DANUZA
LEÃO
As noites sem
dormir
Será
um problema físico, ou sinal de uma mente atormentada? Não dá para ler, não dá
para trabalhar
Existem
os que deitam na cama e dormem. Simplesmente dormem, dormem a noite inteira e
acordam na manhã seguinte leves, descansados, de bom humor. E há os outros, os
que não têm sono nunca.
Mesmo
que estejam cansados, exaustos, eles simplesmente não conseguem dormir. A
cabeça não para de pensar, seja no que for; esses não têm descanso, não têm
paz, e volta e meia olham o relógio para ver quanto tempo se passou, há quanto
tempo estão tentando, quanto falta para o dia clarear, e pensam em como vão
poder trabalhar no dia seguinte, já que não dormiram.
Dizem
que dormem bem os que têm a consciência leve, mas conheço muitos que a têm bem
pesada, mas que põem a cabeça no travesseiro e dormem o sono dos justos.
Os
insones tentam de tudo. Desde os chás mais inocentes à ioga, aos antialérgicos
-dizem que são ótimos-, até chegarem aos quase pré-anestésicos. Com esses
conseguem dormir por algumas horas, mas como o efeito dura pouco, acordam de
madrugada, ligados, sem saberem o que fazer.
Como
se conhecem bem, evitam pensar em problemas, em tristezas. Fazem planos para
uma futura viagem, uma possível mudança de casa, de vida, não pensam nunca em
coisas tristes e fazem os planos mais absurdos para o futuro, mas nem assim.
Conheço um que escolheu o número 650, sei lá por que, e vai contando ao
contrário: 649, 648, e assim vai indo -e nada. Quando consegue dormir um
pouquinho, é um sono tão leve que nem tem a certeza se dormiu ou não.
Será
um problema físico, ou sinal de uma mente atormentada? Nas horas em que ficou
estabelecido que devemos estar dormindo, não dá para ler, não dá para
trabalhar, não dá para fazer nada, a não ser ficar agoniado e pedir a Deus para
adormecer. Com o universo dormindo, os insones só pensam em uma coisa, que é
também dormir.
Conheço
um a quem aconselharam chá de maconha; ele comprou um pacotinho -todo mundo tem
um amigo para essas coisas-, disse para que era (o amigo não acreditou), fez o
chá, e nada. Pensou então que seu sonho seria um anestesista todos os dias, às
11h30 da noite.
Esse
mesmo amigo, depois de consultar vários médicos, soube que a partir dos 60
ninguém precisa das famosas oito horas de sono; cinco são mais do que
suficientes, e deram o exemplo dos bebês, que quando nascem, dormem quase o
tempo todo. Ok, cinco horas por noite; mas como conseguir dormir cinco, e como
administrar o resto do tempo?
Ele
tentou alugar filmes; vários filmes. Se eles eram bons, o sono não vinha, claro,
e se eram ruins, não dava para assistir. Não, não foi por aí. Uma sexta-feira
resolveu não tomar remédio algum e passar a noite em claro sem angústia, sem
pensar em dormir; o tempo não passava, aconteceram alguns cochilos, e só.
Lembrou
que nunca dorme em longas viagens de avião, mas tinha pelo menos no que pensar:
como seria bom quando chegasse, as coisas que iria ver, as novidades de uma
cidade nova. Mas dentro do quarto era bem diferente. Se ao menos o telefone
tocasse; mas quem iria telefonar às 3h da manhã?
Teve
a ideia de fundar um clube, o clube dos que não dormem, para ter com quem
falar, nas madrugadas, mas o projeto não prosperou.
Vou
confessar: tudo o que contei se refere a mim, que nunca tenho sono, e mesmo
quando tomo uma bola, resisto a dormir, penso que com medo.
Porque
dos pensamentos consigo me defender, mas não dos sonhos.
danuza.leao@uol.com.br