sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

MINHA MENINA:

Minha menina, somos um todo.

Certo dia, durante um passeio, algo me chamou atenção. Antes de te contar o que foi que tanto que me prendeu o olhar, quero explicitar cada detalhe para você. Espero que não se importe e tenha paciência com minha mania de ser detalhista.
O dia estava lindo, fresco e com cheiro de vida. Havia chovido a noite inteira. Resolvi que, sair um pouco de casa para desfrutar minha folga semanal, seria melhor do que ficar o dia inteiro deitada vendo filmes. Logo quando saí passei pôr um casal de velhinhos sentados num banco próximo ao chafariz da praça. Falando assim parece até cena de filme, não é? 

Eles me deram bom dia com um lindo sorriso. Retribui. Logo em seguida vi crianças brincando com as gotas de orvalho nas plantas e nos brinquedos que tinha ali. Aquilo era tão simples e arrancava um riso tão grande. Enquanto eu atravessava a praça para chegar a entrada do parque, havia um jardim. Fiquei espantada em como havia tantas flores e cada uma com uma beleza singular. Desejei todas. Como não deseja-las? Eram tão incríveis! 

Queria ter todas em casa, confesso, mas eu já estava satisfeita com minhas margaridas e orquídeas. Elas me alegravam e deixavam meu cantinho encantador. Cheguei ao parque, peguei minha guia de comanda e comecei a andar. Enquanto eu andava, pude observar um garotinho perdido. Prontamente, fui às mãos dele e o levei até onde os pais dele poderiam acha-lo. Continuei a andar.

Espero um dia poder te levar a esse parque. Lá é tão incrível. Ali há paz. É como se você se sentisse pertinho de Deus com tanta poesia personificada por Ele por ali. Mas, enfim, prossigamos como a caminhada.

Enquanto eu seguia, observei uma moça que chorava. Seu choro vinha da alma, pude sentir. Passei direto. Não consegui parar. O que ela iria pensar de mim? Talvez fosse até grossa. Dei um passo. Ouvi um soluço. Dei mais um passo a frente e o choro dela, se distanciando me pedia socorro. No terceiro passo, engoli o medo e fui até ela.

“Moça, o que houve?” – perguntei aflita também. “Eu perdi algo valioso para mim.” – disse ela embargando um choro que parecia não ter fim. Não sabia o que dizer. Aliás, não acreditava que meu dia estava sendo perdido. Fiquei me conflitando em como eu conseguiria ajuda-la sendo eu tão desengonçada, tão tímida para fazer essas coisas.

“Sinto muito, de coração.” – eu disse. “Está tudo bem, menina, está.” – disse ela voltando a inclinar a cabeça entre joelhos como se quisesse se esconder do mundo.
Fui me distanciando dela e o choro ficando mais baixo, e foi nesse ponto em que algo me chamou atenção. Havia um clarão entre o topo das árvores. Um feixe luz formado pela luz do sol em conexão com a desconexão dos ganhos d’árvore. Algo profundo no meu coração soou: “Ei, filha, você é luz. Da forma que é, você é luz, você é capaz, porque sou Eu quem te ilumino.” Eu entendi o recado já em prantos. Voltei imediatamente à moça que ainda chorava, engoli minha timidez e fui falar com ela:

“Moça, vou te mostrar algo!” Sem dar chances dela recusar, segurei-a pela mão e levei ao jardim. Eu tremia, mas em mente, orava. Pedi ao Pai que me mostrasse algo que pudesse explicar aquela moça que todo choro passa. O jardim! Claro! Tão esplêndido! Como alguém não sorriria ao vê-lo? Levei-a ao jardim e, logo, disse:

“Vê, moça, olha as flores se alegram com a chuva da noite passada! Olha, viu só quantas são as variedades? Cada uma aí desenvolve seu papel de forma singular. Umas dançam, outras cantam, outras só enfeitam, mas há outras que tem um perfume inconfundível. Cada uma com uma função particular e especial a sua forma. Deus é realmente um gênio, não é?” - eu disse.

Ela secou os olhos e sorriu. Abraçou-me e me agradeceu. Disse que chorava por algo bobo, mas que realmente havia sido confortada com meu cuidado. Como sempre, não soube reagir ao agradecimento e só disse: não foi nada. 
Enquanto eu ia embora, fiquei pensando em tudo que aconteceu ali que, a início, pareceu bobo, mas houve uma lição.

Menina, vou compartilhar o que compreendi e me chamou atenção: Deus me fez luz. Ele me chamou e disse: "Filha, vem!" Ele não quis saber dos meus defeitos, do quão tímida eu era, ou do quão eu reclamava de tudo, ou do meu comodismo ao ver os outros chorarem e simplesmente não fazer nada para mudar aquilo. Ele só em disse: "Vem, Eu te sustento. Eu te basto. Eu te aperfeiçoo. Eu te fiz filha em meu Filho." Percebi que assim como aquelas flores eram singulares, eu também era. E percebi que as flores que eu tinha em casa eram especiais e necessárias. 

Eu tinha margaridas e orquídeas que eram tão lindas como as rosas, os girassóis e todas as outras que estavam naquele jardim. Eram lindas porque o Criador delas não faz nada imperfeito. Percebi que Deus sempre soube que eu era tímida. Como um pai não conhece sua filha? E que mesmo assim, mesmo sem muita coragem, eu era luz, porque Cristo estava em mim. E por fim, menina, me lembrei daquele garotinho em que eu segurei nas mãos e o levei até um lugar seguro. Deus faz assim conosco. Às vezes, pensamos estar indo por um caminho lindo, com belas árvores e flores, aparente paz, mas estamos sós. E Ele vem, te pega pela mão e te coloca num lugar seguro: Esse lugar é Cristo.

Eu, como sou, com meus talentos e ausência deles, estou nEle, sou dEle e é Ele quem me aperfeiçoa. Somos arte nas mãos do Artista, poesia nas mãos do Poeta, filhas nas mãos de um Pai e nada nos separa dEle.

“E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.”1 Coríntios 12:5-7

Minha menina, talvez você não desenhe bem, mas cante. Talvez você não toque bem, mas fale. Talvez você não escreva bem, mas é boa em Português. Talvez você não cozinhe bem, mas saiba cuidar de crianças. Talvez você não seja tão alta, mas tem lindos cabelos. Talvez você não tenha lindos cabelos, mas tenha um sorriso encantador. 

Talvez você não consiga dormir cedo, mas consiga ser pontual. Talvez você não goste da noite, mas sinta-se melhor nela. Talvez você seja muito tímida, muito baixa, muito alta, muito baixa, ou toque bem, ou não saiba escrever, tanto faz, algo quero te assegurar: Você é amada. Você é desesperadamente amada. Por amor de ti, Ele foi pisado, humilhado e posto numa cruz. Não seria tu suficientemente feliz por isso?