sábado, 1 de fevereiro de 2025


Dólar cai com, sem e apesar de Trump

A volta da ameaça de Donald Trump de cobrar tarifa de 25% de Canadá e México, como se temia, fez o dólar abrir em leve alta na sexta-feira, mas o avanço não durou uma hora. Fechou com baixa de 0,25%, para R$ 5,837. Assim como o real - e em parte pelos mesmos motivos -, o peso mexicano perdeu 22,5% em 2024. Na sexta-feira, caiu mais 1,4% com a nova intimidação de Trump.

Hoje, produtos de Canadá e México que vão para os Estados Unidos, via de regra, não têm imposto de importação, inclusive porque os três países têm acordo de livre-comércio. Aplicar sobre esses produtos uma tarifa de 25%, portanto, significa que os preços de venda subiriam na mesma proporção, ou seja, ficariam um quarto mais caros.

Além disso, o México direciona aos EUA ao redor de 83,1% de suas exportações, portanto todo esse volume ficaria 25% mais caro. E boa parte das empresas que vendem a partir do México são... americanas. Como definiu Roberto Abdenur, ex-embaixador do Brasil em Washington, seria um tiro de canhão no pé, pressionando preços nos EUA.

A maior parte das exportações do México para os EUA é de peças e acessórios automotivos, com 8,28% do total, pouco adiante dos veículos propriamente ditos, de 8,23%. Juntos, só esses dois segmentos somam US$ 71,7 bilhões, conforme o Data Mexico, espécie de IBGE do país da tequila - outro produto que americanos adoram importar.

E por falar em especialidades, há outro item da importação americana que afeta corações e mentes: saem do México 90% dos abacates consumidos nos EUA, principalmente para abastecer a preparação de guacamole. Como o bolso dos brasileiros sabe, o preço do fruto subiu por redução de oferta. No mercado internacional, aumentou cerca de 14% em relação ao ano passado. No Brasil, o acumulado em 2024 foi "um pouco" maior: 174,7%, conforme o IPCA do IBGE.

Ao renovar a ameaça - o anúncio oficial está previso para este sábado - Trump listou suas "justificativas":

- O motivo número um são as pessoas que entraram em nosso país de forma tão horrível e em tão grande volume. Número dois, as drogas, o fentanil e tudo o mais. Número três, os enormes subsídios que estamos dando ao Canadá e ao México na forma de déficits. _

Aos pulos, seis voltas na Terra

Startup de mobilidade de Porto Alegre, a Grilo teve em seu 2024 o primeiro ano cheio do novo formato de operação, focado em parcerias com empresas para entregas com triciclos elétricos - ou "pulos", como chama as corridas.

E o resultado é que houve aumento de 400% de receita - ou seja, valor cinco vezes maior. Ao todo, foram 264 mil quilômetros rodados no ano, o equivalente a cerca de seis voltas na Terra. Cerca de 66 toneladas de gás carbônico deixaram de ser emitidas. _

E os R$ 47.6 Bi?

Na quinta-feira, a Secretaria do Tesouro Nacional (STN) informou déficit primário (sem contar a dívida) de R$ 43 bilhões. Na sexta, o Banco Central (BC) relatou R$ 47,6 bilhões. Como assim? São contas diferentes. A da STN é só do governo federal. A do BC inclui Estados, municípios e estatais. Então, não é um dado diferente sobre o mesmo indicador, é outro cálculo, mesmo.

Entrevista - Marcus Pestana - Diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI)

"Capacidade de o governo governar está indo pelo ralo"

É importante ter alcançado a meta de déficit primário?

Sim, porque seria uma desmoralização não cumprir, em um país que já enfrenta uma crise de credibilidade com o pacote de corte de gastos. Atingir a meta permite manter o arcabouço fiscal, porque esse foi seu primeiro teste.

Por que existe um déficit para efeito de meta e outro?

Existem três conceitos: o déficit nominal, que inclui os gastos com a dívida, o déficit primário sem desconto (R$ 43 bilhões ou 0,36% do PIB), e com desconto (R$ 11 bilhões, ou 0,09% do PIB). Há uma licença especial, para efeito de meta, porque a maior parte, de cerca de R$ 31 bilhões, envolve a ajuda para o RS.

Em quanto eleva a dívida?

Para efeito da dívida, gasto é gasto. Isso pode levar a erro na discussão nacional. Parece que a situação está confortável, com déficit quase zero, mas, para estabilizar a trajetória da dívida, seria necessário superávit de 2,5% do PIB (cerca de R$ 250 bilhões de resultado positivo de receitas menos despesas).

No final de 2024, houve projeções de déficit de R$ 250 bilhões. Há algo escondido?

Não, os números são estes. O problema não está na cifra.

Onde está?

O Brasil segue rumo a uma situação de estrangulamento insustentável. Não basta só cumprir meta e gerar superávit. Cerca de 80% da receita primária líquida de R$ 2,16 trilhões é consumida em Previdência, pessoal, BPC, Bolsa Família, seguro desemprego e abono salarial. A capacidade de o governo governar está indo pelo ralo.

Por quê?

As medidas de aumento de receita já se esgotaram, só resta agora cortar gastos. O Brasil tem o orçamento mais rígido do mundo. 

GPS DA ECONOMIA 

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