segunda-feira, 9 de maio de 2022


09 DE MAIO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

TENSÕES E INDICADORES

Indicadores econômicos ruins e sinais inquietantes de tensão institucional estão produzindo um ambiente de nuvens carregadas sobre o país. É uma tempestade que tende a atingir especialmente a população das classes baixas no curto prazo, mas, na hipótese de se alongar ou recrudescer, tem o potencial de causar danos ainda mais graves à economia nacional. É verdade que um dos principais componentes é externo, devido à guerra no Leste Europeu. Mas o acirramento de ânimos interno e a gastança pré-eleitoral também contribuem de maneira preocupante.

Um dos canais mais nítidos de contaminação é o dos preços. Com o conflito na Ucrânia, a cotação do petróleo disparou, afetando a inflação, na casa dos 11,3% em 12 meses, até março. Trata-se de motivo de grande angústia para os mais humildes, que mês a mês notam a sua renda perder poder de compra. O consenso do mercado, no Boletim Focus, do Banco Central, indica que o IPCA anualizado chegaria, ao final de dezembro, próximo de 8%. Nos últimos dias, porém, elevaram-se apostas de economistas e instituições financeiras na possibilidade de o índice fechar o segundo ano consecutivo acima de 10%. Seria desastroso em um contexto de economia lenta, a despeito de pequenas revisões para cima para o PIB de 2022 e ganhos dos trabalhadores em retração.

Além do petróleo, em torno dos US$ 110 o barril, a moeda norte-americana voltou ao patamar de R$ 5, o que eleva os riscos de um novo reajuste nos preços dos combustíveis pela Petrobras. O contágio inflacionário se dissemina entre outros grupos que compõem o IPCA e, pelo lado dos alimentos, existe ainda a pressão da disparada dos custos com fertilizantes.

A conjuntura força o BC a elevar o juro em uma magnitude impensável há pouco tempo. Na semana passada, a Selic passou para 12,75% ao ano, e a tendência é de pelo menos mais um aperto na próxima reunião para tratar do tema, em meados de junho. Juro alto é fator que contrai ainda mais a economia e encarece o crédito. Os brasileiros endividados ou inadimplentes, em número cada vez maior, ficam com mais dificuldades para honrar compromissos. Governo federal e Congresso, por sua vez, jogam mais gasolina na fogueira ao promoverem uma série de benesses e desembolsos de viés nitidamente eleitoreiro. A irresponsabilidade fiscal, como se sabe, pressiona a Selic para cima.

Do Exterior vêm mais notícias ruins. O aumento do juro nos EUA tende a levar à desvalorização do real. A política de covid zero na China, com a imposição de lockdowns nas principais cidades, alimenta mais incertezas quanto à disponibilidade de insumos industriais e produtos finais. O resultado é mais força inflacionária.

Aliada a todo esse ambiente adverso está a crise institucional no país, especialmente entre o Executivo e o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É particularmente delicada e inapropriada a tentativa do presidente Jair Bolsonaro de tragar as Forças Armadas para o turbilhão, envolvendo os militares em questões relacionadas ao pleito de outubro, com a reiterada e descabida busca por lançar desconfianças sobre as urnas eletrônicas. As insinuações constantes sobre a possibilidade de algum tipo de ruptura do Estado democrático de direito não têm o condão de atiçar apenas desavenças políticas.

Teme-se que a tensão cresça com a aproximação das eleições. Seria inevitável: uma escalada de incitações e ameaças contaminaria negativamente os mais importantes indicadores financeiros e da economia. Os principais afetados, é preciso sublinhar outra vez, são os brasileiros dos estratos inferiores da sociedade. Que, aliás, são a maioria dos eleitores. É verossímil inferir que manifestarão o seu humor nas urnas. Evitar mais sofrimento para a população, portanto, depende de juízo, para não exacerbar ainda mais os ânimos, e de responsabilidade com as contas públicas. Instabilidades também deterioram o ambiente de negócios e assustam investidores. A insensatez pode custar bastante caro.

OPINIÃO DA RBS

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