FLÁVIA YURI OSHIMA
Não estresse: você tem mais tempo do que
pensa
Um novo
livro ensina a usá-lo bem – sem estresse nem ansiedade
Daria para
trabalhar, pegar um cineminha, encontrar os amigos, cuidar do cachorro, levar
os filhos à escola, tirar uma soneca depois do almoço, ler um livro, assistir à
sessão da tarde na TV... Deve ser por isso que nunca se viu um venusiano
reclamar de estresse.
Diante das 5.832
horas do dia de Vênus, é compreensível que os terráqueos se queixem tanto de
seus dias de 24 horas. Segundo a escritora americana Laura Vanderkam, porém,
reclamamos de barriga cheia. Seu
livro 168 hours. You have more time than you think (168 horas. Você tem mais tempo do que pensa), ainda não lançado no Brasil,
tornou-se best-seller defendendo duas teses incomuns em obras sobre organização
do tempo. A primeira é que somos bem menos ocupados do que imaginamos. A
segunda é que a melhor maneira de aproveitar bem o tempo é não se preocupar
tanto assim com ele.
>>A doença
da pressa
Nossa vida é tão
corrida que livros sobre como administrar o tempo se tornaram um gênero à parte
nos últimos anos (leia a lista abaixo). Em geral, eles partem de uma premissa:
o dia é curto para tantas tarefas. A melhor maneira de lidar com isso, segundo
eles, é preenchê-lo como os hotéis ocupam suas vagas na alta temporada.
De forma rigorosa,
cumprindo todas as tarefas de trabalho sem procrastinar e planejando o tempo
restante para aproveitar cada segundo com a família, ou aprendendo um hobby, ou
praticando esportes. O resultado desse planejamento rigoroso é, muitas vezes,
mais estresse – pois mesmo as atividades prazerosas descritas acima acabam se
transformando numa lista de tarefas.
Laura Vanderkam
vai contra essa corrente tarefeira. Ela começa por verificar, de forma
empírica, que a premissa segundo a qual temos pouco tempo não é verdadeira.
Para isso, ela recorre a dois tipos de pesquisa. A primeira é feita pelo
governo americano. Há 40 anos ele faz um estudo chamado Pesquisa sobre Uso do
Tempo (Atus, na sigla em inglês).
A outra fonte são
universidades que fazem o mesmo tipo de levantamento. Em geral, os métodos são
parecidos. Milhares de participantes mantêm um diário do que fazem a cada hora
– como o sistema de cobrança de horas de advogados. É comum os relatórios
chegarem com registros que, somados, formam um dia de 28 ou 29 horas. A
conclusão é simples: achamos que gastamos mais horas do que realmente gastamos
nas atividades do dia a dia.
Como tocar seu
plano B sem descuidar da atividade principal
Essa conclusão é
reforçada quando a cotejamos com outras estatísticas. Elas não estão
disponíveis para o Brasil, mas nosso comportamento não está tão distante do
americano. Nos Estados Unidos, o sono continua durando em média oito horas por
noite, como há 40 anos. Mesmo mães de crianças com idade abaixo de 6 anos
dormem entre 8h6min e 8h31min.
O Centro de
Políticas para Trabalho e Vida dos Estados Unidos diz que apenas 1% da
população tem trabalhos de carga extrema – como são chamados os empregos que
demandam mais de 60 horas de trabalho por semana.
Em média, o
americano que tem filhos, mesmo reclamando de sobrecarga, trabalha tanto quanto
o personagem da série dos anos 1940 Papai sabe tudo (aquele que chegava cedo em
casa, jogava o chapéu no mancebo e dizia: “Querida, cheguei!”) – entre 35 e 43
horas por semana. Dados da Universidade de Maryland, que faz o mesmo
levantamento há 20 anos, mostram que aqueles que dizem trabalhar entre 60 e 69
horas por semana trabalham, na verdade, cerca de 53 horas. Quem diz ficar entre
70 e 80 horas na labuta raramente chega ao teto das 60 horas.
Dado que temos
mais tempo do que pensamos, como aproveitá-lo melhor? Como fugir da armadilha
da lista de tarefas que transforma os momentos de lazer em obrigação? A
resposta de Laura Vanderkam está no título de seu livro: 168 horas. O número é
o produto das 24 horas do dia pelos sete dias da semana.
Este é seu ovo de
Colombo: Laura sugere que planejemos a semana, não o dia. Em vez de uma lista
rígida de afazeres cronometrados, teremos um elenco de prioridades que podem
ser espalhados, maleavelmente, ao longo de sete dias. Numa lista rígida de
tarefas, ficamos frustrados quando não conseguimos realizar uma. Num cronograma
flexível, temos os seis dias restantes da semana para acomodar o que ainda não
foi feito. Dito assim parece simples. Na prática, montar uma estratégia de bom
uso do tempo exige reflexão, coragem e autoconhecimento.