21
de maio de 2013 | N° 17439
EDITORIAIS
ZH
AS LIÇÕES DO
BOATO
Causou
sobressalto e correria às agências bancárias em pelo menos 12 Estados o boato
que circulou pela internet sobre a extinção do programa Bolsa Família. Foi tão
preocupante a movimentação, que o Ministério do Desenvolvimento Social e a
Caixa Econômica Federal apressaram-se em desmentir a informação por meio de
notas oficiais.
A
falsa notícia se disseminou entre pessoas que, pela condição social, são mais
vulneráveis a manipulações como essa. Apesar das dificuldades que deverá
encontrar para chegar aos autores do boato, a Polícia Federal é desafiada a
apontar quem e com que objetivo espalhou um alarme que tumultuou a vida de
famílias, de policiais e de servidores da Caixa e que poderia ter graves
consequências.
Deve-se
compreender, no contexto do Bolsa Família, como uma notícia sem autoria provoca
uma correria de beneficiários, até porque também foi espalhada outra
informação, de que os cadastrados receberiam um abono pelo Dia das Mães. O
programa é, na sua essência, uma ajuda gerida pelas mulheres. São 13,8 milhões
de famílias, que se beneficiam com um auxílio mensal criado para dar suporte a
quem vive na extrema pobreza.
Até
agora, em 10 anos de funcionamento, a serem completados em 2013, cumpriu com
uma parte de suas atribuições, socorrendo quem, em muitos casos, não dispõe de
nenhuma estrutura do Estado. Assim, o programa não existiria necessariamente
para salvar adultos, mas para garantir sobrevida a crianças e adolescentes, até
o estágio em que tenham as condições mínimas para tentar construir histórias
diferentes das vividas pelos pais.
Mas
a efetividade do programa é parcial. Estudos recentes apontam deficiências no
cumprimento de uma das metas do Bolsa Família, que é a de assegurar a
frequência escolar. O governo deve aprimorar mecanismos de controle nessa área,
para que o desembolso mensal cobre, como está previsto, a contrapartida de que
os filhos dos cadastrados tenham assiduidade na escola.
Também
merece avaliação crítica a dependência que a ajuda provoca entre famílias que
poderiam buscar qualificação e autonomia financeira. Os gestores falham se, ao
invés de estimular mudanças e oferecer condições para tal, inspirarem a
resignação, que acaba por punir quem deveria ser protegido por um esforço
governamental, mas bancado por toda a sociedade.
Assim
como não pode se prestar a boatos irresponsáveis, o Bolsa Família não deve ser
instrumento de manobras políticas e eleitoreiras. A grande missão do programa
é, além de transferir renda que represente um auxílio temporário, assegurar
acesso a direitos elementares, em especial à educação dos jovens. Os
beneficiários precisam, portanto, estar imunes às falsas informações e às
manipulações que procuram tirar proveito de um plano imperfeito, mas com ampla
função social.