sábado, 1 de fevereiro de 2025



31/01/2025 - 14h38min
Martha Medeiros

Viajar é fuga, sim. Fuga do relógio, do supermercado, dos sapatos de salto

Em ruas estrangeiras, a coragem confirma que é a minha melhor parceira. Partir é de costas, voltar é de frente, como escreveu Caio Fernando Abreu.

Jamais viajei sem carregar a sensação de estar causando perturbação à vida de alguém que ficou. Quase sempre, minha mãe. Eu tinha 24 anos quando resolvi conhecer a Europa. Minha primeira viagem para outro continente, levando mil dólares em dinheiro, nomes de amigos de amigos anotados num papel e um passaporte estalando de novo. 

Seriam dois meses sem roteiro definido. Não era uma viagem à Lua, nem mesmo uma mudança definitiva, mas soube que, depois que eu cruzei o portão de embarque do aeroporto, minha mãe teve que ser amparada, mal conseguiu caminhar de volta para o carro. Sua garota havia sido convocada para a guerra.

A família preferia que eu estivesse preparando o enxoval, mas eu tinha férias vencidas e férias a vencer, e negociei com meu chefe a junção desses dois períodos. Ele, camarada, garantiu que manteria meu emprego na volta. Então lá fui eu, deixando aquele rastro de tragédia atrás de mim.

Viajar é fuga, sim. Fuga de uma rotina cuja repetição faz parecer que envelhecemos sem sair do lugar. Fuga de nossas reações automáticas diante dos desconfortos da alma. Fuga dos passos previsíveis até chegar à morte. Fuga do relógio, do supermercado, dos sapatos de salto, das aulas de ginástica, dos parentes, das 24 horas supersônicas de cada dia, bom dia e boa noite alternando-se a uma distância de minutos.

Ruas estrangeiras erguem minha cabeça, eu que no dia a dia caminho olhando para o chão, temendo fissuras na calçada. Ao viajar, contemplo obras de Monet em plena tarde de quinta-feira. Dou um mergulho não planejado no mar. Fico bonita usando um vestido de uma cor que achei que não combinava comigo. Descubro que sou simpática com estranhos. Não sinto fome ao meio-dia. Atravesso avenidas como se elas fossem portais, todos os caminhos levam a um lugar que nunca fui, e a coragem confirma que é a minha melhor parceira. Estou tão dentro de mim que não estou ao alcance de ninguém.

Não que desgoste de estar com as pessoas. Conviver é uma aventura; conversar, uma façanha. Mas estar a sós é um prazer quase lisérgico. Sei que uma solidão permanente e indesejada desvirtuaria esse meu discurso e colocaria em pauta um drama que desconheço, mas é boa a sensação de que minha existência não necessita ser confirmada pelos outros de hora em hora. Eu tenho certeza de que existo muito, e existo bem.

Voltar é a confirmação de que os outros importam e de que sou capaz de abdicar de mim para me acomodar a um comportamento padrão. Voltar é sempre uma declaração de amor. Partir é de costas, voltar é de frente, como escreveu Caio Fernando Abreu. Tenho lido muito neste verão, enquanto economizo para mais uma fuga malsucedida. Não adianta, eu sempre volto.


01 de Fevereiro de 2025
DRAUZIO VARELLA

O equívoco do IMC

Magros sedentários têm expectativa de vida mais baixa do que aqueles com sobrepeso que fazem exercícios com regularidade

O critério mais aceito para definir obesidade se baseia no IMC, calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Como consideramos obesas as pessoas com IMC igual ou superior a 30, essa faixa inclui um grupo muito heterogêneo, que vai dos que têm obesidade grau 1 (IMC entre 30 e 35) até aqueles com obesidade grave (IMC acima de 40), alguns dos quais podem pesar 200 quilos.

Se rotularmos como doentes todos os que caem nessa faixa tão diversificada, teremos cerca de 20% dos brasileiros e 40% dos norte-americanos, por exemplo. A continuar nesse ritmo, ser considerado saudável ficará restrito a uma minoria.

Acho um equívoco usar o IMC como critério único para separar pessoas com saúde daquelas enfermas. Primeiro, porque, entre outras limitações, o IMC não leva em conta sequer fatores anatômicos como a estrutura osteomuscular. Quem tem ossos largos, braços e pernas grossas tende a ter IMCs mais elevados do que os longilíneos. Parâmetros como circunferência abdominal são cada vez mais valorizados pelos especialistas, para avaliar o risco cardiovascular.

Segundo, porque o IMC não reflete a atividade física. Magros sedentários têm expectativa de vida mais baixa do que aqueles com sobrepeso que fazem exercícios com regularidade. Com frequência encontro nas maratonas corredores corpulentos que poderiam ser chamados de gordos. Faz sentido dizer que são doentes mulheres e homens capazes de correr 42 km?

Você, leitor, dirá que a obesidade traz com ela hipertensão arterial, diabetes, derrames, ataques cardíacos e outros agravos. É verdade, a incidência desses e de outros males é mais alta em obesos. Mas estaria justificado classificar a obesidade como uma patologia médica no caso dos que não apresentam nenhuma dessas complicações?

Claro, a obesidade é uma condição ou fator de risco para essas doenças, mas não devemos nos referir a ela - e a outros fatores que aumentam riscos de adoecer - como se fossem estados mórbidos, quando na realidade não o são.

Da mesma forma, é inadequado chamarmos de doentes pessoas com pressão alta ou com taxas de glicose elevadas ou infectadas pelo HIV, que não apresentam sintoma nenhum. Colocar-lhes rótulos de hipertensas, diabéticas ou aidéticas não as ajuda, esses termos são preconceituosos e discriminatórios, enquadram gente saudável na categoria dos doentes.

Explico melhor. Mesmo quando não havia tratamento antiviral para a infecção pelo HIV, as pessoas podiam conviver com o vírus por 10 anos sem manifestar sintomas. Enquanto durava esse período eram saudáveis, só deixavam de sê-lo quando se instalavam as infecções oportunistas que as levariam à morte.

Posso dizer que está doente alguém com pressão arterial de 14 x 10 ou 15 x 11 absolutamente assintomático? Ou com glicemia de 160, sem nenhum sintoma de diabetes? Nesses casos, hipertensão e diabetes são condições de risco para desenvolver ataques cardíacos, AVCs, insuficiência renal e perda de visão que poderão surgir em meses ou anos ou nunca. Enquanto assintomáticas, pressão alta e glicemia elevada não são doenças, mas fatores de risco.

Você, leitora, deve estar pensando que chamar de doença ou de condição é uma questão puramente semântica. Os anos de medicina me ensinaram que não é.

Imagine que examino um homem de 45 anos que ganhou 20 quilos. Meço a pressão: 15 x 10. Faço o teste para glicemia: 150. Se parto do princípio de que ele é hipertenso e diabético, faço o diagnóstico de duas doenças crônicas, incuráveis. Ele sai da consulta com uma prescrição de hipotensores e hipoglicemiantes que deverá tomar pelo resto dos seus dias. É razoável tratá-lo da mesma maneira do que outro com pressão de 18 x 12 e glicemia de 350?

Se parto do princípio de que ele ainda não está doente, mas numa condição que o predispõe a complicações eventualmente graves, existe esperança. Antes de prescrever medicamentos, vale a pena tentar motivá-lo a perder peso, fazer exercícios, melhorar a dieta. Tentar convencê-lo de que esse esforço poderá livrá-lo da medicação e dos efeitos colaterais.

Você, colega descrente, dirá: é tempo perdido, a gente fala, mas ninguém muda o estilo de vida. Não seja pessimista, alguns mudam. 

Drauzio Varella

01 de Fevereiro de 2025
DRAUZIO VARELLA

O equívoco do IMC

Magros sedentários têm expectativa de vida mais baixa do que aqueles com sobrepeso que fazem exercícios com regularidade

O critério mais aceito para definir obesidade se baseia no IMC, calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Como consideramos obesas as pessoas com IMC igual ou superior a 30, essa faixa inclui um grupo muito heterogêneo, que vai dos que têm obesidade grau 1 (IMC entre 30 e 35) até aqueles com obesidade grave (IMC acima de 40), alguns dos quais podem pesar 200 quilos.

Se rotularmos como doentes todos os que caem nessa faixa tão diversificada, teremos cerca de 20% dos brasileiros e 40% dos norte-americanos, por exemplo. A continuar nesse ritmo, ser considerado saudável ficará restrito a uma minoria.

Acho um equívoco usar o IMC como critério único para separar pessoas com saúde daquelas enfermas. Primeiro, porque, entre outras limitações, o IMC não leva em conta sequer fatores anatômicos como a estrutura osteomuscular. Quem tem ossos largos, braços e pernas grossas tende a ter IMCs mais elevados do que os longilíneos. Parâmetros como circunferência abdominal são cada vez mais valorizados pelos especialistas, para avaliar o risco cardiovascular.

Segundo, porque o IMC não reflete a atividade física. Magros sedentários têm expectativa de vida mais baixa do que aqueles com sobrepeso que fazem exercícios com regularidade. Com frequência encontro nas maratonas corredores corpulentos que poderiam ser chamados de gordos. Faz sentido dizer que são doentes mulheres e homens capazes de correr 42 km?

Você, leitor, dirá que a obesidade traz com ela hipertensão arterial, diabetes, derrames, ataques cardíacos e outros agravos. É verdade, a incidência desses e de outros males é mais alta em obesos. Mas estaria justificado classificar a obesidade como uma patologia médica no caso dos que não apresentam nenhuma dessas complicações?

Claro, a obesidade é uma condição ou fator de risco para essas doenças, mas não devemos nos referir a ela - e a outros fatores que aumentam riscos de adoecer - como se fossem estados mórbidos, quando na realidade não o são.

Da mesma forma, é inadequado chamarmos de doentes pessoas com pressão alta ou com taxas de glicose elevadas ou infectadas pelo HIV, que não apresentam sintoma nenhum. Colocar-lhes rótulos de hipertensas, diabéticas ou aidéticas não as ajuda, esses termos são preconceituosos e discriminatórios, enquadram gente saudável na categoria dos doentes.

Explico melhor. Mesmo quando não havia tratamento antiviral para a infecção pelo HIV, as pessoas podiam conviver com o vírus por 10 anos sem manifestar sintomas. Enquanto durava esse período eram saudáveis, só deixavam de sê-lo quando se instalavam as infecções oportunistas que as levariam à morte.

Posso dizer que está doente alguém com pressão arterial de 14 x 10 ou 15 x 11 absolutamente assintomático? Ou com glicemia de 160, sem nenhum sintoma de diabetes? Nesses casos, hipertensão e diabetes são condições de risco para desenvolver ataques cardíacos, AVCs, insuficiência renal e perda de visão que poderão surgir em meses ou anos ou nunca. Enquanto assintomáticas, pressão alta e glicemia elevada não são doenças, mas fatores de risco.

Você, leitora, deve estar pensando que chamar de doença ou de condição é uma questão puramente semântica. Os anos de medicina me ensinaram que não é.

Imagine que examino um homem de 45 anos que ganhou 20 quilos. Meço a pressão: 15 x 10. Faço o teste para glicemia: 150. Se parto do princípio de que ele é hipertenso e diabético, faço o diagnóstico de duas doenças crônicas, incuráveis. Ele sai da consulta com uma prescrição de hipotensores e hipoglicemiantes que deverá tomar pelo resto dos seus dias. É razoável tratá-lo da mesma maneira do que outro com pressão de 18 x 12 e glicemia de 350?

Se parto do princípio de que ele ainda não está doente, mas numa condição que o predispõe a complicações eventualmente graves, existe esperança. Antes de prescrever medicamentos, vale a pena tentar motivá-lo a perder peso, fazer exercícios, melhorar a dieta. Tentar convencê-lo de que esse esforço poderá livrá-lo da medicação e dos efeitos colaterais.

Você, colega descrente, dirá: é tempo perdido, a gente fala, mas ninguém muda o estilo de vida. Não seja pessimista, alguns mudam. 

Drauzio Varella

01 de Fevereiro de 2025
J.J. CAMARGO

O que aprendemos para não esquecer

Qualquer lição pode ser boa ou ruim. A sabedoria está em reconhecer o que aproveitar e o que repelir. Se, como professores, tivéssemos a consciência de que estamos sendo continuamente observados com aquela ânsia que todo aprendiz tem de copiar atitudes antes de adquirir o senso crítico que só virá com a maturidade, certamente seríamos melhores modelos. E ficaríamos menos ansiosos se, tempos depois, um ex-aluno, num encontro fortuito, começasse a conversa com esta frase assustadora: "Professor, preciso lhe confessar que nunca vou esquecer aquele dia em que o senhor?.". E não precisaríamos fazer aquela pausa respiratória na expectativa de que a história fosse boa de lembrar. Porque é deprimente quando alguém resolveu arquivar justamente o que merecia ter sido cremado.

Seria um notável ganho de tempo se aprendêssemos muito cedo, e sem fantasia, que qualquer lição pode ser boa ou ruim, e que sabedoria é reconhecer o que aproveitar ou repelir.

Lembro da força do mau exemplo ao acompanhar as instruções de um oncologista explicando ao velho agricultor americano que aquela lista enorme era de analgésicos. Ao ouvir do paciente que achava que não ia precisar tanto remédio porque se considerava forte para dor, o médico repreendeu-o: "Quando esse tumor chegar nas costelas, o senhor vai descobrir o que é dor".

Chocado com tanta insensibilidade, reclamei, timidamente como recomenda o convívio civilizado, que aquele velhinho (que tinha a cabeça parecida com a do meu pai) provavelmente não dormiria naquela noite. E o professor, tranquilamente, me respondeu: "A minha função é prescrever os analgésicos, colocá-lo para dormir é responsabilidade dos benzodiazepínicos". Poucas vezes me senti tão seguro do tipo de médico que eu não queria ser.

No outro extremo (as lembranças inesquecíveis moram nos extremos), a minha experiência mais marcante, pela delicadeza e precocidade, ocorreu quando, ainda no quinto ano da graduação, recebi do residente de pneumologia a incumbência de fazer a ficha de admissão de um peão de estância, internado na enfermaria de Pavilhão Pereira Filho. Depois das perguntas básicas, ele se pôs a contar a história das suas queixas de um jeito tão original que me fascinou, e isso é tudo o que lembro daquele arremedo de anamnese.

Mas nunca esqueci do pedido que me fez quando lhe estendi a mão para me despedir: "Eu quero me tratar com o senhor, porque foi o único doutor, até hoje, que me escutou!".

Metade agradecido, metade constrangido, não fui capaz de confessar que eu não era formado, e que mais lhe deixara falar por ainda nem saber o que perguntar.

De qualquer modo me encantei com a ideia de um dia vir a ser o médico que ele supôs que eu já fosse. 

J.J. CAMARGO


01 de Fevereiro de 2025
CARPINEJAR

Escolhendo os times na escola

Se eu pudesse voltar atrás, não participaria dos jogos da exclusão, dos jogos da rejeição da minha infância.

Teria boicotado, feito greve, discursado contra. Há dores que demoram para doer. A consciência social nem sempre é pontual, nem sempre está desperta desde cedo. Eu não previa os efeitos danosos para tantos outros meninos como eu.

Uma vez que eu não arcava com o preconceito, não entendia a sua influência perniciosa, o seu papel desagregador, o seu exemplo antieducacional. Nas aulas de educação física, o professor indicava dois colegas para escolher os times. Cada um desfrutava do direito de chamar, alternadamente, integrantes para sua equipe.

Eu sempre fui boleiro, e terminava sendo um dos primeiros recrutados. Não penava como alvo da perseguição. Dispunha da confiança imediata dos meus semelhantes, então me calava.

Depois que os melhores eram convocados, numa disputa de preferência por quem havia mostrado habilidade nas peladas do recreio, acontecia um bizarro concurso para evitar os piores no próprio time.

Os capitães se digladiavam para não contar com os "pernas de pau" em sua formação. Xingavam publicamente os que sobravam no final da seletiva. Disparavam desaforos para crianças indefesas que estavam ali justamente para aprender futebol. Crianças que não tinham nenhuma obrigação de conhecer os fundamentos do esporte.

- Pode ficar, jogamos com um a menos.

- Ele não, é muito ruim.

- Nem colocando de goleiro.

- Ele não presta nem como poste.

Qual o propósito da escola senão dar chance para quem nunca entrou em campo? Mas vivemos num país segregador, pulando etapas, em que é difícil ensinar o básico. Parece que todo mundo deve nascer sabendo.

Assim muitos jovens perderam a vontade de comparecer a interações coletivas, postos de lado já nos ensaios e treinos da vida.

Eu queria pedir desculpa retroativa a todos que foram zombados nas peneiras estudantis, apelidados de "perebas" ou de "babas", ofendidos pela sua aparência, num bullying perigoso sobre obesidade e demais características físicas.

A todos que não receberam uma mísera oportunidade, um único incentivo, a proteção do acolhimento, o cuidado para se entrosar pouco a pouco, sem a hierarquia sumária de valor, sem o julgamento prévio.

Lamento a minha passividade. Tão obcecado no meu desempenho, focado no meu individualismo, egoísta nos dribles, feliz com a fragilidade do adversário, eu não via na época o quanto eles sofriam com qualquer erro, qualquer passe torto, qualquer tiro a gol longe da meta, defenestrados por antecipação. Atuavam sob o signo do pânico e da opressão, para confirmar expectativas e agouros. Não se encontravam relaxados ou motivados. Experimentavam um terrorismo psicológico desmedido. Não usufruíam de paz para tentar, falhar, retomar, condenados a provar o engano nos primeiros minutos de bola rolando. A indisposição reforçava os estereótipos, os rótulos, os recalques.

Já começávamos a aula derrotados moralmente. _

CARPINEJAR


01 de Fevereiro de 2025
ARTIGO

O cinema brasileiro ainda está aqui

Comemorar as indicações de Ainda Estou Aqui ao Oscar vai além de celebrar a memória do que não pode ser esquecido e de exportar a sensibilidade artística brasileira para o mundo. Por meio da conquista que resgata a autoestima cultural do país temos um movimento que promete se estender para além do dia da cerimônia de premiação, que é o reconhecimento de uma área com incontornável impacto social e econômico no Brasil: o cinema. O poder da expressão do ator Selton Mello, que vibrou afirmando que "Nós entramos para a história. Ainda estamos aqui: Eunice, Rubens, nós e vocês", é hoje compartilhada por cada um de nós que fazemos parte da indústria cinematográfica.

Atuando na cadeia produtiva do cinema como professora, vibro junto com Selton e com todos os meus colegas pela relevância social e histórica que ganha destaque mundial. A obra, que humaniza Eunice Paiva, transformando sua dor em resistência, não só resgata a memória de Rubens Paiva, mas alerta sobre a importância de preservar a democracia e combater o apagamento histórico, se tornando uma reflexão sobre o passado e uma advertência para o futuro.

Tecnicamente, além da direção e da atuação impecável de Fernanda Torres, o filme é fortalecido por um roteiro sólido, direção de fotografia que nos transporta para os anos 1970 e um elenco talentoso, justificando as indicações ao Oscar. Mas mais importante do que qualquer prêmio é o apoio dos brasileiros ao cinema nacional, essencial para que nossa indústria siga gerando filmes de qualidade.

Na sala de aula, o filme vai se transformar em um ensinamento poderoso. Certamente, inspira futuros cineastas a manterem viva a chama da resistência e a lutarem por uma produção nacional relevante. O maior prêmio é a transformação que essas histórias proporcionam - não apenas nas telas, mas também nas mentes e corações de quem assiste a elas, de quem dedica a vida atuando nesta indústria, que gera milhares de empregos e movimenta a economia criativa. _

Helena Stigger - Professora e coordenadora da graduação em Produção Audiovisual da Escola de Comunicação


01 de Fevereiro de 2025
OPINIÃO DA RBS

Parlamentos sob nova direção

O início de fevereiro marca a renovação nos comandos do Congresso e do Legislativo gaúcho. Em Brasília haverá eleição nas duas casas neste sábado e só uma hecatombe política muda os resultados amplamente esperados. Salvo uma reviravolta histórica, Davi Alcolumbre (União-AP) volta a reger o Senado, e Hugo Motta (Republicanos-PB) assume a Câmara dos Deputados. Ambos têm largo apoio, do PT ao PL. Os mandatos são de dois anos. Na Assembleia, Pepe Vargas (PT) assume na segunda-feira a presidência pelos próximos 12 meses, fruto de um acordo consolidado que leva a um rodízio anual entre as quatro maiores bancadas de cada legislatura.

A grande atenção se volta para a capital federal. Câmara e Senado têm à frente uma série de pautas relevantes para o país e outras com potencial de acirrar ânimos entre os parlamentares e na base da sociedade. Entre esses temas está a segunda parte da regulamentação da reforma tributária, a reforma do Imposto de Renda que o governo deve enviar, a PEC da Segurança e o novo código eleitoral, além das matérias que são nitroglicerina pura, como a proposta de anistiar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

Trabalho sério a ser feito não falta. O esperado dos dois presidentes seria que dedicassem mais energia a fazer o Congresso debater, aperfeiçoar e votar pautas prioritárias para o Brasil, voltadas ao desenvolvimento econômico e ao bem-estar da população. Aguarda-se que Alcolumbre e Motta mostrem-se à altura dos cargos e compromissados com o país e não se notabilizem por ter uma atuação centrada nos interesses corporativos de senadores e deputados, como se fossem líderes sindicais dos parlamentares.

O Congresso se empoderou ao longo dos últimos 10 anos com as emendas impositivas, o que diminuiu a dependência de deputados e senadores do Executivo. Por consequência, os líderes das duas casas tornaram-se peças mais relevantes no xadrez do poder. Mas a maior autonomia para distribuir verbas crescentes viciou os congressistas, cada vez mais insaciáveis e refratários ao controle da destinação do dinheiro dos contribuintes. Os valores das emendas sobem a cada exercício. Em 2014, foram R$ 6,14 bilhões empenhados. Para 2025, o valor previsto para as emendas supera exorbitantes R$ 50 bilhões.

Idealmente, deputados e senadores estariam mais ocupados em legislar do que em distribuir dinheiro. A ver como se comportam Alcolumbre e Motta nesse cabo de guerra que também envolve o governo e o Supremo Tribunal Federal (STF). Deve-se recordar que Alcolumbre, presidente do Senado entre 2019 e 2020, foi um dos artífices do indecente orçamento secreto, e Motta chega sob a desconfiança de ser influenciado pelo atual chefe da Câmara, Arthur Lira, um dos regentes da partilha das emendas.

No Estado, no período de um ano em que comandará a Assembleia, o petista Pepe Vargas pretende ter o tema da sustentabilidade como bandeira. É tradicional que os ocupantes do posto elejam as suas prioridades. Além das estiagens recorrentes, o Estado sofreu com enchentes devastadoras, mostrando que as consequências do aquecimento global já chegaram. Espera-se que, com proposições legislativas e debates com a sociedade, o parlamento gaúcho contribua para o Estado se preparar e se adaptar aos desafios impostos pelas mudanças climáticas. 


Dólar cai com, sem e apesar de Trump

A volta da ameaça de Donald Trump de cobrar tarifa de 25% de Canadá e México, como se temia, fez o dólar abrir em leve alta na sexta-feira, mas o avanço não durou uma hora. Fechou com baixa de 0,25%, para R$ 5,837. Assim como o real - e em parte pelos mesmos motivos -, o peso mexicano perdeu 22,5% em 2024. Na sexta-feira, caiu mais 1,4% com a nova intimidação de Trump.

Hoje, produtos de Canadá e México que vão para os Estados Unidos, via de regra, não têm imposto de importação, inclusive porque os três países têm acordo de livre-comércio. Aplicar sobre esses produtos uma tarifa de 25%, portanto, significa que os preços de venda subiriam na mesma proporção, ou seja, ficariam um quarto mais caros.

Além disso, o México direciona aos EUA ao redor de 83,1% de suas exportações, portanto todo esse volume ficaria 25% mais caro. E boa parte das empresas que vendem a partir do México são... americanas. Como definiu Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil em Washington, seria um tiro de canhão no pé, pressionando preços nos EUA.

A maior parte das exportações do México para os EUA é de peças e acessórios automotivos, com 8,28% do total, pouco adiante dos veículos propriamente ditos, de 8,23%. Juntos, só esses dois segmentos somam US$ 71,7 bilhões, conforme o Data Mexico, espécie de IBGE do país da tequila - outro produto que americanos adoram importar.

E por falar em especialidades, há outro item da importação americana que afeta corações e mentes: saem do México 90% dos abacates consumidos nos EUA, principalmente para abastecer a preparação de guacamole. Como o bolso dos brasileiros sabe, o preço do fruto subiu por redução de oferta. No mercado internacional, aumentou cerca de 14% em relação ao ano passado. No Brasil, o acumulado em 2024 foi "um pouco" maior: 174,7%, conforme o IPCA do IBGE.

Ao renovar a ameaça - o anúncio oficial está previso para este sábado - Trump listou suas "justificativas":

- O motivo número um são as pessoas que entraram em nosso país de forma tão horrível e em tão grande volume. Número dois, as drogas, o fentanil e tudo o mais. Número três, os enormes subsídios que estamos dando ao Canadá e ao México na forma de déficits. _

Aos pulos, seis voltas na Terra

Startup de mobilidade de Porto Alegre, a Grilo teve em seu 2024 o primeiro ano cheio do novo formato de operação, focado em parcerias com empresas para entregas com triciclos elétricos - ou "pulos", como chama as corridas.

E o resultado é que houve aumento de 400% de receita - ou seja, valor cinco vezes maior. Ao todo, foram 264 mil quilômetros rodados no ano, o equivalente a cerca de seis voltas na Terra. Cerca de 66 toneladas de gás carbônico deixaram de ser emitidas. _

E os R$ 47.6 Bi?

Na quinta-feira, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) informou déficit primário (sem contar a dívida) de R$ 43 bilhões. Na sexta, o Banco Central (BC) relatou R$ 47,6 bilhões. Como assim? São contas diferentes. A da STN é só do governo federal. A do BC inclui Estados, municípios e estatais. Então, não é um dado diferente sobre o mesmo indicador, é outro cálculo, mesmo.

Entrevista - Marcus Pestana - Diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI)

"Capacidade de o governo governar está indo pelo ralo"

É importante ter alcançado a meta de déficit primário?

Sim, porque seria uma desmoralização não cumprir, em um país que já enfrenta uma crise de credibilidade com o pacote de corte de gastos. Atingir a meta permite manter o arcabouço fiscal, porque esse foi seu primeiro teste.

Por que existe um déficit para efeito de meta e outro?

Existem três conceitos: o déficit nominal, que inclui os gastos com a dívida, o déficit primário sem desconto (R$ 43 bilhões ou 0,36% do PIB), e com desconto (R$ 11 bilhões, ou 0,09% do PIB). Há uma licença especial, para efeito de meta, porque a maior parte, de cerca de R$ 31 bilhões, envolve a ajuda para o RS.

Em quanto eleva a dívida?

Para efeito da dívida, gasto é gasto. Isso pode levar a erro na discussão nacional. Parece que a situação está confortável, com déficit quase zero, mas, para estabilizar a trajetória da dívida, seria necessário superávit de 2,5% do PIB (cerca de R$ 250 bilhões de resultado positivo de receitas menos despesas).

No final de 2024, houve projeções de déficit de R$ 250 bilhões. Há algo escondido?

Não, os números são estes. O problema não está na cifra.

Onde está?

O Brasil segue rumo a uma situação de estrangulamento insustentável. Não basta só cumprir meta e gerar superávit. Cerca de 80% da receita primária líquida de R$ 2,16 trilhões é consumida em Previdência, pessoal, BPC, Bolsa Família, seguro desemprego e abono salarial. A capacidade de o governo governar está indo pelo ralo.

Por quê?

As medidas de aumento de receita já se esgotaram, só resta agora cortar gastos. O Brasil tem o orçamento mais rígido do mundo. 

GPS DA ECONOMIA 


 
01 de Fevereiro de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Lula está certo: enchente no RS aprofundou déficit em 2024

A radicalização que transforma tudo em polêmica tenta criar uma falsa crise entre o presidente Lula e os gaúchos, por ter dito na quinta-feira que se não fosse a enchente no Rio Grande do Sul o Brasil teria fechado o ano com superávit. Não é bem assim, mas é indiscutível que o déficit nas contas públicas seria bem menor se não fossem a enchente e outras tragédias climáticas.

O governo federal fez o certo quando socorreu o Rio Grande do Sul. É preciso ter memória muito curta para esquecer o horror daqueles dias de maio e junho, quando milhares de pessoas perderam tudo o que tinham para o dilúvio.

É fato que o governo ainda não cumpriu tudo o que prometeu - as moradias, por exemplo, estão sendo entregues em ritmo absurdamente lento. Mas também é incontestável que Lula despejou dinheiro no Rio Grande do Sul, na forma de auxílios, empréstimos subsidiados e investimentos em reconstrução, sem contar o adiamento do pagamento da dívida por três anos.

O governo não chegaria ao superávit em 2024, até porque precisou fazer outros gastos em decorrências de emergências climáticas em diferentes regiões do Brasil. Poderia ter fechado o ano no azul se não investisse em programas para estimular a permanência de crianças na escola, se reduzisse os gastos com o SUS, se acabasse com o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada, se não desse tantos incentivos fiscais a empresas, se zerasse os investimentos em infraestrutura. É isso o que querem os críticos que só se preocupam com os números de receita e despesa?

Socorrer é preciso

É legítimo cobrar responsabilidade fiscal de prefeitos, governadores e do presidente da República. O que não se aceita é a hipocrisia de cobrar mais e mais investimentos, de dizer que os governos não fazem nada, e reclamar porque as contas fecharam no limite do permitido.

No caso da ajuda ao Rio Grande do Sul, os gastos foram aprovados pelo Congresso fora do limite do arcabouço fiscal, que é uma linha imaginária. Na prática, saíram bilhões dos cofres públicos - R$ 6,5 bilhões estão depositados em fundo para financiar obras de prevenção. _

Secretário do Turismo encara a "tcherolesa" no Planeta Atlântida

Sem ser adepto de aventuras ou de esportes radicais, o secretário estadual de Turismo, Ronaldo Santini, resolveu encarar a "tcherolesa" do Planeta Atlântida horas antes do início do festival.

Deslizou faceiro para mostrar que está conectado com as inovações que valorizam o turismo no Rio Grande do Sul.

A Secretaria de Turismo fez questão de associar sua marca à tirolesa no Planeta como estratégia para promover destinos turísticos do Estado.

O secretário ressaltou a importância do Planeta como vitrine para o setor, destacando municípios como Feliz, Três Coroas, Marcelino Ramos, Bento Gonçalves e Nova Roma do Sul, que se sobressaem por suas atrações de tirolesa.

Além de atrair olhares para as belezas naturais do Estado, a participação da Setur no Planeta inclui workshops de capacitação para a equipe do evento. _

Reconstrução de colégio no Sarandi é exemplo de parceria

A reabertura da Escola de Educação Básica Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi, em Porto Alegre, é um bom exemplo de como o poder público, o setor privado e entidades sem fins lucrativos podem trabalhar juntos, em benefício da sociedade.

Devastada pela enchente de maio, praticamente toda a estrutura do colégio havia se perdido nas águas. Com doações privadas, as obras foram concluídas e as aulas serão retomadas a partir de 17 de fevereiro, início do ano letivo na Capital. Nesta sexta-feira, o prefeito Sebastião Melo e a secretária estadual da Educação, Raquel Teixeira, vistoriaram a escola. _

Juliano Colombo se despede do Sesi

Entusiasta da educação de qualidade em tempo integral, Juliano Colombo se despediu do Sesi-RS nesta sexta-feira depois de 28 anos de casa, os últimos 10 como superintendente regional.

O Sesi-RS e o Senai-RS passaram a ter comando único na gestão do presidente da Fiergs, Cláudio Bier, que escolheu Susana Kakuta para administrar os dois braços sociais da indústria.

Colombo conquistou admiração nos últimos anos, sobretudo na gestão de Gilberto Petry, por ter abraçado um ambicioso projeto de qualificação da educação. Nos últimos anos, dedicou boa parte do tempo às escolas de Ensino Médio de tempo integral, que usam metodologia diferenciada e se destacam pelo alto rendimento dos alunos. 

Bohn, não. Excelente

O presidente da Fecomércio, Luiz Carlos Bohn, ganhou um elogio do vice-governador Gabriel Souza, em forma de trocadilho.

- Brinquei com ele que o nome não deveria ser Bohn, mas Excelente - conta Gabriel, que ficou responsável pelos centros de acolhimento financiados pela federação, com recursos do Sistema S. Também foi esse sistema, por meio do Sesi, quem bancou estruturas temporárias de saúde. 

Voluntários a serviço da Fiergs

A quem interessar possa, a diretoria da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) não é remunerada. Nem o presidente Cláudio Bier, nem os diretores e coordenadores de conselhos ganham para exercer esses cargos.

O CEO, sim, é contratado como administrador. Não está na lista dos eleitos na chapa de Bier. Qualquer ilação sobre remunerações milionárias para presidente, vices e diretores é pura maldade. _

POLÍTICA E PODER


01 de Fevereiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Dois lados da moeda

Em 15 de janeiro, o RS tinha três municípios em situação de emergência por estiagem. Na última quinta-feira, esse número havia subido para 37. A sensação é de que as autoridades vão até os locais, visitam as propriedades, identificam o problema, mas, até a roda da burocracia girar, demora muito para a ajuda chegar.

Há algumas outras medidas. Sobre irrigação, um acordo entre Ministério Público e governo colocou um ponto final a uma ação civil pública relacionada ao bioma Pampa que se arrastava havia 10 anos. Isso deve facilitar a construção de açudes.

Os temas das enchentes e da estiagem são, no RS, dois lados de uma mesma moeda. O excesso ou escassez de chuva faz o produtor perder a safra e seus animais. O morador da cidade tem sua casa destruída pela enxurrada ou paga produtos alimentícios mais caros.

A história de um senegalês vítima de tráfico humano

Uma história de um refugiado senegalês vítima de tráfico humano e que vive no RS inspira o filme Malick, cujas gravações começam nos próximos dias. Em busca de uma nova vida na Itália, o jovem Modou Awa Adieye saiu do Senegal, mas, ao desembarcar, descobriu que estava a mais de 7 mil quilômetros de seu país.

Ele foi enviado ao Equador sem saber e descobriu ter sido vítima de tráfico humano. Fugiu dos criminosos, passou por Peru e Bolívia até chegar ao RS. Modou vive hoje em Porto Alegre. Sua história inspira a obra da qual também é codiretor, com o cineasta Cassio Tolpolar.

- Sinto felicidade de ver minha história virando filme. Jamais iria imaginar sair do meu país, que era minha zona de conforto, para ir a um outro lugar, onde ninguém me conhecia, passar por tudo isso e, de repente, estou fazendo um filme - diz Modou.

Tolpolar estava reescrevendo um outro roteiro de ficção e procurava um parceiro senegalês para a empreitada.

- A primeira vez que conversei com Modou, ao invés de falar sobre o projeto que eu tinha, ele me contou sua história, que achei triste, mas fantástica - afirmou. _

Entrevista - Adolfo Brito - Deputado estadual (PP) e presidente da Assembleia Legislativa

"Se tivesse irrigação no momento adequado, a safra estaria salva"

O deputado estadual Adolfo Brito (PP) entrega a presidência da Assembleia na segunda-feira. Durante sua gestão, o político pôs em ação o projeto RS Sustentável: Cada Gota Conta, que debateu ideias e projetos sobre reservação de água, irrigação e piscicultura. No último dia 24, entregou um relatório com sugestões ao governo do Estado.

Que avaliação o senhor faz do projeto sobre reservação de água?

Foram vários encontros sobre a reservação d ?água, a irrigação e a piscicultura. Tivemos um extraordinário apoio da sociedade: especialmente de federações, cooperativas, sindicatos, agricultores, secretarias. Estivemos em Sobradinho, Santa Cruz do Sul, Panambi, Santo Antônio da Patrulha e Canguçu. No nosso encerramento na Assembleia Legislativa, tivemos a oportunidade de fazer a entrega desse compêndio de sugestões que foram colhidas pelo grupo de trabalho estabelecido pela presidência à comunidade do RS.

Quais as principais sugestões levantadas?

Muitas já foram implementadas, inclusive pelo Estado. Foi um tema que o Rio Grande abraçou. A partir de agora, queremos destravar a irrigação. Quando iniciamos o trabalho, em fevereiro, muitos pensavam que irrigação não era necessária. Choveu um monte em abril e maio, e, hoje, estamos já com estiagem em várias regiões do Estado. Reservar a água para irrigar é uma obrigação nossa, como políticos, para incentivar o aumento da produção, da produtividade, da receita, da arrecadação nos municípios, nas cidades e, especialmente, na economia. Estamos felizes porque deu certo a nossa indicação da reservação e também da preservação da propriedade rural. Muitos jovens estão abandonando o Interior porque, quando chega a hora de chover, não chove, não tem produção, e eles não permanecem na propriedade. Precisamos produzir, e isso se faz com a reservação de água e irrigação.

Qual é o principal gargalo?

Temos a regulação do uso das APPs (Áreas de Preservação Ambiental), com compensação e replantio de árvores. Isso é extremamente importante para as mudanças na legislação. Propostas para alterar o Direito administrativo sancionador, que é a troca de multas pela educação e por resolução de conflitos fora do Judiciário. E ainda as mudanças também na legislação da gestão dos recursos hídricos, a fim de agilizar as outorgas e os licenciamentos. Hoje, projetos ficam dois, três anos, esperando para análise. Tudo isso precisa mudar para que o agricultor efetivamente possa produzir, tendo a reserva de água. Esperamos que as coisas possam, a partir de agora, ser destravadas pelo governo do Estado. Hoje, estamos importando milho. Se tivéssemos destravado a irrigação, com certeza haveria muito mais produção de milho.

Como mudar a mentalidade para que se reserve água para momentos de estiagem?

Essa é a pauta principal que as autoridades precisam entender. A necessidade é viabilizar, claro que respeitando o meio ambiente, mas de forma a dar condições ao agricultor para que possa contar com um cantinho da sua propriedade onde ele possa ter o seu açude, o barramento para, a partir dali, ter água no momento que precisar. Tivemos estiagem em praticamente todos os últimos anos. Agora, por exemplo, do Centro para o Oeste, muitas propriedades foram atingidas, especialmente nas lavouras de soja. Se tivesse irrigação no momento adequado, o agricultor poderia fazer a irrigação, e a safra estaria salva.

O senhor entrega a presidência na segunda-feira. Que avaliação faz da gestão?

Trabalhamos com todos os poderes para enfrentarmos essa situação que o Estado está passando. Ajudamos na criação de uma secretaria para a reconstrução do RS, aprovamos um comitê de acompanhamento pela Assembleia. Tivemos também importantes viagens. Houve ótimos projetos na área de energia renovável, na busca de empresas grandes, como a de automóveis para o Estado. Votamos todos os projetos da pauta, não ficou nenhum para 2025. 

INFORME ESPECIAL