segunda-feira, 2 de novembro de 2020



02 DE NOVEMBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

TROPEÇOS NA VOLTA ÀS AULAS

É frustrante, até agora, a volta às aulas presenciais na rede estadual do Rio Grande do Sul. Era esperado que a adesão ao retorno às classes não fosse maciça, mas ficou evidenciado que o governo gaúcho falhou no compromisso de fazer chegar devidamente às instituições de ensino os equipamentos de proteção individual (EPIs), bem como os produtos de limpeza e desinfecção dos ambientes. O novo coronavírus segue como uma ameaça à espreita, mas a sensação de insegurança de pais e alunos tende justificadamente a crescer se os colégios não contarem com condições de higiene necessárias e os professores, os funcionários e os estudantes não tiverem o apropriado amparo material.

Deve ser reconhecido o esforço financeiro do Piratini, em meio a graves dificuldades de caixa, de investir pesado para assegurar a reabertura das escolas. Foram cerca de R$ 270 milhões, de acordo com o governo, sendo R$ 15 milhões em EPIs. Mas, ao mesmo tempo, lamenta-se que os produtos adquiridos, como máscaras e termômetros infravermelhos, não tenham sido entregues nos prazos necessários em muitos dos pontos finais de distribuição. O desapontamento é ainda maior pelo fato de o governo ter alardeado que o retorno às salas de aula, com todos os protocolos, foi discutido e planejado por cerca de cinco meses. Portanto, não faltou tempo para acertar.

Ao conferir a situação em escolas na Capital nos dias de reabertura previstos nos calendários, a reportagem de GZH deparou ainda com relatos de falta de funcionários, alguns afastados por serem de grupos de risco, mas não substituídos. Há ainda queixas quanto à sujeira nos locais e dificuldades para acessar os recursos da autonomia financeira das escolas. São adversidades que precisam de uma pronta solução para encorajar os pais necessitados desse suporte a terem maior confiança para levar seus filhos de volta às classes, dentro das limitações previstas. Fez certo o governo ao ressaltar que o retorno às aulas presenciais não é obrigatório, mas pecou ao não alcançar plenamente as condições para uma retomada segura.

Nesta soma de fatores, há ainda resistência de prefeitos e dos docentes, neste caso liderada pelo sindicato dos professores estaduais. Os professores dos grupos de risco, é bom lembrar, têm permissão para permanecer com as aulas remotas.

Embora exista a sensação de ano perdido, é preciso garantir, uma vez decidida a reabertura das escolas, as mínimas condições para a volta às classes dos alunos das famílias que considerarem o retorno indispensável ou possível. A pandemia trouxe graves danos à educação, tanto pelo aprendizado interrompido quanto pelo aumento da evasão, e o início do processo de recuperação dos prejuízos deve ser seguro e consistente. A situação atual penaliza ainda mais os alunos das escolas públicas, que tendem a ver o abismo que os separa da rede privada ficar ainda mais largo e profundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário