12
de março de 2015 | N° 18099
L.
F. VERISSIMO
Bolsos
fundos
Não
faz muito, a Suprema Corte dos Estados Unidos, dominada por conservadores, deu
ganho de causa a uma organização chamada Citizens United, que pedia o fim de
limites para as doações de particulares e de empresas a partidos políticos.
Hoje
milionários e grandes corporações podem dar, abertamente, o que quiserem para
eleger quem quiserem, criando assim oportunidade para os americanos – como
disse um cínico – terem o melhor governo que o dinheiro pode comprar. Figuras
como os lamentáveis irmãos Koch, com alguns dos bolsos mais fundos da América,
podem promover sua agenda reacionária e inventar e destruir candidatos à
vontade, dentro da lei.
No
Brasil, pretende-se fazer o contrário e limitar o que até agora era ilimitado.
A decisão a favor da Citizens United está sendo considerada nos Estados Unidos
uma revolução nas regras eleitorais cujo resultado óbvio será multiplicar o
poder de o dinheiro influenciar a política.
No
Brasil, se a ideia pegar, ela será histórica no sentido oposto. Claro que a
simples existência de uma lei para controlar a influência do dinheiro na política
não vai impedir que ela continue. Estamos, afinal, no país do dá-se um jeito.
Mas só coibir e criminalizar a farra já será um progresso.
A
questão maior por trás de todas as lambanças sendo investigadas atualmente é a
do financiamento de partidos e campanhas. Enfrentá-la não será fácil. Os
maiores interessados em que não vingue uma reforma eleitoral são os que têm
acesso aos bolsos mais fundos da nação e têm mais a oferecer na defesa dos
interesses dos maiores pagadores.
Na
fila das reformas necessárias, depois da reforma política emperrada, deve vir a
reforma eleitoral. Não se sabe em que Congresso, se sobrar algum Congresso
depois deste vendaval, ela será discutida. Mas, apesar da previsível oposição,
pelo menos se estará discutindo a questão. Com incontáveis anos de atraso.
Se
vier uma reforma eleitoral, teremos a satisfação, boba mas bem-vinda, de termos
feito uma revolução que, pelo menos desta vez, não imitou uma americana, antes
a melhorou.
OS
TEMPOS
Li
que o Maluf declarou-se escandalizado com o envolvimento do seu partido, o PP,
no propinato. Desconfio que no futuro lembraremos deste tempo como aquele em
que a coisa chegou a tal ponto, que escandalizou o Maluf. E as gerações ainda
por vir se espantarão.