15 de
março de 2016 | N° 18473
OLHAR
GLOBAL | Luiz Antônio Araujo
Do ridículo ao
degradante
Muito admirado no
Brasil e mundo afora por ideólogos à procura de uma ideia, o Partido
Republicano dos Estados Unidos está se desmilinguindo. Uma vez chamada de Velho
Partidão (Grand Old Party) e associado ao abolicionismo e aos direitos civis, a
agremiação paga o preço por oito anos de demagogia liberal (no sentido que a
palavra tem fora dos Estados Unidos), de xenofobia histérica e de megalomania
imperial.
Um de seus gurus,
Samuel Hunttington, escreveu em 1993 que os Estados Unidos multiculturais não
seriam mais os Estados Unidos, e sim as Nações Unidas. Agora, a frase adquire
um sentido macabro diante da perspectiva de que o candidato republicano à Casa
Branca seja Donald John Trump.
Depois de repetir
durante meses um discurso de ódio contra mexicanos (“estupradores”), árabes
(“eles estavam torcendo enquanto o World Trade Center caía”) e chineses (“Eu
venço a China a toda hora. Toda hora”) e de conclamar seguranças e
simpatizantes a distribuir socos, ele está sendo obrigado a cancelar comícios
em razão de reações violentas. Na Flórida, não no México ou na
China.
Muitos têm dito
que a verdadeira candidata republicana na eleição de novembro será Hillary
Clinton. Será a revanche, com 30 anos de atraso, do que ocorreu na eleição de
1980, quando parte expressiva do eleitorado democrata desertou do presidente e
candidato à reeleição Jimmy Carter e votou em Ronald Reagan. Há, porém, uma
importante diferença em relação àqueles
tempos.
Embora não fosse
novato na política, tendo mesmo disputado a indicação presidencial republicana
e sido derrotado por Gerald Ford, o Reagan de 1980 estava longe de ter a
dimensão de Hillary. Votar num governador californiano para castigar Carter era
algo aceitável para eleitores humilhados pela recessão e pelos fiascos da
política externa. Votar em Hillary – candidata que até mesmo democratas de carteirinha
resistem em apoiar, como mostra a campanha até aqui exitosa de Bernie Sanders –
é algo muito diferente.
Ao votar em
Hillary, os republicanos anti-Trump não estarão castigando o bilionário
nova-iorquino, e sim assinando a certidão de falência de seu partido. Mas não
há o que lamentar. O Partido Republicano merece o seu destino. Um procurador brasileiro
disse há alguns dias, citando Napoleão, que“do sublime ao ridículo, é apenas um
passo”. Trump e os republicanos transitam do ridículo ao degradante. E sabe-se
lá aonde mais.