10
de março de 2015 | N° 18097
LUÍS
AUGUSTO FISCHER
A POESIA DE PAULO HECKER
O
IEL, ainda na gestão anterior, lançou um livro precioso (outro livro precioso,
de fato): a Poesia Reunida, de Paulo Hecker Filho (1926 – 2005), sob
organização e prefácio de Celso Gutfreind e Alexandre Brito. De minha parte,
esperava pela edição há tempos, e posso dizer que mesmo em vida do poeta eu
costumava imaginar uma antologia do melhor de sua poesia, que não é pouca mas
é, era, muito dispersa.
Na
verdade, toda a produção de Paulo Hecker conheceu a vida de modo muito
irregular. Tendo publicado desde seus 20 anos, ele foi um caso raro em
literatura – um talento evidente, que se apresentou nos mais variados gêneros
(poesia, teatro, conto, romance, memória, crítica, ensaio), mas sem
continuidade no tempo e sem, no fim das contas, haver fixado uma imagem, um
estilo, uma marca.
Aliás,
num texto da maturidade, Paulo Hecker falou sobre isso abertamente: queixou-se
de não haver encontrado seu público e de, por isso, ter dispersado sua energia
criativa em muita coisa. Deve ser duro constatar algo assim.
O
presente livro mostra que há razões sobrantes para incluir o poeta no
repertório dos melhores que o Estado tem visto nascer, desde sempre. Um traço
confessional, que sai da ficção em busca da vida (a real do poeta, a virtual do
leitor), marca o melhor que escreveu. Hecker teve experiência de vida
suficiente para ver de perto o lado escuro das coisas, e fez disso poesia,
triste, dura, impiedosa, exemplar.
E
tem um lado reflexivo que me parece da melhor qualidade. O poema Transitório
continua a me alegrar, sutilmente: “E pensar que o autor deste verso não existe
mais. / Pensar nos trabalhos de seus dias, / que às vezes amou, outras se viu
ferido, / quis viver e quis morrer, como qualquer um, / e mesmo assim teve
alento para deixar que viesse até ele este verso, / que o salvou na hora e nos
salva agora”. Agora, exatamente agora, de novo.