. O vendedor
sorriu para mim, esticando o braço com o bilhete.
– É
seu! – dizia. – É seu!
A
Sorte Grande. Tantos anos depois. A Sorte Grande. Quem sabe não era um sinal?
Quem sabe eu, agora, devesse fazer o que meu avô não fez, e enriqueceria, como
ele não enriqueceu? A Sorte Grande nos surgiu uma vez, mesmo que em forma de
engodo, e agora surgia de novo, chamando: vem. Por que não? Ou quem sabe eu
devesse comprar apenas em homenagem ao meu avô? Em homenagem a um passado
revivido por um segundo.
– É
seu! – ele repetia, abrindo ainda mais o sorriso.
Era
um sorriso fácil. Fácil demais. Que levou-me a pensar que meu avô era um
descrente, um homem que não confiava em sinais do acaso, um devoto da razão e,
tal qual ele faria e fez um dia, retomei o meu caminho, não sem antes dizer
para o vendedor:
– É
teu.
Os
grandes
Existem
quatro seleções que são sempre favoritas, em qualquer competição que entrem, em
qualquer jogo que disputem, mesmo que estejam em péssima fase, mesmo que os
adversários estejam em ótima fase. São elas:
Brasil
..Argentina ..Alemanha e Itália.
Essas
quatro seleções são como os 12 grandes times do Brasil. Nenhum outro time do
mundo, nem Barcelona, nem Real, nem Bayern, nem Milan, nenhum haverá de
enfrentar esses 12 grandes com certeza de que vai vencer. Esses 12 grandes,
qualquer um deles, podem ganhar tudo o que disputarem, até o Botafogo pode.
O
que quero dizer com isso é que a Espanha é melhor time, sim, mas o Brasil tem
boa chance de vencer. A Espanha não tem um Neymar. Xavi e Iniesta são craques,
mas são de natureza diferente.
São
craques da bola curta, daquilo que os argentinos chamam de enganche no
meio-campo. A Espanha precisa produzir um futebol de alta qualidade coletiva
para marcar gol; o Brasil, não. O Brasil é capaz de marcar num lampejo, num
lance único do jogador único. Como único será o jogo de amanhã, no Maracanã.
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