sábado, 1 de fevereiro de 2025



01 de Fevereiro de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Dois lados da moeda

Em 15 de janeiro, o RS tinha três municípios em situação de emergência por estiagem. Na última quinta-feira, esse número havia subido para 37. A sensação é de que as autoridades vão até os locais, visitam as propriedades, identificam o problema, mas, até a roda da burocracia girar, demora muito para a ajuda chegar.

Há algumas outras medidas. Sobre irrigação, um acordo entre Ministério Público e governo colocou um ponto final a uma ação civil pública relacionada ao bioma Pampa que se arrastava havia 10 anos. Isso deve facilitar a construção de açudes.

Os temas das enchentes e da estiagem são, no RS, dois lados de uma mesma moeda. O excesso ou escassez de chuva faz o produtor perder a safra e seus animais. O morador da cidade tem sua casa destruída pela enxurrada ou paga produtos alimentícios mais caros.

A história de um senegalês vítima de tráfico humano

Uma história de um refugiado senegalês vítima de tráfico humano e que vive no RS inspira o filme Malick, cujas gravações começam nos próximos dias. Em busca de uma nova vida na Itália, o jovem Modou Awa Adieye saiu do Senegal, mas, ao desembarcar, descobriu que estava a mais de 7 mil quilômetros de seu país.

Ele foi enviado ao Equador sem saber e descobriu ter sido vítima de tráfico humano. Fugiu dos criminosos, passou por Peru e Bolívia até chegar ao RS. Modou vive hoje em Porto Alegre. Sua história inspira a obra da qual também é codiretor, com o cineasta Cassio Tolpolar.

- Sinto felicidade de ver minha história virando filme. Jamais iria imaginar sair do meu país, que era minha zona de conforto, para ir a um outro lugar, onde ninguém me conhecia, passar por tudo isso e, de repente, estou fazendo um filme - diz Modou.

Tolpolar estava reescrevendo um outro roteiro de ficção e procurava um parceiro senegalês para a empreitada.

- A primeira vez que conversei com Modou, ao invés de falar sobre o projeto que eu tinha, ele me contou sua história, que achei triste, mas fantástica - afirmou. _

Entrevista - Adolfo Brito - Deputado estadual (PP) e presidente da Assembleia Legislativa

"Se tivesse irrigação no momento adequado, a safra estaria salva"

O deputado estadual Adolfo Brito (PP) entrega a presidência da Assembleia na segunda-feira. Durante sua gestão, o político pôs em ação o projeto RS Sustentável: Cada Gota Conta, que debateu ideias e projetos sobre reservação de água, irrigação e piscicultura. No último dia 24, entregou um relatório com sugestões ao governo do Estado.

Que avaliação o senhor faz do projeto sobre reservação de água?

Foram vários encontros sobre a reservação d ?água, a irrigação e a piscicultura. Tivemos um extraordinário apoio da sociedade: especialmente de federações, cooperativas, sindicatos, agricultores, secretarias. Estivemos em Sobradinho, Santa Cruz do Sul, Panambi, Santo Antônio da Patrulha e Canguçu. No nosso encerramento na Assembleia Legislativa, tivemos a oportunidade de fazer a entrega desse compêndio de sugestões que foram colhidas pelo grupo de trabalho estabelecido pela presidência à comunidade do RS.

Quais as principais sugestões levantadas?

Muitas já foram implementadas, inclusive pelo Estado. Foi um tema que o Rio Grande abraçou. A partir de agora, queremos destravar a irrigação. Quando iniciamos o trabalho, em fevereiro, muitos pensavam que irrigação não era necessária. Choveu um monte em abril e maio, e, hoje, estamos já com estiagem em várias regiões do Estado. Reservar a água para irrigar é uma obrigação nossa, como políticos, para incentivar o aumento da produção, da produtividade, da receita, da arrecadação nos municípios, nas cidades e, especialmente, na economia. Estamos felizes porque deu certo a nossa indicação da reservação e também da preservação da propriedade rural. Muitos jovens estão abandonando o Interior porque, quando chega a hora de chover, não chove, não tem produção, e eles não permanecem na propriedade. Precisamos produzir, e isso se faz com a reservação de água e irrigação.

Qual é o principal gargalo?

Temos a regulação do uso das APPs (Áreas de Preservação Ambiental), com compensação e replantio de árvores. Isso é extremamente importante para as mudanças na legislação. Propostas para alterar o Direito administrativo sancionador, que é a troca de multas pela educação e por resolução de conflitos fora do Judiciário. E ainda as mudanças também na legislação da gestão dos recursos hídricos, a fim de agilizar as outorgas e os licenciamentos. Hoje, projetos ficam dois, três anos, esperando para análise. Tudo isso precisa mudar para que o agricultor efetivamente possa produzir, tendo a reserva de água. Esperamos que as coisas possam, a partir de agora, ser destravadas pelo governo do Estado. Hoje, estamos importando milho. Se tivéssemos destravado a irrigação, com certeza haveria muito mais produção de milho.

Como mudar a mentalidade para que se reserve água para momentos de estiagem?

Essa é a pauta principal que as autoridades precisam entender. A necessidade é viabilizar, claro que respeitando o meio ambiente, mas de forma a dar condições ao agricultor para que possa contar com um cantinho da sua propriedade onde ele possa ter o seu açude, o barramento para, a partir dali, ter água no momento que precisar. Tivemos estiagem em praticamente todos os últimos anos. Agora, por exemplo, do Centro para o Oeste, muitas propriedades foram atingidas, especialmente nas lavouras de soja. Se tivesse irrigação no momento adequado, o agricultor poderia fazer a irrigação, e a safra estaria salva.

O senhor entrega a presidência na segunda-feira. Que avaliação faz da gestão?

Trabalhamos com todos os poderes para enfrentarmos essa situação que o Estado está passando. Ajudamos na criação de uma secretaria para a reconstrução do RS, aprovamos um comitê de acompanhamento pela Assembleia. Tivemos também importantes viagens. Houve ótimos projetos na área de energia renovável, na busca de empresas grandes, como a de automóveis para o Estado. Votamos todos os projetos da pauta, não ficou nenhum para 2025. 

INFORME ESPECIAL

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