Ah, mas o mundo é injusto demais, não é? Você se mata pra dar o teu melhor e aquele cretino, desleixado e sem compromisso, está sempre se dando bem. Você anda na linha, chega na hora, cumpre horários, e o que você ganha com isso? Nada, não é mesmo? O outro mija fora da bacia e vinga. Você não trapaceia, não zomba, não puxa tapetes, não deturpa e só se lasca. É, o mundo é muito injusto. Trágico isso.
Desculpa te desapontar, mas o injusto aqui é você, que só olha pro pau que nasceu torto e que não vai se endireitar só por causa do teu olhar atravessado. O injusto é você, que em vez de reparar na beleza dessa flor que abriu aí no teu quintal hoje cedo, fica puto da vida reparando nas conquistas de "gente ruim". O que você tem com isso? Você é Deus? Anda! Pensa aí com teus botões.
Sabe quando é que você vinga, mas vinga de verdade? Quando você se ama, se banca. Você sabe que vingou, quando além de um parceiro, pousou ao teu lado um amigo. A gente vinga quando recebe um abraço desinteressado, ou um telefonema preocupado porque teve febre a madrugada inteira. A gente vinga quando tem com quem contar, quando acreditam em nós. A gente vinga quando faz parte de alguém.
Eu vingo quando me sirvo do suficiente, quando eu rio de merda nenhuma, quando amo e sou amada. Eu vingo quando o sol me convida para as suas despedidas bem-humoradas. A gente dá certo, vinga de verdade, quando é reconhecido ainda por detrás das cortinas.
A vida não erra nas medidas, não salga nada, não passa da conta. A vida não é injusta, você é que tem sido cego. O outro não passou na tua frente, você é que decidiu ficar espatifado aí pelo chão se fazendo de vítima. Você vinga todos os dias e nem percebe; está ocupado demais encontrando culpados.
A gente vinga quando é capaz de sorrir, de acreditar em nós mesmos, de recomeçar.
Jackye Monteiro.