É necessário αbrir os olhos e perceber que αs coisαs boαs estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisαm de motivos nem os desejos de rαzão. O importαnte é αproveitαr o momento, pois α vidα estα nos olhos de quem sαbe ver. Tento me lembrαr, de tudo que vivi, o que tem por dentro, ninguém pode roubαr. Pois os diαs ruins, todo mundo tem já jurei prα mim, não desαnimαr, não ter mαis pressα , eu sei que o mundo vαi girar . . .Eu espero α minhα vez.
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
LUIZ FELIPE PONDÉ
Uma mulher linda
A pergunta que mata de medo as mulheres é: afinal, o que quer o homem numa mulher?
Recentemente participei de um debate sobre a trilogia "Cinquenta Tons".
Muitas críticas: típico best-seller que identifica um drama universal (o amor) e propõe uma solução "easy" (seja sadomasô light e o casamento virá); a srta. Steele (a heroína) não está a altura de Lady Chatterley (de D.H. Lawrence) nem das irmãs Justine e Juliette (do Marquês de Sade) nem da personagem de "História de O" (de Anne Desclos, sob o pseudônimo Pauline Réage), porque a srta. Steele se vende por um MacBook Pro, enquanto as outras são para valer. Tudo verdade.
O maior pecado de "Cinquenta Tons" é que ele vende uma fantasia: o homem ideal. Christian Grey é rico, bonito, inteligente, viril, experiente. Mas o fato é que as mulheres desejam mesmo homens fortes, viris, sensíveis até a página três, ricos não só de grana. Enfim, "Cinquenta Tons" vende porque fala para todas as mulheres, bobas, ignorantes, cultas ou críticas. Mas, como virou moda mentir, ninguém confessa.
Dias depois do debate, revi um filme idiota americano (como "Cinquenta Tons"), em que um milionário fodão (interpretado por Richard Gere) contrata uma garota de programa (Julia Roberts, ah! Se todas fossem iguais a você, Julia, que maravilha viver...) e acabam se apaixonando. Claro, o filme é "Uma Linda Mulher". A fórmula clara da gata borralheira do sexo que vira a esposa Cinderela.
Mas o longa é muito mais do que isso. Diante da crítica histérica de que é mais um filme machista (que sono...), vale notar que ele faz a pergunta que mata de medo as mulheres: afinal, o que quer o homem numa mulher?
Dirão as apressadas que o homem quer que a mulher traga uma cerveja e venha pelada. Errado: melhor de calcinha e salto alto. Seria a superficialidade masculina o último bastião da ideologia "dominante"? Bastião este que agrada a todas as mulheres porque as acalma: os homens só querem uma bunda!
O filme toca num tema atávico que deixa mesmo as meninas "críticas" de cabelo em pé: seria a garota de programa a mulher ideal?
O personagem de Gere é fodão. Ele sabe o que os fodões sabem: o mundo é repetitivo, e as pessoas são previsíveis. Querem dinheiro, reconhecimento e "serviços", e fazem qualquer coisa para conseguir, embora neguem.
Se, no fundo, todos estão à venda por "um programa" de sucesso, melhor sair com alguém mais honesto: a garota de programa é a mulher menos cara do mundo. Ela "só" quer dinheiro, e isso às vezes é uma bênção. Ela é a mulher ideal porque é a única diante da qual o homem relaxa.
Afinal, o que quer o homem numa mulher? Num dado momento do filme, Gere diz à bela Roberts: "As pessoas são previsíveis, mas você me surpreendeu" (não vou contar detalhes).
Não devemos menosprezar essa fala e o que acontece depois, o apaixonar-se pela garota de programa. Gere sabe o que diz: as pessoas são mesmo previsíveis. Mas hoje a moda é dizer que são todas "únicas".
La Roberts encanta o fodão porque ela não é óbvia, e a mulher óbvia só quer fodões.
Graças a ela, ele rompe o ciclo da desconfiança causada pela obviedade das mulheres, e graças a ele, ela se cansa de ser puta, porque a puta não é uma mulher de verdade.
Os homens sentem que as mulheres querem deles apenas sucesso (em todos os sentidos). Mas hoje virou moda dizer que isso não é verdade. Ficou pior porque continua sendo verdade, mas, quando o cara sente isso, ele deve se sentir um machista porque sabe disso.
O homem quer uma mulher para quem ele não tenha que ser o sr. Grey, mas a mulher não perdoa um homem fraco. A garota de programa perdoa porque "só" quer dinheiro.
A fraqueza masculina aniquila o desejo da mulher. Mas, como essa mulher ideal não existe (assim como o sr. Grey), o ideal acaba ficando colado ao corpo irreal da namorada "paga".
Mesmo sabendo que sr. Grey (um fodão) não existe, as mulheres não suportam homens que não se pareçam com ele, e esta é a verdade suprema de "Cinquenta Tons".
Por fim: uma amiga minha, psicóloga, me disse que muitos dos seus pacientes vêm ao consultório falar de como suas mães (fálicas) destroem seus pais (fracos).
São essas mulheres fálicas, segundo ela, que à noite gemem de solidão sonhando com o sr. Grey.
Óbvio?
ponde.folha@uol.com.br
Sentir o prazer e beleza no simples.
São conquistas nos
desafios...
Um crescimento dolorido com final
feliz!
Deixar aqui meus pensamentos e sentimentos,
tornou-se uma terapia e um crescimento
intelectual
e espiritual soltamos o que o nosso coração quer e
sente.
Tudo liberado a vida fica leve e calma.
Alma e corpo agradecem e continuam o caminho.
Sol Holme..
.
30
de setembro de 2013 | N° 17569
LIBERATO
VIEIRA DA CUNHA
Encontro marcado
Sem
que percebas, cada dia teu é um passo rumo a incerto fim. Foi assim na noite em
que adormeceste exausto, na nfância, depois de te investires cem vezes da
coragem do soldado, da ousadia do ladrão, sob a mirada de inveja da Lua, que
transitava no céu da cidade que perdeste.
Foi
assim na manhã em que, na adolescência, recém calados os acordes da festa,
desafiaste as vagas daquele trecho irado de mar e uma secreta corrente testou
tuas forças e quase te aprisionou em ocultos vórtices, onde moram corais e
celacantos.
E
foi assim na culpada tarde de tua primeira juventude em que desfaleceste,
saciado, no corpo nu de tua proibida amada e ela murmurou teu nome numa canção
de adeus.
Aqui
devo fazer ponto e vírgula.
Esse
texto aí em cima é o início de uma das 99 crônicas que compõem meu novo livro,
O Silêncio do Mundo. É a senha de um encontro que marco com meus leitores para
amanhã, às 19h, na Livraria Saraiva do Shopping Moinhos.
Tive
muito prazer em construí-lo. Reli, algo nostálgico, mais de 600 trabalhos
publicados nestas páginas de Zero Hora entre 2002 e o ano que vai fluindo para
escolher os selecionados. Foi uma viagem agradável com a única bússola das
frases e parágrafos que me falavam mais direto ao coração.
Escrever
crônicas é viver em voz alta, já dizia Rubem Braga. Ao reunir essas, dispersas
por 11 anos, percebi que foi o que me aconteceu. Notei também que nunca me
desnudei tanto. Falo, em O Silêncio do Mundo, de pessoas muito caras e muito
próximas; de cenas, momentos, faces, vozes, lembranças que se encadeiam no tom
de uma biografia interior; de vivências que no geral não se partilham. Teria
sido mais fácil pôr de lado incidentes e passagens mais reveladoras do homem
que sou, do que é minha caminhada pelo mundo. Preferi mantê-los, ou faltariam
peças do jogo de armar do autorretrato.
Paro
por aqui. Estas linhas me parecem de repente sérias. A vida não é séria.
A
vida também se compõe de umas doses de lirismo, de uns traços de humor, de
vinho e canto.
Não
cometi o pecado de esquecer essa parte da receita.
30
de setembro de 2013 | N° 17569
PAULO
SANT’ANA
Ópera bufa
Refletindo
melhor, foi brilhante a atitude do ministro Celso de Mello ao dar voto decisivo
a favor dos mensaleiros pelos embargos infringentes.
Ele
conseguiu jogar para a plateia antes, quando condenou rigorosamente todos os
mensaleiros, inclusive José Dirceu, mas também agora jogou para adular o poder,
decidindo com seu voto que o julgamento vai para as calendas, não haverá mais
justiça.
Precisa
ser mestre para fazer o que Celso de Mello fez: com uma mão agradou aos
cidadãos que clamam por justiça, com a outra afagou os poderosos, que só
sobrevivem com base na injustiça.
O
ministro Celso de Mello e o Supremo Tribunal Federal nos enganaram muito bem
com um excelente jogo duplo. São mestres na cena oblíqua de agradar ao mesmo
tempo aos vassalos integrantes da opinião pública e aos senhores do poder que
se banham nas águas cálidas da impunidade.
Esse
gesto do ministro Celso de Mello e do STF carrega o dom da ventriloquia, agrada
à plateia e aos donos do teatro ao mesmo tempo, dá uma martelada no prego e
outra na ferradura, magistral prestidigitação!
Eu,
veterano otário, por exemplo, saio realizado e contente com essa pantomima:
exultei com a falsa condenação dos poderosos.
E os
poderosos, logo em seguida, exultaram com a clemência da procrastinação
embromada e inocentatória dos embargos infringentes, no cerne absolutório.
Foram perfeitas a tragédia e a comédia engendradas e encenadas pelo veterano
ministro Celso de Mello e pelo STF.
Descansam
em paz os mensaleiros principais que não vão para a cadeia. Descansa em paz a
opinião pública que imaginou que se fez justiça ao serem condenados
interinamente os mensaleiros.
Só
não descansa em paz a Justiça como instituição, que fica com a fama de
continuar a não fazer justiça. Foram quase R$ 180 milhões que foram para os
bolsos dos mensaleiros, furtados da bolsa popular e que agora, num passe de
mágica, sumiram, não existiram, viraram pó.
Que
papel, ministro Celso de Mello!
Um
bufão de opereta clássica ou um ator dramático que representa Shakespeare não
fariam melhor. Que vitória do Grêmio ontem, Renato Portaluppi está adquirindo
sua maturidade como treinador.
Um
time que ganha fora é um time capacitado, e a audácia de Renato, escalando três
avantes, é responsável pela felicidade gremista deste momento.
30
de setembro de 2013 | N° 17569
KLEDIR
RAMIL
Ô, sorte
Minha
amiga Dani foi buscar a filha na escola e ficou sabendo que as aulas haviam
sido suspensas por conta de uma situação desagradável que havia acontecido.
Como estavam às vésperas do Dia do Pais, a atividade de classe para as
crianças, naquele dia, era recortar um pedaço de cartolina, fazer um cartão com
um desenho de próprio punho e escrever uma mensagem bonita. O problema começou
quando uma das meninas da sala perguntou para a professora como deveria fazer,
já que sua mãe é casada com outra mulher.
A
professora ficou atrapalhada e, sem saber como conduzir a conversa, retirou a
menina de sala e foi até a diretora, que coçou a cabeça e resolveu pedir a
ajuda da psicóloga. Conclusão: as mães da menina foram chamadas e, ao depararem
com aquele imbróglio humilhante, de inacreditável falta de tato, botaram a boca
no trombone e decidiram procurar outra escola para a filha. Com toda razão.
Minha
amiga aproveitou a oportunidade e, no caminho de volta para casa, abriu uma
conversa séria com a filha, tomando uma série de cuidados para não tropeçar nas
palavras.
–
Querida. Hoje em dia existem famílias diferentes, que não são assim como a
nossa, um pai e uma mãe. Algumas mães criam os filhos sozinhas, outras casam de
novo e as crianças ganham outros irmãos, filhos do novo pai. Às vezes, os pais
se separam e as crianças passam a viver em duas casas. Um pouco lá, um pouco
cá.
Seguiu
naquela ladainha, cheia de explicação, tentando conduzir um papo-cabeça e a
guria quieta, só escutando.
–
Então... Há situações em que o pai fica com a guarda dos filhos, ou a mãe, ou
os avós. E há outros modelos de casal, com outro tipo de relação afetiva,
quando o pai arranja um namorado, ou a mãe casa com uma outra mulher. É o caso
da tua amiguinha...
A
filha, que até então estava em silêncio, finalmente se manifestou. Arregalou os
olhos, abriu um enorme sorriso e gritou:
– Ô,
sorte. Já pensou? Duas mães e nenhum pai.
Meu
amigo Bob, marido de Dani, quando ficou sabendo do comentário da filha, entrou
em depressão profunda. Mas sobreviveu e já está melhorando. Tem recebido
acompanhamento psicológico e vem superando tudo com a ajuda de medicamentos.
30
de setembro de 2013 | N° 17569
L.
F. VERISSIMO
Sedução
(Da
série “Poesia numa hora destas?!”)
Esta sacada para o Gran Canal
esta
Lua de cartão-postal
(depois
de um pôr de sol do Tiepolo)
este
salão descomunal
e um
mordomo chamado Manolo...
As
lagostas do jantar
os
filés, o manjar
o
cheque sob o “rechaud”
as
frutas do meu pomar
e os
vinhos do meu “chateau”...
Um
final de fantasia
pavê
e ambrosia
junto
com um grande “apfelstrudel”.
E ao
fundo (covardia)
Miles
Davis no “flugel”...
Na
cama em forma de nau
ela
não pode conter um “uau”
de
sacudir o palazzo inteiro.
Não
sei se foi meu “know-how”
ou a
joia no travesseiro.
Pois
o chocolate suíço
os
pavões e o serviço
o
Rolls-Royce e este show...
Será
que ela liga pra isso
ou
me ama pelo que eu sou?
O
IMITADOR
“João,
imita cachorro”
dizia
a cruel Maria
dando
o pé pra ser lambido.
“Agora
imita cavalo”
e
virava no outro sentido.
“João,
imita tapete”
dizia
a cruel Maria quando o
queria
rasteiro.
Ou
“imita caixa automática”
quando
queria dinheiro.
E um
dia a cruel Maria
disse
“João, imita gente”
e
disse o João “imito quem?”
“Sei
lá, qualquer pessoa,
você
vai pensar em alguém”
E
João, o imitador, imitou
Jack,
o Extirpador.
OBSERVAÇÃO
ANTROPOLÓGICA
Se
agarram, rolam pelo chão, abraçados, e se beijam com fervor...
Ou
foi gol, ou é amor.
O
SEDUTOR MÉDIO
Vamos
juntar nossas rendas
e
expectativas de vida
querida,
o que me dizes?
Ter
2,3 filhos e ser meio felizes?
O
SEDUTOR INTELECTUAL
Eu
diria algo brilhante sobre
soutiens
com enchimento
Mas
não é o momento, não é o momento...
Te
contei que minha miopia regrediu?
Desculpe,
é nervosismo, viu?
Não vá,
espere, não desista de mim
eu
nunca desisti, não me deixe assim.
Daqui
a pouco, garanto, um outro se ergue, eu sou só a ponta de um iceberg.
30
de setembro de 2013 | N° 17569
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Impropriedade não é altivez
Pretendia
escrever sobre assuntos bem diferentes dos que estou agora a ocupar-me, mas fui
praticamente obrigado a fazê-lo considerando a passagem da senhora presidente
da República pelos altiplanos da Assembleia Geral da ONU. A despeito de suas
debilidades, aliás, desde sua constituição decorrentes da reserva do poder de
veto reservada a cinco Estados, a ONU não se libertou até agora dessa mácula.
Contudo,
nela continua a existir a tribuna de caráter mundial da qual o Brasil tem o
privilégio de ocupar na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral, como legado
de um alegretense que reunia ao talento a bravura e a ambos o fascínio de sua
personalidade de escol: a Osvaldo Aranha se deve essa prerrogativa. Isto posto,
nada mais natural que nessa ocasião nosso país seja representado pelo chefe do
Estado.
Não
faz muito tempo, foi amplamente divulgado que a senhora presidente pensava em
suspender a viagem aos Estados Unidos a convite daquele país e sem demora a
suspensão foi convertida em cancelamento. Ao mesmo tempo, foi descoberto o
acesso de fontes americanas a assuntos referentes ao nosso país, fato objeto de
ampla publicidade.
Ambas
as ocorrências foram noticiadas reiteradamente como alvo do discurso a ser
proferido pela senhora presidente na oração que deveria pronunciar ao ser
aberta a Assembleia Geral, o que foi confirmado. Ocorre que a novidade
descoberta não se sabe se pela senhora presidente, se pelo Itamaraty ou pelo
inominado assessor especial da presidência, de novidade não tinha nada.
Esses
dados me parecem significativos, pois sucessivamente divulgados de maneira a
dar caráter internacional a um expediente de evidente endereço eleitoral que,
aliás, tem sido reconhecido por gregos e troianos; saliente-se que depois da
queda de popularidade da senhora presidente, seu marqueteiro, também conhecido
como quadragésimo ministro, prometia recuperar a popularidade perdida em coisa
de quatro meses.
De
modo que até a xingação, aqui anunciada antes do discurso da Assembleia Geral e
por todos os meios de comunicação; ao ser confirmada, era público, não
surpreendeu a ninguém; não estranha por conseguinte que nenhuma autoridade
americana de média importância que fosse estava presente, o que era
compreensível dado que o teor da peça era de todos conhecido?
O
tom inadequado do discurso soa como tentativa de exibir suposta altivez, quando
se destinava a fins internos e meramente eleitorais. E assim veio a ser
entendida de maneira geral.
Nesta
altura, o que me parece de particular importância é saber se o Itamaraty
inspirou ou acompanhou o plano, ou se foi ele concebido pela senhora presidente
com ou sem a colaboração de seu assessor especial, ainda que, qualquer que seja
a resposta, o fato é de suma gravidade; contudo, o interesse nacional reclama que
esse ponto seja esclarecido. Se o Itamaraty tinha conhecimento mais diminuído
fica ele, fenômeno que tem sido apontado particularmente por diplomatas de alta
expressão.
Depois
da xingação veio a louvação. A senhora presidente prosseguiu fazendo o elogio
do seu próprio governo com a pretensão de incentivar investimentos
estrangeiros. Com todas as vênias, parece-me que o expediente chega às raias da
infantilidade, até porque os eventuais investidores além de cientes da situação
interna e externa do país, seguramente são leitores, entre outras publicações
de circulação internacional, de The Economist.
Em
síntese, o discurso proferido em Nova York se destinava à pretendida reeleição.
Convém lembrar que, não faz muito, a senhora presidente declarou sem rebuços
que na campanha ela seria uma “fera”...
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
domingo, 29 de setembro de 2013
FERREIRA
GULLAR
Punir é crime?
Para
nossos juízes, punir é coisa retrógrada, resquício de um tempo que a
modernidade superou
Evitei
me manifestar de imediato sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal que
reconheceu a pertinência dos embargos infringentes.
Evitei,
primeiramente, porque, naquele momento, todo mundo tratou de dar sua opinião,
fosse contra ou a favor daquela decisão. Como não sou jurista nem pretendo ser
mais lúcido que os demais, preferi ler as entrevistas e artigos então
publicados, para melhor avaliar não só o acerto da decisão adotada pelo STF,
como as possíveis consequências que ela inevitavelmente provocaria no juízo da
opinião pública em face de tão importante julgamento.
Passada
a onda, a sensação que me ficou foi a mesma que, de maneira geral, a nossa
Justiça provoca nos cidadãos: a de que este é o país da impunidade. Trata-se de
uma sensação hoje tão disseminada na opinião pública que se tornou lugar-comum.
Apesar disso, diante desse novo fato que chocou a nação, me pergunto: de onde
vem isso? O que conduz a Justiça brasileira a inviabilizar as punições?
Não
pretendo ter a última palavra nessa questão, mas a impressão que tenho é de
que, para nossos juízes, punir é coisa retrógrada, resquício de um tempo que a
modernidade superou. Em suma, punir é atraso --e o Brasil, como se sabe, é um
país avançado, moderninho.
Não
foi por outro motivo, creio, que certa vez um advogado me disse o seguinte: quando
a sociedade condena alguém, quase sempre quer se vingar dele. Essa visão aqui
evocada levou um célebre advogado, dos mais prestigiados do país, a propor o
fim das prisões.
Pensei
que ele estivesse maluco mas, ao falar do assunto com um outro causídico, ouvi
dele, para minha surpresa, que aquela era uma questão a ser considerada
seriamente. Só falta meter na cadeia os homens de bem e entregar a chave a
Fernandinho Beira-Mar.
Seja
como for, a verdade é que há alguma coisa errada conosco. Punir não é vingança,
mas a medida necessária para fazer valer as normas sociais. Comparei, certa
vez, o ato de punir às decisões tomadas por um juiz de futebol. O jogo de
futebol, como todo jogo, só existe se se obedecem as normas que o regem: gol
com a mão não vale, chutar o adversário é falta e falta na área é pênalti. Se o
juiz ignora essas regras e não pune quem as transgride, torna a partida inviável
e será certamente vaiado pela torcida adversária. Pois bem, o convívio social,
como o jogo de futebol, exige a obediência às regras da sociedade.
Quem
rouba, mata ou trafica, por exemplo, está fora das regras, isto é, fora da lei --e
por isso tem que ser punido. Punir é condição essencial para tornar viável a
vida em sociedade. Se quem viola as normas sociais não é punido, os demais se
sentem à vontade para também violar aquelas normas.
É o
que, até certo ponto, já está acontecendo no Brasil, particularmente nos
diferentes setores da máquina pública, tanto no plano federal, como estadual e
municipal. E aí há os que praticam peculato como os que entopem os diferentes
setores do governo com a nomeação de parentes e aderentes, sem falar no
dinheiro que desviam para financiar o partido e, consequentemente, sua futura
campanha eleitoral.
Às
vezes os escândalos vêm à tona, a imprensa denuncia as falcatruas, processos são
abertos, mas só para constar, porque não dão em nada, já que, neste país avançado,
punir é atraso.
Mas
um ânimo novo ganhamos todos com o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal
Federal. Durante meses, todos assistimos pela televisão à exposição dos crimes
praticados contra a democracia brasileira e, finalmente, à condenação dos réus.
Enfim, ia se fazer justiça.
Mera
ilusão. Logo em seguida, passou-se a falar nos embargos declaratórios e nos
embargos infringentes. Veja bem, durante a vida inteira ouvi dizer que das
decisões do Supremo não cabem recursos.
Ainda
bem, pensava eu, pelo menos há um momento em que a condenação é irreversível. Sucede,
porém, que com a validação dos embargos infringentes, isso acabou. Nem mesmo as
decisões da Suprema Corte, agora, são para valer. Os beneficiados com os tais
embargos, que no dia daquela decisão eram 12, já se anuncia que serão 84. Isso,
por enquanto.
ELIANE CANTANHÊDE
A
volta dos que não foram
BRASÍLIA - O Brasil, que se vangloria, com boas razões, dos
avanços dos últimos 20, 30 anos, corre o risco de ter, simultaneamente, um
preso na Papuda com mandato de deputado, um presidente do Senado que foi
enxotado por denúncias e voltou ao cargo, três condenados pelo Supremo mantendo
o mandato e um governador que foi destituído, preso e, agora, é de novo
candidato.
O tal Natan Donadon foi parar na cadeia por ordem do Supremo
e manteve o mandato pelo voto dos colegas da Câmara. O presidente do Senado que
saiu e voltou é Renan Calheiros. Os condenados pelo Supremo com mandato, um ou
outro com assento na Comissão de Constituição e Justiça, todo mundo sabe quem são.
E quem é o governador do qual tratamos aqui? É o ex-governador
José Roberto Arruda, do Distrito Federal, flagrado com a boca na botija no
chamado "mensalão do DEM".
Arruda --que, no início, tinha tudo para dar certo-- já era
reincidente a essas alturas. Tinha se enlameado no Senado, teve a segunda
chance e afundou de vez no governo do DF.
Mas será que afundou de vez mesmo? Ele foi afastado do cargo
e preso na mesma Papuda que agora hospeda Donadon, mas acaba de ter as contas
do seu governo em 2008 aprovadas pela Câmara Distrital, enquanto a Justiça
empurra com a barriga, como faz em geral com poderosos.
Por isso, Arruda já emerge, põe o nariz de fora e fareja a
possibilidade de se filiar ao PR para concorrer a qualquer cargo em 2014. Pode?
Sei lá. Ele e o presidente do partido no DF acham que sim, alegando que, se
todo o mundo pode, por que ele não?
Por falar em "todo o mundo", a revista "Congresso
em Foco" acaba de concluir um levantamento mostrando que, de cada dez
parlamentares, quatro estão enrolados no Supremo Tribunal Federal --que é o
foro privilegiado (bota privilegiado nisso!) dos que têm mandato. São 224
deputados e senadores respondendo a 542 inquéritos e ações penais.
É desanimador...O mais afoito dos dois (aquele acusado de
acelerar) sugere descolarem a parte que engrouvinhou e colar de novo. O mais
cauteloso (o acusado de atrasar) discorda. O afoito, contudo, não quer nem
saber e puxa o papel: as bolhas e estrias somem, assim como uma faixa de 1,20 m
x 10 cm de tinta e massa corrida, arrancada pelo adesivo.
O afoito tenta colar de novo, mas o volume das cascas de
tinta e massa corrida fica evidente --parece um tapete estendido sobre a areia
da praia. Vocês olham a parede. Só 30 cm do primeiro rolo foi aplicado. Ainda
faltam 35,7 m. Vocês se olham. Estão juntos há seis anos. Pensavam em ter
filhos, em fazer pão em casa aos domingos, tomar banhos de banheira, visitar a
Pinacoteca e quem sabe até, um dia, forrar aquele quarto com um belo papel de
parede.
ANTONIO
PRATA
Me dê motivos
Quando
um casal começa a colar papel de parede, o Diabo senta em sua poltrona para
assistir
Se
você está bem com seu namorado, namorada, marido ou esposa, se acha que
encontrou sua cara-metade e que nada pode abalar vossa paz, sugiro um teste: experimentem,
juntos, forrar um quarto com papel de parede.
Caso,
meia hora após o início das hostilidades, digo, das atividades, ainda houver um
vínculo afetivo entre os dois, pode crer: é amor de verdade, desses capazes de
perdurar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, de sobreviver a
shoppings em véspera de Natal e até --Deus lhes poupe-- ao nascimento de trigêmeos.
Colar
papel de parede, em casal, lembra muito estar perdido de carro, em casal: acusações
mútuas, soluções antagônicas, ansiedade, desespero. A diferença é que, ao se
perder de carro, você fareja o perigo, respira fundo e procura mentalmente as
barras antipânico que os levarão para longe da escaldante tensão conjugal.
Ao
papel de parede, contudo, os amantes se entregam álacres, ternos e tenros como
as criancinhas ao mar no filme "Tubarão". Afinal, trata-se de uma
melhoria para a casa, um gesto em nome da beleza, um desses bucólicos projetos
dominicais que parecem trazer consigo a confirmação de nossa felicidade, tipo
fazer pão, tomar banho de banheira, ir à Pinacoteca. Como desconfiar que a
meiga estampa colorida é o forro da tumba em que será sepultado o casamento?
Você
se lembra da época não tão remota em que colávamos adesivos no carro durante as
eleições? Então deve se recordar que, por mais cuidado que tomássemos, sempre
ficava uma ou outra bolha de ar. Agora, imagine 18 rolos adesivos de 1,20 m x 2
m sendo aplicados a quatro mãos --é esse o tamanho da encrenca.
Subindo
em duas cadeiras, você e sua cara-metade colam a pontinha do primeiro rolo, lá no
alto. O desafio é os dois irem puxando o papel vegetal por trás, desenrolando e
colando o troço de cima pra baixo, SIMULTANEAMENTE. Um milímetro que um lado (i.e.,
um cônjuge) vá mais rápido que o outro, o papel engrouvinha --e, acredite, a não
ser que vocês tenham feito anos de nado sincronizado ou sido discípulos do sr. Miyagi,
vai engrouvinhar.
Adiantando
o lado retardatário, vocês tentam reparar o erro, mas só piora: estrias
diagonais surgem de ponta a ponta. Aí, começam as acusações. Um diz que o outro
foi lerdo, o outro diz que o um é que se apressou. (Toda essa discussão, lembre-se,
está sendo travada em cima de cadeiras e com as mãos para cima, encostadas na
parede.)
29/09/2013 - 01h45
PUBLICIDADE - RICARDO GALLO DE SÃO PAULO
Crise das companhias aéreas afeta conforto de passageiros
O cenário de prejuízos milionários e corte das despesas por
que passam as companhias aéreas atingiu agora o conforto dos passageiros. Para
poupar combustível, a TAM --líder de mercado no Brasil-- passou a desligar o ar
condicionado que refresca a cabine de passageiros quando o avião está no chão.
Cortar custo é 'lição de casa', afirma associação das aéreas.
O equipamento para de funcionar quando o avião deixa o gate (ponte de embarque)
e volta a ser ligado após a decolagem, o que pode demorar 15 minutos.
Quando o avião pousa, o ar é desligado de novo.
A Folha esteve em um voo da TAM há nove dias, entre
Congonhas (SP) e Santos Dumont (Rio): quando o ar para, a temperatura sobe e os
passageiros passam a mexer nos dutos do teto --pensando ter havido algo errado.
Ninguém da tripulação informa sobre o desligamento.
Em vigor há nove meses, a medida prevê que o avião fique
refrigerado por apenas um dos dois sistema de ar do avião. Mas só 25% do ar que
sai desse sistema refresca os passageiros, diz um piloto; o resto vai para a
cabine do piloto e do copiloto.
A economia parece pequena, mas é expressiva ao se ter em
conta os 800 voos diários da TAM. A empresa teve prejuízo de R$ 1,2 bilhão em 2012.
TEMPERATURA
Com o ar ligado, um avião se mantém com 23ºC. Ciente do
desconforto, a TAM manda a tripulação religar o ar se a temperatura chegar a 26ºC.
O conforto não é prejudicado, diz a companhia.
A Azul faz algo parecido, mas em menor proporção: desliga um
dos sistemas de ar, mas só com o avião parado no gate e com a porta aberta.
O ar não foi o único afetado. Em abril, a TAM retirou os
fornos dos aviões que atendem aos voos domésticos e nos internacionais de curta
duração. A comida é servida fria --o serviço de bordo mais enxuto é tendência
no setor.
Segundo a empresa, a opção por refeições "frias, leves
e saudáveis" foi tomada após pesquisas com clientes. Vice-líder de mercado
e também no vermelho (R$ 1,5 bi em 2012), a Gol, com 900 voos diários, não
mexeu no ar, mas cortou serviços.
Em junho, a empresa reduziu a água embarcada no banheiro em
voos curtos, como a ponte aérea. Em maio, extinguira o serviço de bordo
gratuito na maior parte dos voos --a água é de graça e o restante, vendido.
A empresa pagou neste ano bônus aos tripulantes por economia
de combustível. As medidas ocorrem em um cenário em que o combustível, atrelado
ao dólar, representa 40% dos gastos.
sábado, 28 de setembro de 2013
29
de setembro de 2013 | N° 17568
MARTHA
MEDEIROS
A sala de espera do analista
Sempre
que saio da minha consulta no analista, há uma senhora na sala de espera
aguardando sua vez. Antes, eu cruzava por ela e fazia um aceno educado com a
cabeça. Com o tempo, passei a sorrir e dizer tudo bem?. Em breve, me sentirei tão
à vontade que perguntarei : E aí, qual é a sua encrenca? Dificuldade de
desapegar, síndrome do pânico, bipolaridade?
E
tudo terminará num bistrô, entre boas risadas.
Obviamente,
meu comportamento demonstra um desajuste. Não é por acaso que preciso
frequentar um profissional que aperte meus parafusos frouxos.
Já quando
sou eu que estou na sala de espera aguardando, a situação se inverte. O
paciente anterior sai e nem olha para os lados. Cruza por mim como se eu fosse
uma cadeira vazia. Nem uma espichada de olhos, nem um esgar, nem um grunhido. Não
existo. Ele passa reto. Sou uma cadeira.
Eu
poderia ficar com a autoestima abalada, ele não sabe o risco que está causando.
Ou talvez saiba, mas não se importa com o que sinto. Será que ele não se importa
com o que sinto? Acho que estou desenvolvendo um complexo de inferioridade. Mais
essa agora. Desse jeito, minha alta não virá nunca.
Sempre
que entro em uma pequena sala de espera, qualquer que seja, cumprimento quem
ali está. Não saio distribuindo beijinhos, mas demonstro educadamente que
percebi a presença de outros no recinto. Logo, é natural que eu faça o mesmo
numa sala de espera que frequento toda semana à mesma hora, e onde
eventualmente vejo as mesmas pessoas saindo ou entrando. Compartilhamos uma
rotina, ora.
Só
que não é simples assim. Ninguém fica com vergonha de ir ao dermatologista, ao
oftalmo ou ao otorrino, mas consultar um analista ainda é algo extremamente íntimo.
Os pacientes sentem-se constrangidos ao serem vistos num ambiente onde costumam
confessar seus traumas e fraquezas.
Talvez
não acreditem na eficiência do revestimento acústico das paredes, desconfiam de
que aquela criatura ali na sala de espera escutou os detalhes de suas compulsões
sexuais e de suas neuroses cabeludas. Era para ter ficado tudo em segredo, era
para ter sido um momento privado, inviolável, confidencial – e é! – porém, em
poucos minutos, aquele estranho sentará na mesma poltrona (ou deitará no mesmo
divã) e privará dos cuidados do mesmo profissional, imediatamente depois de
termos estado ali, e a sensação é de promiscuidade.
Queremos
acreditar que o terapeuta é só nosso.
Mas
não é: o paciente sentado na sala de espera revela que somos apenas mais um,
que nossos problemas não são o centro da atenção de quem nos analisa e de que é
provável que as paranoias dele sejam mais interessantes do que nossos
questionamentos banais. Intolerável. Melhor mesmo fazer de conta que ali fora
está apenas mais uma cadeira vazia.
29
de setembro de 2013 | N° 17568
FABRÍCIO
CARPINEJAR
O melhor amante de minha
mulher
Não
tenho medo do passado de minha mulher.
Não
há receio de nenhum ex. Não ardo de ciúme por relacionamentos anteriores. Não
pago pedágio por aquilo que aconteceu.
Não
mexerei no celular para comparar felicidade e entrega, não analisarei a alegria
que irrompeu e deixou de ser. Tudo o que ela viveu, agradeço, apressou o
caminho para estar comigo.
Mas
sofro com um rival. Há um opositor no tempo que preciso duelar e reverencio,
sei que a luta será difícil e desigual, sei que será duro excedê-lo, ele tem
larga vantagem sobre meus ombros estreitos (pois a carregou no colo com a
leveza de brisas).
Estou
falando do mar de Búzios. O mar de Búzios foi sua melhor companhia. Até então
insuperável convivência.
Ela
passou a infância e adolescência correndo pelas suas vinte e três praias,
mergulhando nas claridades das manhãs e tardes, permanecendo de chinelos e
bermuda luz a fio, comendo nos restaurantes onde seu pai trabalhava como garçom,
arredando amizades com a simplicidade de um aceno.
Seus
cabelos loiros são mais loiros pelo mar de Búzios.
Sua
pele é mais macia pelo mar de Búzios.
Seus
olhos são mais verdes e transparentes pela cor da maré de Búzios.
Seu
rosto vem para a frente quando ri para acompanhar o mar de Búzios.
Sua
audição é refinada por se demorar nas cantigas das ondas de Búzios.
Sua
coragem é aventureira por desafiar as curvas do oceano de Búzios.
O
mar de Búzios desposou sua alma antes de mim. O mar de Búzios chegou primeiro,
com entardeceres que nunca terei condições de reproduzir.
Poderia
ter um outro adversário, porém veio logo o pior: logo o mar de Búzios com um
histórico amoroso de Dom Juan, logo ele que conquistou Brigitte Bardot.
Como
ser um amante mais completo do que aquela água sempre morna, alternada de
ventos quentes ao dia e suaves no escuro?
Como
massagear seus pés e mãos e superar o delicioso conforto da areia fina?
Como
oferecer joias tão cintilantes quanto às conchas que ele colocou em seu pescoço?
Como
despertá-la de bom humor sem aquela luz batendo na janela? Como fazê-la dormir
sem aquela noite estrelada forrando o telhado?
Como
ser mais exuberante do que a península de oito quilômetros?
Eu
me sinto tedioso, monótono, chuvoso perto dele. É um inimigo com muitos
apelidos, todos mais estranhos do que os meus: Geribá, João Fernandes,
Ferradura, Ferradurinha, Armação, Manguinhos, Tartaruga, Ossos, Tucuns, Brava e
Olho-de-Boi.
Se
eu for metade do que Búzios significa em sua memória, serei o melhor homem de
sua vida.
Apenas
metade. A metade já transbordará em velhice de mãos dadas.
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