sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025



28 de Fevereiro de 2025  CARPINEJAR 

Por que ocorre o linchamento? 

O linchamento chegou ao Rio Grande do Sul. Na quarta-feira, uma menina de nove anos foi resgatada depois de sofrer abusos no porão de uma loja de conveniência, em Tramandaí, no litoral gaúcho. 

O suspeito de sequestrar e estuprar a criança, Marco Antônio Bocker Jacob, 61 anos, tinha antecedentes por vários crimes, incluindo tentativa de feminicídio, tráfico de drogas, furto e maus-tratos a animais. 

Cerca de 50 pessoas revoltadas com a perfídia do abuso a uma criança indefesa invadiram o local durante o resgate, e agrediram o idoso sem piedade. Ele não resistiu aos ferimentos. 

A população brasileira não vem mais acreditando no Sistema Judiciário. Não vem mais confiando na execução das leis. Está cansada da impunidade, esgotada da violência e da morte aniquilando os afetos prediletos de suas vidas. São sempre criminosos reincidentes. São sempre figurinhas repetidas da delegacia em saídas temporárias. 

Como justificar a liberdade de alguém que já foi preso e solto em três oportunidades diferentes? Marco Antônio cumpria pena até semana passada. Como alguém com seu histórico de perversão mantém comércio numa das praias mais famosas do Estado? 

Conforme relatos da Brigada Militar e da Polícia Civil, o suspeito utilizou um picolé para atrair a menina que brincava sozinha em praça na frente da sua loja de conveniência, na Rua São Marcos. Quando ela entrou no estabelecimento, o homem a prendeu em um porão. 

A pequena em desespero, agonizante, foi localizada num alçapão, cujo acesso estava disfarçado com engradados. Após ser violentada, suportou mais de 12 horas no cativeiro, jurando que iria morrer. 

O rapto premeditado com requintes de crueldade, que aconteceu na vizinhança da família da menor de 10 anos, abalou a comunidade. Não tem como não pensar que poderia ser a nossa filha, a nossa irmã, atraída por um doce para o inferno ilimitado da maldade humana. 

Se o caso não fosse solucionado, quantas outras crianças poderiam amargar o mesmo fim? Quantas presas ele teria que colecionar para ser definitivamente trancafiado numa cela? 

Sentenças não são honradas ao pé da letra. Testemunhamos uma recorrência absurda de estupros, de assaltos, de latrocínios e de homicídios de quem já se encontra preso ou acabou de ser libertado. 

Nossos homens de toga, com o poder do martelo de madeira, precisam levar a sério o fenômeno social. Já ocorre no país um linchamento a cada dois dias. Não é mais uma exceção. Não é mais um foco isolado. 

Recentemente, no dia 18, um suspeito de matar um menino de dois anos foi linchado em Tabira, no sertão de Pernambuco. 

Assim como em setembro do ano passado, um suspeito de estuprar e matar um bebê terminou queimado vivo pela população de Jutaí (AM), município que fica a 934 quilômetros de Manaus. 

É a justiça pelas próprias mãos, porque as unhas já estão encardidas há muito tempo do sangue seco das vítimas.  

CARPINEJAR 

 


28 de Fevereiro de 2025  MARCO MATOS - Masculinidade Frágil 

Homens costumam ter problemas com a masculinidade. É por isso que a comunidade científica estuda os comportamentos dos humanos do sexo masculino com algumas características diferentes dos humanos do sexo feminino. 

O masculino é um grande universo, por vezes desconhecido. Mas há muitas características que foram forjadas por causa da nossa sociedade machista tão voraz. 

Ser um menino afeminado na infância me causou uma enorme rejeição por outros meninos. Foi assim comigo e com todos os gays da minha geração. Ir à escola era um terror. Aulas de educação física eram verdadeiras sessões de tortura psicológica (mesmo pra meninos gays que sabiam jogar bola). 

O homem se sente mais macho quando ressalta características menos másculas (leia-se grotescas) de outros indivíduos. Para parecer macho, alguns assumem posições de confronto e fazem comentários ofensivos. Isso segue até os dias atuais. 

Vamos aos exemplos: esses dias tomei um banho de leite (que nem era leite porque jamais aprovaria o desperdício, era água misturada com corante) numa feira que premiou as vacas mais produtivas nas ordenhas realizadas durante os dias de exposição. 

Esse tipo de celebração é realizada há décadas, mas dessa vez rendeu alguns comentários como: 

"Esse aí gosta de banho de leite", disse um seguidor. E vários outros escreveram expressões como: "acostumado com leite"; "deve ter adorado"; "a cara de felicidade com o leite"? enfim, foram dezenas. 

Sabe qual foi a minha resposta? Disse que "sim" para vários desses comentários. Muitas pessoas devem achar que o melhor numa situação assim é ficar quieto, não dar importância. Mas já fiquei calado e triste tantas vezes. 

Poxa vida! Eu tenho tanto orgulho de ser quem sou. Ser gay é uma parte de mim e isso jamais será um problema. Não deve ser um trauma na vida de ninguém. O tempo de sofrer calado acabou. 

Até achei que seria me rebaixar responder que gostei de tomar um banho de leite. Mas em momento algum estava me referindo ao que faço entre quatro paredes, porque isso só diz respeito a mim. Eu posso gostar, não gostar... tanto faz. 

Fato é que adorei participar dessa baita celebração da produção do campo. Que belo trabalho fazem nossos agricultores. Quem acorda cedo para a lida com os animais merece nosso respeito. 

Que venham outras boas experiências como essa!

MARCO MATOS 


28 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO RBS

Mais ordem nas emendas

Parece ser um avanço, diante da opacidade reinante até aqui, o acordo firmado entre o Congresso e o governo federal, homologado na quarta-feira pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, para conferir maior transparência e rastreabilidade às emendas parlamentares. O plano de trabalho apresentado ao ministro, relator das ações que buscavam tornar mais claras as informações sobre a distribuição de recursos do Orçamento da União por deputados e senadores, prevê o compromisso de que haverá identificação dos autores das emendas de comissão e de bancada, o que até aqui não ocorria por resistência dos congressistas.

Ainda que em tese seja um passo adequado, voltado a prestar as informações necessárias sobre o emprego de recursos públicos, é prudente aguardar a implantação do novo regramento para conferir se as promessas serão cumpridas e não existirão novos subterfúgios que mantenham zonas de sombra. Não seria a primeira vez. Após o STF decidir, no final de 2022, pela inconstitucionalidade do orçamento secreto, o Congresso turbinou as emendas de comissão para continuar a farra da distribuição de dinheiro sem prestar dados básicos como quem apadrinhou o repasse e a destinação da verba.

Pelos termos do acordo agora selado, as atas das reuniões de bancadas que aprovarem as emendas deverão ser padronizadas e tornadas públicas. Todas essas informações também serão disponibilizadas no Portal da Transparência. Desta forma, cidadãos, entidades da sociedade civil e órgãos de controle poderão acompanhar melhor a execução das emendas. Mas seguem bloqueadas as emendas Pix - em que são feitas transferências diretas para Estados e municípios - que não tenham um plano de trabalho definido ou as de bancada sem a devida identificação do deputado federal ou senador que as propôs. O Congresso, agora, dispõe do prazo de um mês para informar o andamento dos ajustes prometidos. Aguarda-se que não sejam buscadas novas brechas para dificultar o acesso a informações básicas.

Se o acordo for cumprido à risca, ao menos uma das distorções criadas pela farra das emendas pode ser saneada. Mas ainda restará outra, sem solução à vista: o valor exorbitante e descabido reservado para as emendas. Estão previstos, para este ano, R$ 50,4 bilhões. O montante é equivalente a mais de um quinto do total de despesas livres previstas para o orçamento da União de 2025, que sequer foi votado, também como retaliação ao impasse das emendas.

Não se conhece exemplo de outro país em que o Congresso tenha avançado de forma tão voraz sobre a execução orçamentária. Entre 2015 e 2024, os valores saltaram de R$ 3,9 bilhões para R$ 48,3 bilhões. É um fenômeno causado pelo enfraquecimento político do Executivo e pelo empoderamento do Legislativo nos últimos 10 anos, um quadro até aqui sem perspectiva de reversão. O resultado têm sido obras de qualidade ruim, direcionamento de dinheiro que poderia ser utilizado em projetos estruturantes para iniciativas paroquiais e uma profusão de suspeitas de corrupção. Em nome de interesses eleitoreiros e outros nada republicanos, o Congresso vem se desviando de sua função precípua de legislar e fiscalizar o Executivo. 


28 de Fevereiro de 2025  GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires 

O impacto da mudança no FGTS no RS 

A liberação de valores do FGTS aos demitidos que usaram o saque-aniversário vai beneficiar 770,6 mil trabalhadores no Rio Grande do Sul. Os dados foram confirmados à coluna pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ontem. 

Em valores, a autorização para retirada do FGTS deve injetar R$ 557,2 milhões no Estado. 

No país, a proposta vai beneficiar 12,1 milhões de pessoas e serão disponibilizados R$ 12 bilhões no total. O Estado com maior número de beneficiados é São Paulo, com 3,4 milhões de pessoas atingidas. 

A MP que permite a operação deve ser editada hoje pelo governo federal. A medida vai beneficiar trabalhadores que tenham valores na conta de FGTS e que foram demitidos entre janeiro de 2020 até a data da publicação da MP. Ou seja, não vale para quem for desligado depois da edição da MP. 

Os beneficiários receberão os valores em duas etapas. A primeira rodada contempla até R$ 3 mil. Os depósitos começam na próxima quinta-feira, dia 6 de março, para os trabalhadores que têm conta cadastrada no aplicativo do FGTS Caixa. 

No caso de quem não tem conta cadastrada, os recursos serão liberados nos dias 6, 7 e 10 de março, de acordo com o mês de nascimento. A segunda etapa, destinada aos valores acima de R$ 3 mil, será paga nos dias 17, 18 e 20 de junho. 

Efeitos distintos 

Como a coluna já adiantou, de um lado, a injeção de dinheiro na economia via liberação dos saques pode aquecer alguns setores, como serviços e comércio. População com dinheiro extra costuma quitar dívidas ou consumir. 

No entanto, parte do mercado observa a medida com apreensão diante da possibilidade de mais pressão sobre inflação e juro. Economia aquecida pode repercutir sobre os preços aos consumidores e reforçar a postura vigilante da autoridade monetária na busca pela meta de inflação. 

Além disso, existe incerteza sobre o efeito da retirada de dinheiro do FGTS nos financiamentos imobiliários. A construção civil já sofre com problemas de funding diante de uma poupança esgotada e falta de outras opções para bancar o crédito. _ 

R$ 5,828 

é o valor da cotação do dólar ontem. Com essa cifra, a moeda americana registrou nova alta e subiu 0,45% ante o pregão anterior. 

Confirmação de tarifaço dos Estados Unidos contra México e Canadá pressionou o câmbio ao longo do dia. 

No entanto, o dólar também segue sofrendo pressões internas. Entre esses movimentos, estão ações em busca de popularidade, como a mudança no saque do FGTS, e a resiliência do emprego. 

Grupo de origem russa investe R$ 46 milhões em Rio Grande 

Comprada em 2022 pela Eurochem, empresa de origem russa com sede na Suíça, a Fertilizantes Heringer vai ampliar sua fábrica em Rio Grande, com aporte de R$ 46 milhões. 

Até setembro, a unidade vai praticamente dobrar sua capacidade de produção, de 250 mil para 480 mil toneladas de fertilizante por ano. A obra deve gerar 200 empregos. Após a conclusão, outros 60 diretos. 

Conforme o diretor-presidente da Eurochem na América do Sul, o gaúcho Gustavo Horbach, a empresa tem 3,8% de participação no mercado de fertilizantes do Estado e pretende atingir 12% até 2028: 

- Mesmo depreciada pela recuperação judicial, a Heringer tem bons ativos. Somado à pujança do agronegócio gaúcho, vimos que era necessário incrementar a produção. 

As fábricas da Heringer em Rio Grande e Porto Alegre foram suspensas após a empresa entrar com pedido de recuperação judicial em 2019. A reestruturação da unidade no Litoral Sul ocorreu em 2022, quando a Eurochem comprou 51,48% do capital social da Heringer. Em 2023, o grupo adquiriu mais 28,49%. Um aporte para retomada da unidade da Capital está em estudo, diz Horbach. _ 

Outro dado reforça visão de emprego resiliente 

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) mensal divulgados ontem reforçam a tendência de desaceleração lenta do mercado de trabalho. 

De um lado, a taxa de desemprego, que ficou em 6,5% no trimestre encerrado em janeiro, está 1,1 ponto percentual abaixo do mesmo mês do ano passado e é a menor para um trimestre encerrado em janeiro desde 2014. Em outra análise, comparando com períodos mais curtos, o nível de desemprego no país mostra elevação, mesmo que a passos lentos. A taxa de desocupação cresceu 0,3 ponto percentual em relação ao trimestre de agosto a outubro de 2024 (6,2%). Essa é a segunda variação positiva em sequência no comparativo de trimestre contra trimestre imediatamente anterior. 

Esse cenário de pé no freio no ritmo do mercado de trabalho, mesmo que moderado, vem um dia após os dados do Caged, que também mostraram desaceleração nas contratações de trabalhadores no mercado formal. A Pnad pega também as ocupações informais. 

Resta saber como o Banco Central (BC) observa a movimentação. Parece contraditório, mas emprego forte e resiliente liga o alerta para inflação maior por mais tempo. Mais pessoas ocupadas e com renda jogam pressão sobre os preços diante de uma demanda mais aquecida, que pode impactar no juro. _ 

Mau humor com a Petrobras 

Um dia após balanço da Petrobras apresentar queda de 70% no lucro anual da companhia em 2024, as ações da empresa engataram queda acentuada ontem. 

Os papéis PETR4 (sem direito a voto) apresentaram queda de 3,53%, cotados a R$ 36,61. Já as ações PETR3, que dão direito a voto, estavam em R$ 39,24, recuo de 5,56%. Dividendos abaixo do esperado também frustraram o mercado. 

Além disso, técnicos do Ibama recomendaram negar plano apresentado pela Petrobras para realizar pesquisas sobre exploração de petróleo da Margem Equatorial, na costa entre os Estados do Ceará e Amapá, segundo informou O Globo (leia mais na página 8). _ 

GPS DA ECONOMIA