
Sociedade ficou refém da disputa de poderes
No dia em que decidiu assumir o risco de não recompor sua relação com o Congresso, o governo Lula judicializou o decreto legislativo que derrubava o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). No mercado, depois de encerrar o primeiro semestre com queda acumulada de 12%, o dólar teve alta de 0,51%, para R$ 5,461.
O relato dos analistas é de que dados do Exterior pesaram mais para esse comportamento, como o número de vagas de trabalho em aberto nos Estados Unidos, que teve crescimento maior do que o projetado em maio, indicando que a economia por lá ainda está forte.
Mas se o foco do mercado está no curtíssimo prazo, especialistas em contas públicas temem que a sociedade se torne refém da disputa entre Executivo e Legislativo.
Olhando apenas para as regras legais, o pedido de inconstitucionalidade apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) é considerado quase pacífico: não é à toa que um decreto legislativo não derrubava um presidencial há mais de duas décadas.
No entanto, o que está em jogo não é só a autoridade presidencial, nem um parlamentarismo virtual, nem sequer o aumento de IOF, a essa altura. Um impasse sem solução à vista vai impactar o dia a dia dos brasileiros no meio do chumbo trocado pelos poderes. Uma ala da oposição ameaça não aprovar qualquer medida de aumento de receita - sequer o corte de gasto tributário que foi acordado "naquela noite de domingo".
O governo tem todo o direito de proteger seu poder. A oposição tem todo direito de... fazer oposição. O que não podem é, no afã do embate, sequestrar o interesse público. Da forma como está sendo conduzido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o corte de benefícios fiscais pode ser menos prejudicial à economia do que as alternativas propostas antes.
Oposição e governo já se comportam como se estivessem em 2026, ano eleitoral. Mas de julho de 2025 até outubro do ano que vem, os cidadãos têm contas a pagar, as empresas têm planos a fazer. Mais de um ano com a barulheira atual na relação entre os poderes é disfuncional e tende até a apressar o temido "estrangulamento" do orçamento. Se isso ocorrer, terá de ficar na conta dos dois campos opostos. _
Para não contar os centímetros do Guaíba
Passaremos toda a semana contando os centímetros do Guaíba. Agora, o "inimigo" é o vento, que ajuda a represar as águas que haviam se tornado atração e agora voltam a ganhar contorno de ameaça. E mesmo que o corpo d?água que banha a capital gaúcha não volte a transbordar, há milhares de gaúchos desabrigados e revivendo um pesadelo que se repete nos últimos anos.
Enquanto isso, resposta mais robusta para os problemas de um dos Estados mais expostos aos extremos climáticos é projetada para 2031. E há embate sobre o ritmo das obras que não é compatível com a emergência climática. Não é possível que os gaúchos, capazes de tantas façanhas, não desenvolvam sistema que seja capaz de evitar fraudes e dar respostas na velocidade necessária.
O TCE barrou uma licitação sob argumento de irregularidades na disputa, e a Justiça gaúcha travou por muito tempo o reforço de um dique que pode resolver as enchentes no bairro Sarandi, um dos mais afetados em 2024, que voltou a sofrer neste ano.
A angústia com os aproveitadores da desgraça alheia nos acompanha desde sempre e com mais intensidade a partir de 2024, quando todas as formas de fraude e oportunismo aumentaram com o nível das águas. Mas é preciso lembrar que "o melhor desinfetante é a luz do sol". Todos os agentes públicos envolvidos com obras de prevenção e contenção de enchentes deveriam adotar a maior exposição pública de cada passo do desenvolvimento dos projetos.
Isso ajudaria a comunidade a saber o que está avançando e o que não - e por que -, e os órgãos de fiscalização a diferenciar efetivo interesse coletivo e difuso de perigo real e imediato só a grupos de interesse. _
Um acordo B com europeus
A conclusão do acordo de livre- comércio entre Mercosul e Associação Europeia de Livre-Comércio (Efta, bloco formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) pode ser anunciada na cúpula do Mercosul, prevista para ocorrer em Buenos Aires entre hoje e amanhã. Caso se confirme, pode ajudar em exportações e importações gaúchas de cerca de US$ 129,2 milhões. Já que avanços com a União Europeia estão difíceis, talvez ao menos saia o acerto do B.
O valor do total de envios do RS para países da Efta foi de US$ 37,9 milhões e o de produtos embarcados de lá para cá chegou a US$ 91,3 milhões em 2024, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento. Isso significa que o Estado tem saldo negativo, ou seja, compra mais do que vende com os quatro países do bloco europeu.
O que mais pesa é a importação de adubos e fertilizantes químicos. Os US$ 42,2 milhões de 2024 foram quase a metade do total enviado dos países do bloco para o RS. E todo valor vem da Noruega, onde fica a sede da Yara, empresa de fertilizantes com unidades no Estado.
O setor gaúcho com maior potencial para se beneficiar do acordo é o de couro, cuja exportação somou US$ 13,8 milhões em 2024, pouco mais de um terço do total embarcado no ano para os países da Efta. A indústria química também tem representação importante, com US$ 8,5 milhões em vendas no ano passado. _
Trump ameaça Elon Musk com seu próprio "monstro"
Ontem, ao ser indagado sobre a possibilidade de deportar o bilionário que apoiou sua campanha com milhões, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não descartou.
E ainda fez piada pior do que a brincadeira de mau gosto da criação do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, a sigla em inglês do "departamento" que foi chefiado por Musk, é o nome da criptomeme preferida do bilionário).
Depois de afirmar, na véspera, que o Doge agora deveria se concentrar no corte dos subsídios concedidos ao fundador da Tesla e da SpaceX, Trump foi indagado se consideraria deportar o ex-assessor:
- Não sei. Teremos de analisar. Talvez tenhamos que impor o Doge sobre Elon. Sabe o que é Doge? Doge é o monstro que pode voltar e devorar Elon.
Na curta parceria entre essas duas personalidades, ficou claro que Musk está no lado mais fraco. Pediu desculpas por vincular o presidente americano ao escândalo sexual de exploração de menores organizado por Jeffrey Epstein. O confronto entre o político mais poderoso e o empresário mais rico envolve um misto de fascínio - por mostrar embates de poder usualmente blindados ao público - e horror - por expor líderes desprovidos de qualquer sinal de interesse público em disputa sobre quem tem ego maior. _
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