29
de setembro de 2013 | N° 17568
FABRÍCIO
CARPINEJAR
O melhor amante de minha
mulher
Não
há receio de nenhum ex. Não ardo de ciúme por relacionamentos anteriores. Não
pago pedágio por aquilo que aconteceu.
Não
mexerei no celular para comparar felicidade e entrega, não analisarei a alegria
que irrompeu e deixou de ser. Tudo o que ela viveu, agradeço, apressou o
caminho para estar comigo.
Mas
sofro com um rival. Há um opositor no tempo que preciso duelar e reverencio,
sei que a luta será difícil e desigual, sei que será duro excedê-lo, ele tem
larga vantagem sobre meus ombros estreitos (pois a carregou no colo com a
leveza de brisas).
Estou
falando do mar de Búzios. O mar de Búzios foi sua melhor companhia. Até então
insuperável convivência.
Ela
passou a infância e adolescência correndo pelas suas vinte e três praias,
mergulhando nas claridades das manhãs e tardes, permanecendo de chinelos e
bermuda luz a fio, comendo nos restaurantes onde seu pai trabalhava como garçom,
arredando amizades com a simplicidade de um aceno.
Seus
cabelos loiros são mais loiros pelo mar de Búzios.
Sua
pele é mais macia pelo mar de Búzios.
Seus
olhos são mais verdes e transparentes pela cor da maré de Búzios.
Seu
rosto vem para a frente quando ri para acompanhar o mar de Búzios.
Sua
audição é refinada por se demorar nas cantigas das ondas de Búzios.
Sua
coragem é aventureira por desafiar as curvas do oceano de Búzios.
O
mar de Búzios desposou sua alma antes de mim. O mar de Búzios chegou primeiro,
com entardeceres que nunca terei condições de reproduzir.
Poderia
ter um outro adversário, porém veio logo o pior: logo o mar de Búzios com um
histórico amoroso de Dom Juan, logo ele que conquistou Brigitte Bardot.
Como
ser um amante mais completo do que aquela água sempre morna, alternada de
ventos quentes ao dia e suaves no escuro?
Como
massagear seus pés e mãos e superar o delicioso conforto da areia fina?
Como
oferecer joias tão cintilantes quanto às conchas que ele colocou em seu pescoço?
Como
despertá-la de bom humor sem aquela luz batendo na janela? Como fazê-la dormir
sem aquela noite estrelada forrando o telhado?
Como
ser mais exuberante do que a península de oito quilômetros?
Eu
me sinto tedioso, monótono, chuvoso perto dele. É um inimigo com muitos
apelidos, todos mais estranhos do que os meus: Geribá, João Fernandes,
Ferradura, Ferradurinha, Armação, Manguinhos, Tartaruga, Ossos, Tucuns, Brava e
Olho-de-Boi.
Se
eu for metade do que Búzios significa em sua memória, serei o melhor homem de
sua vida.
Apenas
metade. A metade já transbordará em velhice de mãos dadas.