quarta-feira, 4 de maio de 2022


04 DE MAIO DE 2022
MAGALI MORAES

Síndrome da impostora

Faço questão de usar o termo no feminino porque aposto que as mulheres sofrem mais desse mal, e estudos comprovam meu achismo. Claro que os homens também podem se sentir impostores. Talvez não verbalizem, não liguem muito pra isso ou aconteça em uma frequência ou grau menor. Agora esquece o gênero, e confessa aí. Quem de nós nunca se sentiu assim?

Começando do começo: síndrome da impostora é aquele pensamento sabotador que surge do nada. A voz interior assoprando inseguranças que há pouco não existiam. O duvidar da própria capacidade. O medo de errar. De se sentir incompetente e não entregar o que esperam da gente. A confiança abalada. Aí vem o momento crucial: ou acreditamos (e embarcamos nessas sensações ruins) ou erguemos a cabeça e nos autorizamos a seguir firmes. Que a segunda opção seja a preferida.

Quando sentei pra fazer essa coluna, veio um déjà vu de impostora. Sério isso?! Há sete anos escrevendo em jornal e enfrentando tantas páginas em branco também na carreira de publicitária? Ao sentir o bafo morno e pegajoso da insegurança na minha nuca, escolhi bater de frente e jogar luz. Taí um bom assunto! Bora dar nome aos bois e falar sobre essa síndrome que pega desprevenida, atrapalha a vida e rende altos papos na terapia. Imperfeitas, sim. Incapazes, bem capaz.

Pode ser um sentimento temporário perante um desafio novo, e aquele friozinho bom na barriga se transforma em nevasca que gela e trava. Ou pode ser um sentimento permanente, sinal de que a autoestima (tadinha) tá encostando no chão. Precisa mais do que botar um cropped e reagir. A gente precisa parar de se comparar, de se subestimar, de desacreditar de si mesma, de sofrer antecipadamente com o julgamento dos outros. Sempre eles, né?

O curioso é que dizem que a síndrome da impostora é mais comum em mulheres capacitadas. Peraí. Impostora por que mesmo? Por se achar uma fraude, uma farsa, ter certeza absoluta de que a máscara vai cair e nos expor ao fracasso. Autocrítica exagerada, necessidade de aprovação, perfeccionismo, sensação de insuficiência - inclua nessa lista o motivo que quiser. São muitos.

Só não diga que você conquistou algo bom porque teve sorte. É demérito que chama, e dá gatilho pra síndrome te pegar de jeito. Até a Viola Davis, atriz que já ganhou todos os reconhecimentos possíveis, disse mais de uma vez em entrevistas que sofre da síndrome da impostora. As cobranças internas não perdoam ninguém. Se acontece em Hollywood, imagina no seu bairro, na sua roda de amigas.

Tudo isso pra dizer que a gente pode acreditar muito mais em nós mesmas. Correr o risco de errar e desapontar. Aliviar a pressão. Acertar e se sentir merecedora. Faz parte da jornada e dá uma equilibrada nas expectativas. Somos seres em constante evolução. Que tédio seria se a gente já nascesse incrível.

INTERINA

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