Municípios gaúchos não têm políticas para riscos climáticos
Na COP29, realizada em novembro do ano passado em Baku, no Azerbaijão, o governo do Estado lançou uma plataforma digital para diagnosticar as estratégias dos municípios gaúchos no enfrentamento às mudanças climáticas.
A quatro meses da COP30, que acontecerá em novembro, em Belém (PA), dos 497 municípios gaúchos, 435 já participaram da pesquisa. Desse total, 92% não possuem políticas específicas para lidar com riscos climáticos.
Chamada de Roadmap Climático, a plataforma tem como objetivo mapear as ações climáticas municipais e promover iniciativas de apoio para a implementação de práticas locais. O questionário abordou diversos aspectos, incluindo situações de emergência enfrentadas pelos municípios, orçamento destinado à agenda climática, existência de planos de ação climática e plano diretor, além de programas de incentivo a políticas relacionadas ao clima.
A coluna reúne abaixo as principais perguntas e respostas do levantamento.
Questões do levantamento e as respostas
O município possui comissão de mudanças climáticas?
Sim - 310 Não - 125
O município enfrentou situação de emergência climática nos últimos cinco anos (mesmo sem decreto)?
Sim - 425 Não - 10
O município decretou situação de emergência ou calamidade em decorrência de eventos climáticos nos últimos cinco anos?
Sim - 414 Não - 21
O município possui orçamento alocado para o enfrentamento de eventos climáticos extremos?
Sim - 123 Não - 312
O município possui análise de riscos climáticos?
Sim - 55 Não - 380
O município possui dados ou estudos sobre as projeções de mudanças climáticas para o território?
Sim - 6 Não - 429
Existe política ou plano específico para lidar com os riscos e vulnerabilidade climáticas?
Sim - 34 Não - 401
O município possui plano diretor?
Sim - 252 Não - 183
O município possui um Plano de Ação Climática?
Sim - 6 Não - 429
Dilma cutuca tarifas de Trump
A ex-presidente Dilma Rousseff, atual chefe do Banco do Brics, defendeu, durante a 10ª reunião anual do New Development Bank (NDB), na sexta-feira, o financiamento climático para países mais atingidos por mudanças do clima, destacou a pauta do fortalecimento das moedas locais e criticou o uso de tarifas como instrumento de "subordinação política".
Embora não tenha citado nominalmente os EUA, Dilma fez alusão indireta ao presidente Donald Trump já no início de seu discurso:
Tarifas, sanções e restrições financeiras estão sendo usadas como ferramentas de subordinação política.
Entrevista Simone Lahorgue Nunes - Advogada
"As plataformas digitais ganham dinheiro e não se acham responsáveis?"
Autora do livro Manual de Direito da Mídia e do Entretenimento, a advogada gaúcha Simone Lahorgue Nunes trabalhou por 11 anos como diretora jurídica das Organizações Globo. É professora da FGV-Rio. Na quinta-feira, palestrou na Faculdade de Direito da UFRGS, na Capital, sobre liberdade de expressão e de imprensa na era digital. Veja a entrevista.
A quem se destina o livro?
É uma área pouco conhecida, que nem se estuda na faculdade de Direito: direito autoral, direito da mídia e do entretenimento, não existe. O que existe é Direito Constitucional, aí você vê um pouquinho de liberdade de expressão, mas dentro de 500 mil outros assuntos da Constituição. Quando comecei a lecionar essa disciplina, me vi em situação muito desagradável, que não tinha nenhuma obra pra indicar. Pensei: não é possível que estejamos falando sobre um setor responsável por um percentual enorme do PIB, exportamos conteúdo criativo sobre as mais diversas formas, audiovisual, música, obras de artes plásticas, e que não se tenha isso compilado, de forma compreensiva.
Tenho experiência de 11 anos de organizações Globo e mais 11 anos com clientes internacionais de empresas de mídia e entretenimento que atuam no Brasil: New York Times, The Sun, Netflix, HBO. Pensei: preciso compartilhar esse conhecimento, escrever tudo o que aprendi. É um tema muito controvertido: estamos falando da ponderação entre dois princípios constitucionais, liberdade de expressão e direito à privacidade.
Como a senhora avalia direito autoral diante da inteligência artificial (IA)?
Há várias vertentes importantes. Uma delas, sem dúvida, é direito autoral, questões como quem é o autor de um material produzido pela IA. A nossa lei diz que o autor tem de ser uma pessoa física, diferentemente dos EUA, onde pode ser pessoa jurídica. No caso da IA, então, não teria autoria? Estaria em domínio público? Então, todo mundo pode copiar? Outra questão importantíssima é o treinamento dos sistemas de IA. O que essas máquinas usam para serem treinadas? São obras protegidas? Os jornalistas do The New York Times estão dizendo: "Como assim? Você está usando os meus artigos, todo o meu material, que é de minha titularidade? Tenho copyright sobre isso". A OpenAI está dizendo: "Não reproduzo. Estou usando só um pedaço". Essas discussões estão ocorrendo.
Como estão as discussões em relação ao entretenimento?
Nos EUA, há decisões que avaliam o quanto de IA foi usada em determinada criação. Todo mundo está usando. Mas o quanto se exige em uma criação em que se utilizou de um sistema de IA para que aquilo seja considerada criação humana e não criação da máquina? Já houve decisão sobre fotografia em que um autor utilizou IA e tentou registrar nos EUA com copyright. A decisão foi: feita a análise, verificamos que a intervenção humana foi mínima.
Há quem defenda que criações de IA são feitas a partir de tudo o que já está no conhecimento humano. Portanto, deveria estar em domínio público. Há correntes acadêmicas fortes defendendo isso, de A a Z. Outra questão importante é a da remuneração do jornalismo tradicional. Os jovens se informam pelo TikTok. Então, precisamos analisar o que é o TikTok, o que nos leva a outro tema, o da responsabilidade das plataformas pelo conteúdo gerado por terceiros.
Qual a sua opinião sobre a decisão do STF em relação ao Marco Civil da Internet?
Estamos em ambiente de terra de ninguém nas plataformas digitais. Há, inclusive, ameaça muito grande ao Estado democrático de direito. Então, infelizmente, o nosso Congresso é um mercado livre: as coisas andam ou não andam de acordo com os interesses dos grupos que lá estão fazendo lobby. Acho que os ministros se viram diante de situação de ter de fazer alguma coisa. Tanto é que a tese começa dizendo: "Até que seja editada uma lei, nós determinamos...". Reconhecendo que isso tem de ser regulamentado por lei e que há um projeto parado no Congresso sobre redes sociais. Isso tudo se deve a esse cenário no Brasil, em que o Congresso se omite e o Supremo acaba tendo de tomar posições no sentido de evitar uma catástrofe maior.
Alguns setores dizem que regulamentação implica violação de liberdade de expressão.
Esses movimentos se apoderam do discurso da liberdade de expressão. Se olhar a Constituição, há pelo menos cinco artigos que falam da liberdade de expressão. Mas nenhum princípio constitucional, nem a liberdade de expressão, é absoluto. O que quer dizer que, algumas vezes, vai ceder em razão de outros princípios constitucionais mais importantes em casos concretos. A liberdade de expressão é importantíssima porque visa proteger a sociedade, mas é óbvio que será limitada.
Antes do Marco Civil, as pessoas notificavam as plataformas, e elas tinham moderação interna e baixavam os conteúdos. Quando veio o Marco Civil, as plataformas passaram a lavar as mãos. (...) E vão lá e impulsionam o conteúdo, ganham dinheiro com isso. Então, como não são responsáveis? Elas, inclusive, ganham dinheiro criando bolhas de informação.