quarta-feira, 20 de novembro de 2024


20 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

A inofensiva fotinho do perfil

WhatsApp é como carteira de identidade, é como habilitação de motorista. Deveríamos colocar no perfil uma foto básica de identificação para o outro descobrir com quem está conversando.

Seguiríamos o exemplo daquelas 3X4 que fazemos para os documentos, com a diferença de que poderíamos rir ou olhar para os lados.

Seria uma forma de facilitar a localização dos contatos na agenda. A regra é se declarar de cara, sem demandar muito esforço, sem suspense, para uma comunicação imediata.

Mas tem gente que não entende a natureza do aplicativo, esquece que não se encontra dentro de sua bolha de conhecidos, e escolhe imagem de seu cachorro, de seu gato, de seu filho, de um lugar paradisíaco na fotinho.

É bonito homenagear um amor ou uma paisagem de sua preferência, mas talvez o ambiente e o momento não sejam apropriados. A situação prejudica aprovações de um número, que pode ser bloqueado como engano, como golpe, como contato comercial indesejado.

Isso quando não é um rosto enfiado num boné, ou um detalhe do corpo, tipo close das sobrancelhas ou de uma tatuagem. Isso quando não é a família inteira reunida, e não há como definir o dono da linha na multidão.

Isso quando não aparece um avatar, um bonequinho desenhado a partir dos traços do sujeito, o que tampouco ampara a memória alheia. Isso quando não emerge o semblante de um ator ou atriz, de um personagem do cinema, entregando referências de entretenimento, mas pouco informando as intenções de proximidade.

Isso quando não há fotografia nenhuma, o que é característico de contas de famosos, de quem não quer se expor e se esconde em excêntrico anonimato. Compreenda que, ao entrar na rede pública, numa ferramenta aberta, você saiu de casa. Você está na rua. E não é adequado passear com a aparência desleixada.

É como apertar a campainha ou o interfone de uma pessoa, que vai espiar quem é pelo olho mágico e não abrirá as trancas para qualquer um.

Você tem a obrigação de se apresentar educadamente. É uma premissa básica da convivência, uma formalidade mínima. Que mostre o seu nome e a sua feição, para prevenir confusões, para não ser deletado antes de ser capaz de explicar a sua procedência.

Por mais que o número do celular seja pessoal, privado, todo mundo acaba usando o WhatsApp também para o trabalho. E o que desponta com frequência é um ectoplasma da intimidade, um recorte misterioso de um universo interior.

Não é um espaço para indiretas ou poesia, para brincar de charadas, para propor telepatia ou jogo de adivinhação. É o novo cartão de visita. É o novo passaporte digital.

A primeira impressão é a que fica. Você estará trocando mensagens com um possível cliente que terá que suportar sua foto de sunga com estampa amazônica na praia. Convenhamos, não é uma cena promissora para fechar negócios. Aliás, não é possível reconhecer ninguém de sunga. 

CARPINEJAR


Discórdia entre os sábios

O Sábio da Montanha existe desde que o mundo é mundo, atestam os mitos e folclores de várias partes do mundo. Por ser mais elevado espiritualmente do que os homens comuns, na geografia também vive acima. Ele está longe da mundanidade, afinal, mal precisa disso, jejua a maior parte do tempo e medita solitário por dias.

Tudo funcionou assim durante milênios, morria um sábio e o Conselho de Sábios (Consá) enviava outro. Como o século 21 não dá mole para ninguém, recentemente houve uma cisão. O sábio escolhido disse que não seria preciso estar apartado dos homens para ser sábio. Então o Sábio da Montanha desceu e foi para a praia, iniciando o ciclo do "Sábio da Praia".

Fora a barba longa, muita coisa mudou com o Sábio da Praia. Jejum, por exemplo, nem pensar. Trocou a túnica de cashmere pela bermuda, havaianas, e anda a maior parte do tempo sem camisa. Além disso, pasmem, bebe cerveja. Ninguém me disse, eu vi. Até perguntei para o Sábio da Praia se é sábio tomar cerveja.

De manhã, o sábio praiano dá conselhos espirituais para ganhar o que gasta no armazém. Quando está muito quente fica na rede, fruindo do que ele diz ser o dom supremo que o homem recebeu do Criador: exercer a preguiça. Na tardinha sai para prosear com os amigos, jogar sinuca, saber das fofocas e tomar uma ceva.

E você, caro leitor, na hora de escolher sábios conselhos, qual dos dois vai procurar? _

MÁRIO CORSO 



20 de Novembro de 2024
SUSTENTABILIDADE - Vinicius Coimbra

Plástico pode ser aliado com uso adequado, dizem especialistas

Utilização consciente é uma das ações indispensáveis para a economia circular. Desafio é ampliar a destinação correta

O plástico tem sido objeto de atenção de autoridades, leis e debates sobre poluição nas últimas décadas. Segundo especialistas, o material não deve ser tratado como vilão da natureza: é importante para a sociedade moderna, capaz de ajudar na sustentabilidade. O desafio é ampliar a destinação correta para que ecossistemas e seres vivos não sejam prejudicados.

O assunto foi motivo de relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em 2023, que destaca a possibilidade de reduzir a poluição plástica em 80% até 2040. Para isso, países, empresas e cidadãos precisam fazer "mudanças profundas".

Iniciativas políticas também têm focado na redução do material na sociedade. Desde 2018, Porto Alegre tem lei que proíbe os canudos plásticos descartáveis. Em Gramado, na Serra, legislação que proíbe a distribuição gratuita de sacolas plásticas entrou em vigor em março. Para Simara Souza, gerente do Instituto SustenPlást, a pecha de poluente não dialoga com a realidade do produto.

- Se eliminássemos o plástico, teríamos de aumentar a extração de madeira, a produção de vidro e haveria uma perda maior de alimentos. É uma demonização que não é científica. O plástico contribui para a sustentabilidade do planeta - pondera.

Simara está à frente do Tampinha Legal, programa socioambiental que fomenta a coleta de tampas de plástico em benefício de entidades assistenciais do terceiro setor. A iniciativa já recebeu 900 milhões de tampinhas que geraram R$ 4 milhões. Aliar o uso consciente à destinação adequada é uma saída indispensável para a economia circular, aponta.

Cálculos

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a mudança para uma economia circular resultaria em economia de US$ 1,27 trilhão (cerca de R$ 7,3 trilhões), se considerados custos e receitas de reciclagem. Outros US$ 3,25 trilhões (R$ 18,68 trilhões) seriam economizados com saúde, clima, poluição do ar, degradação do ecossistema marinho e custos relacionados a litígios.

Não viveríamos sem plástico, não o vejo como um vilão - resume Vanusca Dalosto Jahno, professora do Programa de Pós-Graduação em Qualidade Ambiental da Feevale.

Na Able, empresa de contact center no Tecnopuc, em Porto Alegre, a redução do uso de plásticos foi motivada por um contexto de adoção de estratégias sustentáveis, relata Sthefany Barbosa, sócia-diretora. Entre as iniciativas está o abandono de plásticos descartáveis para o consumo de bebidas. É estimulado o uso de sacolas ecológicas no lugar das plásticas. Há cuidado na separação dos resíduos. Na entrada da empresa, uma caixa de papelão é utilizada para o recolhimento de eletrônicos, entre outras ações. _

As dicas - Orientações da ONU para reduzir o plástico

Escolher produtos reutilizáveis em vez de descartáveis.

Solicitar a supermercados, restaurantes e fornecedores o abandono de embalagens de plástico de uso único e apoiar inovações para evitar o uso de plástico descartável em produtos e embalagens.

Escolher produtos de higiene pessoal sem plástico. Esse tipo de item é uma importante fonte de microplásticos, que chegam aos oceanos diretamente dos nossos banheiros.

Durante viagens, levar a própria garrafa reutilizável e usar protetor solar próprio para recifes, sem microplásticos.

Pedir às escolas, universidades ou locais de trabalho que proíbam o uso de plástico descartável e removam plásticos prejudiciais de suas cadeias de suprimentos.

Solicitar às autoridades locais que melhorem a gestão de resíduos.

Incentivar os tomadores de decisão a apoiar políticas para uma economia circular de plásticos.


20 de Novembro de 2024
ACERTO DE CONTAS

Na 4ª maior economia mundial

País escolhido para a largada da missão gaúcha à Ásia, o Japão enfrenta hoje desafios como outras economias, porém em uma base avançada de tecnologia e estrutura. O país chegou a passar os Estados Unidos como a maior economia do mundo pela sua indústria potente entre as décadas de 1950 e 1990, mas enfrentou bolhas imobiliária e financeira na década de 1990, que o levaram a décadas de deflação, que fez salários caírem puxando o poder de compra das famílias. Foi quando adotou uma política monetária de juros baixíssimos. O consumo despencou e os investimentos fugiram de ativos de risco. Em 2010, a China assumiu o posto de segunda maior economia, que o Japão ainda vinha sustentando.

Mas, a partir de 2022, a inflação subiu para mais de 2%. Isso fez as empresas elevarem a remuneração dos funcionários. Com isso, em 2023, o PIB japonês cresceu 1,9%, uma alta moderada, puxada pelo consumo das famílias, mas segurada por uma recessão no final do ano. De terceira, caiu para quarta economia mundial, ultrapassada pela Alemanha.

Ainda assim, está entre as potências mundiais. O Brasil fica em nono, com pouco mais da metade dos US$ 4,1 trilhões do Japão. Sua força tecnológica é vista nas coisas mais simples do dia a dia, como o aparato de equipamentos dos taxistas aos banheiros cheios de botões. É um dos principais países fabricantes de veículos, eletrônicos e máquinas, com uma forte cultura empresarial, sendo berço das gigantes mundiais Toyota, Sony e Nintendo.

Assim como o Brasil e tantos países, a economia japonesa enfrenta o risco da desaceleração dos Estados Unidos e da China, para onde exporta máquinas e chips. Enquanto isso, o governo aposta na recuperação baseada no consumo da própria população, que sobe com os salários ainda em elevação. Diferentemente do Brasil, o Japão quer esta inflação, em um patamar saudável de 2%. Preocupa quando ela é provocada pela desvalorização da sua moeda, o iene, em relação ao dólar, pois impacta o custo de vida e retrai os gastos das famílias. Recentemente, por este motivo, elevou a taxa de juro para atrair dólares, mas parou e talvez o faça novamente em dezembro.

Mudanças climáticas e envelhecimento da população são outros desafios japoneses, assim como da economia gaúcha, o que a coluna detalhará nos próximos dias. Estes fatores estão na agenda de quatro dias da comitiva aqui no Japão. _

A coluna fará a cobertura da missão gaúcha à Ásia para Rádio Gaúcha, Zero Hora, GZH e RBS TV.

MPF e os cânions

Para esclarecimentos sobre o imbróglio da concessão dos cânions de Cambará do Sul, o Ministério Público Federal reuniu Urbia, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) e prefeitura. A concessionária argumentou que não consegue construir atrações por restrições de regularização fundiária e o ICMBio respondeu que o contrato sinalizava onde construir. O prefeito Ivan Borges voltou a apontar que preços altos espantaram turistas. A empresa culpa estradas precárias e chuvas. O MPF sugeriu dividir o preço do ingresso, que abrange dois cânions por R$ 102. Urbia disse que o contrato não permite, mas ICMBio argumentou que autoriza, sim.

A procuradora Flávia Rigo Nóbrega retomará as reuniões em janeiro, chamando o governo do Estado, embora a concessão seja federal. Aqui de Tóquio, o secretário do Turismo, Ronaldo Santini, disse que o Estado entraria no processo como interessado. _

Entrevista Diego Sousa - Coordenador de Relações Internacionais de Shiga

"Sozinhos não somos tão fortes"

Reativar a parceria com Shiga, província-irmã do RS desde 1980, levará a troca de informações sobre prevenção a enchentes, afirma o coordenador de Relações Internacionais do governo de Shiga, Diego Souza.

Por que um brasileiro neste cargo?

Temos 9 mil brasileiros. Há escolas brasileiras, muitos trabalhadores em fábricas que nem falam japonês. É um esforço para que sejam atendidos, tenham documentos traduzidos e intérpretes.

Qual a importância da retomada da "irmandade"?

Como vimos na enchente no RS, a mudança climática vem ocorrendo. Tanto Shiga quanto RS renovaram a percepção de que sozinhos não somos tão fortes quanto juntos.

Como previnem desastres?

Há regras para construção de casas, que precisam ter pelo menos dois andares em áreas com risco de enchente. No segundo piso, precisa ter rota de evacuação. As estruturas dos prédios são preparadas para terremotos. Crianças são treinadas desde pequenas.

Como é viver em Shiga?

Maravilhoso. É um povo muito receptivo. Alimentos são frescos, transporte extremamente confiável, divisão de renda muito irmã. Mesmo quem faz um trabalho simples tem uma vida digna. _

Dragagem de Itapuã

Foi contratada a Ster Engenharia para fazer a dragagem emergencial do canal de Itapuã, onde navios têm encalhado. Aqui, na missão gaúcha no Japão, o presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, disse que o serviço começa nesta semana, com custo de R$ 8,8 milhões. A navegação prosseguirá durante a obra. As próximas prioridades são: Pedras Brancas, Feitoria, São Gonçalo e Leitão. Lembrando que foram aprovados recentemente R$ 731 milhões do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs) para dragar todas as hidrovias. 

ACERTO DE CONTAS

20 de Novembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

O G20 declara, a COP decide

A declaração do G20, no Rio, saiu enquanto aqui, em Baku, os negociadores da COP29 dormiam. Ao amanhecer, a leitura da maioria era de que, enquanto os chefes de Estados reunidos no Brasil declaram intenções, a COP29 decide. Está correta a análise: embora reúnam 80% do PIB mundial, emitem o mesmo percentual de gases de efeito estufa. Essas nações indicam para onde caminha a humanidade em termos financeiros, mas o fórum do Rio não tem poder de decisão.

A interpretação em Baku é de que o documento assinado no Rio é positivo, mas seu real impacto sobre o financiamento climático (a chamada Nova Meta Coletiva Quantificada) ainda é incerto. A taxação sobre os bilionários foi entendida como uma senha para os países ricos "encontrarem o dinheiro que dizem não existir para fornecer às nações em desenvolvimento".

Embora a ausência no documento de qualquer menção à redução do uso de combustíveis fósseis tenha frustrado ambientalistas, a citação sobre a necessidade de trilhões de dólares, e não mais bilhões, para financiamento climático, na declaração do Rio, é sinal político positivo.

Estima-se que o mundo precise de cerca de US$ 6,5 trilhões por ano, em média, até 2030, para a transição da economia. Isso inclui investimentos para a redução de emissões e para adaptação, outro ponto de consenso do G20, que também pode influenciar as discussões em Baku. _

Dobradinha de países

No campo diplomático, começa a haver articulação, em Baku, entre Brasil e Reino Unido. O primeiro porque sedia, em 2025, a COP30, em Belém, e não quer ver a conferência atual fracassar. O segundo porque foi a última sede da conferência em um país desenvolvido, em Glasgow, em 2021. _

Ajuda gaúcha

A experiência adquirida na enchente de maio no Vale do Taquari levará a startup Uniteg, do Tecnopuc, a auxiliar o governo de Valência, na Espanha, no desastre climático. A plataforma Safe City, desenvolvida pela startup, auxilia na gestão de famílias, monitora moradias afetadas e ajuda no apoio logístico. _

O case RS

A tragédia no RS permeia vários painéis no pavilhão brasileiro na COP29. Ontem, foi dia dos secretários de Meio Ambiente Marjorie Kauffmann (Estado) e Germano Bremm (Porto Alegre) e do diretor-presidente da Fepam, Renato das Chagas e Silva, falarem sobre projetos de adaptação no painel Recuperação e Resiliência: o caminho do RS na superação dos desafios climáticos e na construção de infraestruturas resilientes. O ministro da Secom, Paulo Pimenta, foi anunciado como painelista, mas não compareceu, informando incompatibilidade de agendas. A cadeira ficou vazia.

Hoje, Marjorie representa o Estado na abertura da reunião ministerial sobre urbanização e clima, promovida pela presidência da COP29, a ONU Habitat. Falará sobre as ações de reconstrução do Plano Rio Grande e o papel dos governos subnacionais no enfrentamento das mudanças climáticas. _

Saúde mental

O superintendente regional do Sesi-RS, Juliano Colombo, protagonizou momentos de reflexão na COP29 ao contar a tragédia das águas no RS, equilibrando estatísticas e histórias do drama humano. No painel Mudanças Climáticas e Impactos na Produtividade do Trabalhador - case Rio Grande do Sul, no pavilhão da CNI, alertou para o impacto da tragédia na saúde mental dos trabalhadores. Durante a cheia, o Sesi-RS recebeu apoio de R$ 65 milhões do Conselho Nacional para assistência, restabelecimento e reconstrução das comunidades. _

De olho em Belém

Aproveitando o ambiente de negócios propiciado pela COP29, Maurício Otávio Barcellos Castillos e Luciano Balen, da gaúcha Marcopolo, estiveram em Baku conversando com autoridades de Belém. Apresentaram o protótipo do primeiro ônibus híbrido movido a etanol como sugestão para o transporte durante a COP30, em 2025. _

Sabe qual foi o impacto por aqui da retirada da Argentina da COP29? Zero. Um negociador brasileiro, sob anonimato, disse à coluna que Javier Milei faz muito barulho, mas, na prática, sua gritaria pouco influencia o debate.

INFORME ESPECIAL

terça-feira, 19 de novembro de 2024


19 de Novembro de 2024 
CARPINEJAR

Elogiar é ser sincero

Ninguém quer um bajulador ao lado, porque o bajulador é o que mente no elogio. Pratica o elogio falso. Pratica o elogio genérico. Pratica o elogio superficial. É alguém que consegue machucar agradando, ferir com flores.

Talvez, para fugir desse extremo impostor, acabamos admitindo a cultura nociva da crítica. Talvez realizamos involuntariamente um incentivo exagerado à crítica.

Parece que a amizade e o amor virão de quem tiver a coragem de nos enfrentar, de indicar os nossos podres, de expor as nossas limitações, de desmontar as nossas personalidades. Olhe o perigo disso, olhe o atalho para relacionamentos dependentes e abusivos.

Dessa forma, o cupido seria desbocado, ofensivo, implicante. Não, não é verdade. É imensamente cansativo ter um urubu ou um corvo no ombro. A crítica não é a quintessência da franqueza, como nos ensinam. Os colegas não são autênticos somente quando apontam nossas falhas, como é tradicionalmente apregoado.

Estimulamos, sem perceber, o pior da convivência, de tal modo que evitamos o exercício do elogio, ou o colocamos no patamar da afetação, com rótulo de positividade tóxica. Elogiar é ser sincero. Elogiar é ser honesto. Elogiar é cuidar. Elogiar é inspirar o seu par a evoluir.

Eu prefiro dividir a rotina com quem me elogia a dar espaço a quem vive me criticando. Não é acomodação, mas amor-próprio. Não é vaidade, mas confiança. Sou casado com Beatriz porque ela demonstrou ser a pessoa, na última década, que mais me lembrou de minhas virtudes. Ela destaca as minhas conquistas.

Para corresponder às suas expectativas, busco ser um pouco melhor a cada dia. Ela não me pinta como um monstro. Ela não me põe para baixo. Eu não me vejo como uma criatura deficitária, imperfeita, em permanente dívida.

A crítica constante tem a única função de nos paralisar no acúmulo de frustrações. É um covil da inveja ou do ciúme. Nunca saberemos se aquele que critica não está ansiando pelo nosso lugar. Nunca saberemos se aquele que critica não procura obter uma vantagem.

É difícil uma cobrança desinteressada, uma reclamação construtiva. Na maior parte das vezes, a crítica apresenta o propósito de registrar historicamente a nossa incompetência. O elogio é edificante, pois nos motiva a trabalhar nossos pontos fortes, ao invés de redundar em nossas fraquezas - até porque os pontos fracos já conhecemos muito bem.

E quem critica não critica ocasionalmente. Sente-se poderoso como tutor de nossos pecados, e jamais para de criticar. Insaciável, sempre encontrará um defeito em nossas atitudes, sempre encontrará um senão em nossas condutas. É como se nunca prestássemos.

A crítica esconde os nossos piores inimigos. São os inimigos íntimos, aqueles que dizem nos ajudar, mas só pretendem se favorecer de algum jeito na concorrência, com o nosso desaparecimento ou anulação de nossa identidade.

São aqueles que falam mal de nós para nós, e continuam falando mal de nós para os outros. Amadurecer é ignorar dois tipos de companhia: o que diminui o seu esforço e o que empaca a sua vida. 

CARPINEJAR


19 de Novembro de 2024
NÍLSON SOUZA

Tios sem zap

Um me levou pela primeira vez num estádio de futebol, outro me ensinou a descascar laranjas, outra fazia o pudim de que eu mais gostava e tinha ainda aquela que me incentivava a continuar estudando sempre que me encontrava. Tive 14 tios por parte de mãe e cinco por parte de pai, sem contar aqueles que partiram antes da minha chegada numa época de elevada mortalidade infantil. Com exceção desses, todos foram longevos: minha mãe chegou aos 99 anos, uma de suas irmãs passou dos cem e a maioria virou a esquina dos 90 anos, lúcidos e ativos até o final, sempre cuidados com carinho por seus inúmeros filhos, netos e bisnetos.

Acho que cuidado é a palavra-chave desta nossa relação familiar. Tive uma infância abençoada, na companhia de tios e tias protetores, brincalhões e, ao mesmo tempo, desafiadores. Todos eles me deixaram boas lembranças afetivas.

- Dobra o dedão para trás que eu quero ver se tu és Fialho! - me dizia um que conseguia inclinar o polegar na direção oposta à mão até quase encostar no antebraço.

Nunca fui muito chegado a manobras corporais extravagantes, tipo movimentar as orelhas, revirar os olhos ou fazer o beiço descer até o queixo, mas cedo constatei que meu polegar esquerdo, sem muito esforço, dobra o suficiente para justificar essa marca simbólica de pertencimento familiar.

Gosto de mergulhar no pretérito da família para investigar nossas origens. Já sei, por exemplo, que meus antepassados maternos vieram dos Açores e até ajudaram a erguer esta cidade dos meus amores. Outro dia, numa dessas pesquisas, descobri que uma empreiteira do século 19 comandada por tios trisavós, a Baptista & Fialho, foi responsável pelas construções da Ponte de Pedra, do Theatro São Pedro, do finado Edifício Malakoff e de outros monumentos arquitetônicos da Capital.

E teve um dos sócios que se desgarrou e foi para o Interior fundar Lajeado. Antônio Fialho de Vargas batalhou muito por lá, organizou colônias de imigrantes, comprou e vendeu terras, e deixou seu nome em ruas e prédios públicos.

Conclusão vaidosa deste relato sobre um tempo de tios sem zap: esse pessoal que entorta o polegar também pega firme no trabalho. _

NÍLSON SOUZA

19 de Novembro de 2024
CONSCIÊNCIA NEGRA

CONSCIÊNCIA NEGRA

20 de novembro - Uma voz inspiradora contra o preconceito

Único treinador negro na Série A do Brasileirão, Roger Machado assumiu um papel importante na luta antirracista no futebol ao marcar posição com clareza sobre o tema. O atual treinador do Inter é um dos personagens de série especial do Grupo RBS sobre o mês da consciência negra

Mariana Dionísio - Manuela Ramos - João Praetzel

Penso que tivemos evoluções, o país começou a olhar para essa questão. Porém, vejo que os avanços ainda são pequenos. Para mim, o futebol amplifica, cristaliza e aponta o que somos como sociedade. Se a gente imaginar o futebol como uma pirâmide social, na base está o campo. Sejamos pretos ou brancos, quem olha de cima da pirâmide enxerga todos pretos. Ou somos pretos pela cor da pele, ou pela mesma origem social, em sua maioria esmagadora - disse Roger após a vitória sobre o Fluminense, ao ser indagado a respeito do Dia da Consciência Negra.

O ex-jogador sempre foi uma voz marcante na luta antirracista. É um dos maiores apoiadores do Observatório Racial do Futebol, dirigido por Marcelo Carvalho, amigo do técnico.

- Hoje, o futebol está descobrindo que o racismo não é só quando alguém chama uma pessoa negra de macaco. O racismo está quando a gente não vê treinadores negros, não vê gestores negros. Roger hoje não é só uma inspiração para que a gente sonhe em ser jogador de futebol, ele é uma inspiração para quem também sonha em ser treinador de futebol, em ser gestor de futebol - afirmou Carvalho.

Dos seus quase 50 anos, o treinador passou também a ajudar projetos paralelos, como o Diálogos da Diáspora, de publicação de livros de diversas áreas do conhecimento, para dar voz a quem nunca teve.

- O Roger traz para a realidade algo que certamente algumas pessoas preferem silenciar. É mais fácil silenciar. A gente vê cada vez mais alunos negros e indígenas no espaço universitário. E a gente viu que o mercado editorial não seguia na mesma velocidade. E foi em torno desse desejo de abrir o mercado editorial para promessas, para futuros autores e autoras, que a gente criou isso - conta Tadeu de Paula, coordenador do projeto.

Da literatura para a música, o espectro cultural do treinador foi aflorado por sua família, sempre com a negritude sendo o fio condutor entre tudo isso.

- Eu li e comecei a cultivar o hábito da leitura. Ler me deixou muito mais crítico sobre a vida, sobre tudo. Hoje, talvez os quilombos modernos sejam as escolas de samba, como lugares de resistência da cultura negra - ressaltou em entrevista ao ge.globo em 2022, quando ainda treinava o Grêmio.

Não por acaso, com a marca da família Machado, a Imperatriz Dona Leopoldina escreveu um samba-enredo para o carnaval 2025 com a temática "A cor do futebol - A Imperatriz marca um gol contra o preconceito racial", em que o técnico do Inter é um das fontes de inspiração.

- Sendo o único treinador da Série A, de um time gaúcho, caracterizado por ser o time do povo, que tem a mascote negro e que por vezes foi chamado de macaco, Roger merece estar em um lugar de destaque no nosso desfile para provar que o lugar do negro não pode ser delapidado. Ele deve hoje ser encarado como um lanceiro negro - defende Luiz Augusto Lacerda, carnavalesco da Imperatriz Dona Leopoldina e primo de Roger.

Um dos trechos do Samba dos Guris, que estará no Porto Seco no ano que vem, diz o seguinte:

"É flecha certeira na intolerância

Real negritude a enfrentar

Denunciar essa tamanha ignorância

Coragem de virar o jogo

Sigo a te observar

A luta não pode parar."

Versos que poderiam ter sido escritos por Roger. Homem, técnico e negro. Exemplo de uma voz do presente, criada no passado, que vai ressonar no futuro. 



19 de Novembro de 2024
OPINIÃO DA RBS

O diálogo constrói, o insulto atrapalha

Produzir consensos e fazer com que a reunião do G20 tenha resultados práticos exige habilidade diplomática, bom senso e cuidado com as palavras. A ponderação é ainda mais importante em um cenário global de divisões político-ideológicas acentuadas e motivadas por conflitos armados. Cabe ao Brasil, anfitrião do encontro, ser modelar na postura equilibrada para evitar que impasses frustrem os encaminhamentos finais da cúpula entre as maiores economia do mundo.

O próprio Lula já criticou Musk em termos duros. Mas, mais sensato ou esperto, desta vez desautorizou a esposa, mesmo sem citá-la. "Não temos que xingar ninguém", disse o petista, direcionando o foco para a pauta do encontro no Rio.

A declaração final do encontro do G20, prevista para ser assinada hoje pelos chefes de Estado, ainda ontem era motivo de intensas negociações e pressões. Taxação de grandes fortunas, posição sobre guerras em andamento e financiamento para a transição energética e de medidas para mitigar o aquecimento global e suas consequências eram temas à espera de consenso. Só com diálogo será possível alcançá-lo. Insultos apenas estorvam.


19 de Novembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Os riscos do "pacote pronto" de Haddad

Segue a longa espera pelo pacote de corte de gastos, que agora não vem antes de amanhã, mas provavelmente fique para quinta-feira. E não só porque o 20 de novembro foi transformado em feriado nacional, Dia de Zumbi e da Consciência Negra. Para essa data, está prevista a reunião bilateral entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Xi Jinping.

No domingo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o pacote "está fechado com o presidente". Mas também disse que "está faltando a resposta de um ministério", mais tarde identificado como o da Defesa. É a própria contradição em termos: está pronto, mas espera resposta.

Embora se especule que a contribuição da Defesa seja mais simbólica do que represente cifras robustas, fica a incerteza.

Um dos pontos em discussão seria o fim do pagamento de pensão para a família de militares expulsos das Forças Armadas por crimes cometidos ou mau comportamento, mecanismo conhecido como "morte ficta".

No mercado, valor é maior expectativa

Então, o pacote não parece realmente pronto, o que já provoca indagações. A Defesa vai mesmo contribuir? E entra ou não a essa altura famigerada pensão para filhas solteiras?

E ainda resta a questão crucial para o mercado: qual será o valor dos cortes. A expectativa já foi de R$ 60 bilhões, quando o anúncio começou a demorar caiu à metade.

No final da semana passada, voltou a subir: agora se especula que a redução de despesa possa chegar a R$ 70 bilhões. A cifra teria sido sinalizada por Haddad aos comandos da Câmara e do Senado, na antecipação das medidas feitas para ganhar apoio à aprovação da proposta de emenda constitucional e do projeto de lei que devem permitir a redução de despesas.

Desse valor, R$ 30 bilhões seriam cortados em 2025 e outros R$ 40 bilhões, em 2026. A principal mudança será a limitação do aumento real (acima da inflação) do salário mínimo a 2,5%, mesmo ponto de corte de despesas adotado no arcabouço fiscal.

Depois que circulou essa versão, há outro risco contratado: se tamanho dos cortes decepcionar, o dólar tende a voltar a subir. Ontem, ainda mantendo fé no pacote, fechou em baixa de 0,74%, cotado a R$ 5,747. Se voltar a subir, vai representar mais inflação, mais juro e aumento ainda maior no custo da dívida. _

Milei cede, Lula vence

Depois de muita especulação, a diplomacia brasileira obteve vitória ao produzir uma declaração final do G20. Era um teste crucial para ambição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como líder global. O presidente da Argentina, Javier Milei, chegou com cara de poucos amigos, mas demostrou de maturidade ao não barrar o documento, que precisa ser aprovado por consenso.

O desfecho bonito, em oposição às caras feias do cumprimento oficial teve precedente no recuo da Argentina sobre outra vitrine de Lula, a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, iniciativa para tentar eliminar problemas até 2030.

Se quisesse "causar", Milei teria provocado o fracasso diplomático da presidência brasileira do G20, que se encerra com a reunião de cúpula. Surpreendendo a todos, nem sequer fez questão de introduzir ressalvas por escrito.

A construção do consenso passou por ginásticas verbais - o G20 passa a defender a taxação de "altíssima renda líquida", em vez de "grande fortunas". Também se discute quais foram as outras moedas de troca. É bom ter em conta, ainda, que a declaração tem apenas palavras. O G20 não tem enforcement (palavra em inglês para se referir à capacidade de fazer cumprir uma decisão). _

A responsabilidade da concessionária

Mesmo que a origem da cratera aberta na freeway nas imediações de Glorinha não seja "culpa" da concessionária, é de sua responsabilidade.

Usuários que pagam R$ 22 para ir e voltar do litoral ficaram horas retidos em congestionamento. Em Estado em que o pedágio enfim havia se tornado um custo melhor compreendido, é um tiro no pé de todo o sistema de concessão. A prevenção de problemas, especialmente em períodos em que é possível prever movimento intenso na estrada, faz parte do contrato. _

Mercado ainda não chancela "juraço"

A percepção de que pode ocorrer uma alta no juro básico de 0,75 ponto percentual, de uma só vez, ainda não é majoritária. No Relatório Focus do Banco Central (BC), a maioria dos economistas consultados espera que o ano se encerre com a Selic em 11,75%. Para isso, basta uma alta de 0,5 ponto na reunião de 11 de dezembro.

No entanto, a projeção para 2025 subiu 0,5 ponto percentual de uma semana para a outra, e está agora em 12%. Novas elevações podem ficar para o próximo ano. Ou é o "atraso" típico do Focus. 

GPS DA ECONOMIA


19 de Novembro de 2024
EM FOCO

EM FOCO

Texto foi aprovado por líderes do bloco, que estão reunidos no Rio de Janeiro, e divulgado ontem à noite. Um dos obstáculos era a objeção da Argentina, que recuou. Comunicado também menciona as guerras na Ucrânia e Faixa de Gaza

Declaração final do G20 mantém pontos polêmicos

Após dias de impasse, os líderes do G20, que estão reunidos no Rio de Janeiro, aprovaram uma declaração final conjunta. Divulgado no início da noite de ontem, o texto manteve temas que causavam divergências entre os países.

A principal delas era sobre como abordar as guerras em curso na Ucrânia e no Oriente Médio. A saída para chegar a um consenso foi não fazer condenações nem à Rússia nem a Israel. Os países voltaram atrás, no entanto, na proposta inicial de não mencionar a palavra "guerra".

Os europeus pressionavam para incluir uma condenação mais dura à Rússia, com menção específica aos ataques à infraestrutura de energia ucraniana feitos por Moscou no domingo (leia na página ao lado).

Outra situação que adiou o acordo foi a dura resistência da Argentina a diversos trechos do texto. Caso não houvesse o aval de todos os países, a declaração conjunta seria inviabilizada, o que representaria um fracasso diplomático para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao final, porém, o presidente Javier Milei fez apenas objeções verbalmente. Com isso, temas como taxação de super-ricos, igualdade de gênero e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram incluídos.

Com 22 páginas e 85 parágrafos, o texto trata dos três temas prioritários da cúpula (combate à fome e à pobreza, transição energética e enfrentamento às mudanças climáticas e reforma da governança global), além de citar assuntos como a inteligência artificial (leia mais abaixo).

Aliança contra a fome

Outro recuo da Argentina ocorreu em relação à Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, principal tópico da presidência brasileira no G20. O país não constava na lista inicialmente divulgada pelo governo brasileiro e aderiu no último momento.

Em discurso na cúpula ontem, Lula anunciou a adesão de 82 países à aliança, cuja meta é acelerar a redução da pobreza e eliminar a fome até 2030.

Além dos países fundadores, a aliança terá 66 organismos internacionais, entre eles fundações como Gates e Rockfeller e bancos multilaterais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial. O presidente afirmou que este será o maior legado da cúpula deste ano.

- Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade - disse Lula.

- O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza. Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), em 2024, convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas - emendou.

A intenção é de que o mecanismo funcione por cinco anos, a partir de 2025, com um secretariado sediado na FAO, em Roma, na Itália.

Além de obter doações de recursos, uma das intenções da aliança é mobilizar fundos já existentes para programas que reconhecidamente funcionam, como os de transferência de renda condicionada, agricultura familiar, merenda escolar e cadastro único. Os países que desejarem receber dinheiro deverão se comprometer a adotar um dos programas.

Além disso, o BID anunciou que vai alocar até US$ 25 bilhões em financiamentos aos seus países-membros para a implementação de políticas e programas de combate à pobreza e à fome entre 2025 e 2030. _

Taxar super-ricos pode render US$ 250 bi, diz Lula

Em suas manifestações durante a cúpula do G20 ontem, Lula citou alguns dos temas que causaram mais polêmica entre as delegações. O presidente criticou as guerras em curso no mundo e defendeu a taxação de super-ricos e a reforma da governança global.

Segundo ele, a tributação sobre pessoas com patrimônio ultraelevado pode servir para financiar ações de combate à desigualdade e de enfrentamento a questões ambientais.

- Uma taxação de 2% sobre o patrimônio de indivíduos super- ricos poderia gerar recursos da ordem de US$ 250 bilhões por ano para serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais do nosso tempo - disse.

Em relação aos conflitos, Lula disse que o "mundo está pior" em comparação a 2008, quando houve a primeira reunião do G20, mas não citou diretamente a Ucrânia ou a Faixa de Gaza:

- Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada.

O presidente ainda afirmou que a reforma das instituições internacionais é essencial para evitar uma nova crise mundial.

- Não é preciso esperar uma nova guerra mundial ou um colapso econômico para promover as transformações de que a ordem internacional necessita - alegou. _

Como ficou

Confira alguns dos principais pontos da declaração aprovada ontem pelos países do G20

Igualdade de gênero: cita "total compromisso com a igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas".

Taxação de super-ricos: afirma que a soberania fiscal deve ser respeitada, mas destaca que os países vão buscar garantir que indivíduos de altíssima renda sejam "efetivamente taxados".

Guerras: dá mais ênfase ao conflito no Oriente Médio do que ao na Ucrânia. O texto alega "profunda preocupação" com a situação na Faixa de Gaza e com a escalada dos confrontos no Líbano e defende a solução de dois Estados.

Clima: renova o compromisso de zerar as emissões líquidas globais de gases de efeito estufa até metade do século e triplicar a capacidade de energia renovável até 2030.

Governança global: defende reforma do Conselho de Segurança da ONU, do FMI e do Banco Mundial.

Rússia reage à decisão dos EUA sobre mísseis

O governo russo reagiu ontem à decisão do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de autorizar a Ucrânia a atacar a Rússia com mísseis de longo alcance norte-americanos.

Segundo informações dos jornais The New York Times e The Washington Post e da agência AFP, a decisão de Biden foi tomada como resposta ao envio de tropas norte-coreanas para ajudar Moscou. Segundo Kiev, quase 11 mil soldados norte-coreanos estão na Rússia e começaram a combater na região de Kursk, parcialmente controlada pelas tropas ucranianas.

A Ucrânia pedia há muito tempo autorização para usar armas ocidentais de longo alcance para atacar bases a partir das quais a Rússia lança seus bombardeios e também para contra-atacar o avanço das tropas russas no leste. Os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), no entanto, expressavam relutância em aceitar o pedido devido ao temor de uma escalada no conflito iniciado em 2021.

Biden mudou de posição às vésperas de deixar a Casa Branca e da posse do republicano Donald Trump, crítico ferrenho da ajuda americana à Ucrânia.

Os mísseis devem ser usados inicialmente na região de Kursk.

O presidente Volodimir Zelensky, porém, disse que aguardaria o anúncio oficial da Casa Branca.

"Lenha na fogueira"

A Rússia afirmou que os EUA jogam "mais lenha na fogueira" com a decisão. Se for confirmada por Washington, a autorização levaria a "uma situação fundamentalmente nova quanto ao envolvimento dos EUA neste conflito", alertou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

A decisão foi revelada no domingo, poucas horas após um bombardeio russo em larga escala contra instalações do setor de energia da Ucrânia. Os ataques provocaram ao menos 11 mortes e obrigaram o país a anunciar cortes de energia ontem, poucas semanas antes do início do inverno no hemisfério norte.

O bombardeio russo de domingo gerou uma nova onda de condenações na comunidade internacional ao governo do presidente Vladimir Putin. _

Confira alguns destaques

1 Biden evita rampa

Na chegada ao Museu de Arte Moderna (MAM), todos os líderes precisavam percorrer um tapete vermelho com soldados dos dois lados e subir uma rampa para serem recebidos por Lula e pela primeira-dama, Rosângela da Silva. O presidente dos EUA, Joe Biden, foi o único que fez um caminho alternativo. Após descer do carro, Biden subiu até o primeiro andar em um elevador.

Já o presidente da China, Xi Jinping, foi o único que subiu a rampa com um segurança. Os demais estavam sozinhos ou com seus cônjuges.

2 Protesto

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) aproveitou a presença das delegações do G20 no Rio para realizar um ato com o objetivo de chamar a atenção para as mudanças climáticas.

Imagens de alguns líderes mundiais, que representam os países mais poluidores do planeta (China, EUA, Índia, União Europeia, Rússia e Japão), foram expostas parcialmente submersas em frente ao Pão de Açúcar.

3 Macron passeia em Copacabana

Na noite de domingo, véspera da abertura da cúpula, o presidente da França, Emmanuel Macron, foi visto caminhando pela orla de Copacabana. Ele estava de terno, cercado por seguranças e acompanhado da esposa, Brigitte. A presença de Macron foi registrada por várias pessoas que passavam pelo local.

4 Foto com ausências

Os líderes do G20 posaram para uma foto com o Pão de Açúcar ao fundo, para promover a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. Causaram mal-estar, no entanto, as ausências do presidente dos EUA, Joe Biden, e dos primeiros-ministros do Canadá, Justin Trudeau, e da Itália, Giorgia Meloni. Houve especulações de que o motivo seria a presença do chanceler russo, Serguei Lavrov. Eles chegaram ao local, no entanto, minutos após a foto.

5 Recepção calorosa

Uma recepção popular organizada aguardou o presidente da China, Xi Jinping, na sua chegada ao Rio, na noite de domingo. Integrantes da comunidade chinesa no Brasil formaram um corredor, com bandeiras e faixas, da saída do Túnel Rebouças até o hotel em que Xi se hospedou, em São Conrado.

Reconstrução do RS entra em acordo firmado por BNDES e banco da Ásia

Paulo Rocha - Direto do Rio de Janeiro

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) assinaram um memorando visando disponibilizar R$ 16,7 bilhões do banco asiático para investimentos no Brasil. O acordo foi fechado pouco antes da abertura da cúpula do G20.

O objetivo do memorando é complementar o financiamento de projetos alinhados ao Fundo Clima e ao Novo PAC. No caso do Novo PAC, os projetos devem promover a integração econômica entre Brasil e Ásia nos setores de infraestrutura de transporte, conectividade energética e digital, água e saneamento.

As duas instituições também anunciaram que vão colaborar nos esforços para financiar projetos de reconstrução do Rio Grande do Sul.

Outro objetivo é apoiar os projetos de desenvolvimento urbano e infraestrutura social para a realização da COP30, em Belém (PA), no ano que vem. A cooperação tem ainda o objetivo de mobilizar capital privado para projetos de infraestrutura.

O AIIB é um banco multilateral focado no desenvolvimento da Ásia, com sede em Pequim, na China, mas que conta com membros de todo o mundo, incluindo o Brasil.

A assinatura ocorreu na Marina da Glória e contou com a presença do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, do presidente do AIIB, Jin Liqun, do vice-presidente do AIIB, Konstantin Limitovskiy, e do diretor de Planejamento e Relações Institucionais do banco, Nelson Barbosa. 

segunda-feira, 18 de novembro de 2024


18 de Novembro de 2024
CARPINEJAR

O clássico do desespero

A secação deveria ter fair play em 2024. Não gostaria que nenhum time gaúcho caísse.

Não é justo diante das privações e dificuldades monumentais que experimentamos no primeiro semestre, quando encaramos o maior desastre ambiental do Rio Grande do Sul.

A enchente de maio fez o Grêmio passar quatro meses e 14 jogos longe da Arena. Não é uma situação que permita igualdade de condições com os demais participantes do Brasileirão. Assim como o Inter, transformou-se em um time mambembe, jogando sempre fora em etapa de consolidação do calendário. O Tricolor teve que atuar em quatro Estados com o fictício mando de campo.

Mesmo que o Colorado tenha conseguido decolar e garantir vaga direta na Libertadores do ano que vem, sofrendo idêntica penúria, sua performance não serve como régua. Foi uma exceção honrosa e inacreditável, com 14 partidas sem perder, batendo o seu recorde de invencibilidade no certame: 10 vitórias e quatro empates sob a batuta de Roger Machado.

O Grêmio parecia estável, o único do RS a não trocar de comando no vestiário, sem nenhuma ameaça de queda, até acumular três derrotas, um empate e apenas uma vitória nas últimas cinco rodadas. Não saiu do lugar (39 pontos), e viu o esquadrão de baixo se aproximar perigosamente. Faltando cinco compromissos, encontra-se a dois pontos do descenso. A distração custou caro - apoiada na clarividência do ídolo e estátua Renato Gaúcho de que o Grêmio não será rebaixado (frase entendida por um segmento da imprensa como onipotência).

O Juventude não teve seu estádio, Jaconi, comprometido pelas cheias. Em compensação, não apresentou o poder de investimento da dupla Gre-Nal. Inclusive, com plantel modesto, segurou a barra em boa parte da competição, com superioridade em casa e se complicando fora. Mas o padrão desandou, trocou de técnico (Jair Ventura por Fábio Matias) e imitou o histórico do Grêmio, com três derrotas, um empate e uma vitória nas últimas cinco rodadas, engolindo o posto de primeiro rebaixado no momento, com 37 pontos.

Grêmio e Juventude realizam o clássico dos desesperados na quarta-feira, na Arena. Se Juventude vencer, ultrapassa o Grêmio, com chance de alcançar a pontuação de segurança com Cuiabá e Cruzeiro em Caxias do Sul. Se o Tricolor vencer, praticamente assegura sua permanência na Série A, restando atingir somente mais um triunfo (talvez com São Paulo ou Corinthians em Porto Alegre).

Empate tem sabor amargo. Não ajuda ninguém, não salva ninguém.

É um mata-mata na reta final entre dois gigantes do Sul do país. É final de uma competição moral paralela. Unicamente um irá sobreviver. Quem superar o confronto empurrará o oponente para o abismo.

Grêmio tem a vantagem da torcida fanática e apaixonada. Chegou ao limite da gordura. Não pode correr o risco de decidir as fichas com Cruzeiro (lutando pela Libertadores) e Vitória (lutando contra o Z-4), respectivamente no Mineirão e no Barradão.

Daqui para frente, o emocional pesa, o psicológico faz a diferença e o sobrenatural conspira contra a matemática. Se Juventude repetir a campanha dos seus cinco recentes enfrentamentos, fica para trás, com 41 pontos. Se Grêmio repetir a campanha dos seus cinco recentes enfrentamentos, fica para trás, com 43 pontos.

É tudo ou nada, é virar a mesa.

Já aviso: não vou secar! Meu Estado não merecia esse coliseu. _

CARPINEJAR


18 de Novembro de 2024
cLÁUDIA LAITANO

O vale da lamentação

Em Novo Hamburgo, onde passei parte da infância, a Guerra Mucker era um assunto obrigatório na escola. O massacre dos membros de uma pequena comunidade religiosa de colonos, ocorrido há exatos 150 anos na região onde hoje é o município de Sapiranga, era - e é - um trauma mal resolvido na memória dos descendentes de imigrantes alemães.

Nos passeios ao Morro Ferrabraz com a escola, visitávamos a estátua do Coronel Genuíno Sampaio e aprendíamos que ele havia morrido como herói, combatendo os fanáticos que estavam tocando o terror na vizinhança, liderados por uma mulher chamada Jacobina Maurer. (Como tantos monumentos de personagens históricos reavaliados ao longo do tempo, Genuíno Sampaio recentemente andou perdendo a cabeça e a paz eterna de um golpe só. É dura a vida de estátua.)

Um romance, Videiras de Cristal (1990), de Luiz Antonio de Assis Brasil, e dois filmes, Os Mucker (1978), de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer, e A Paixão de Jacobina (2002), de Fábio Barreto, ajudaram a tornar um pouco mais conhecida a revolta messiânica que aconteceu quase 20 anos antes de Canudos - mas que não teve, no calor dos acontecimentos, a sorte de contar com um Euclides da Cunha para contar sua história. À vasta bibliografia sobre o assunto junta-se agora Jammerthal, o Vale da Lamentação: A Minha Guerra Mucker (Editora Oikos), do antropólogo João Biehl, professor da Universidade de Princeton e descendente de colonos alemães.

O livro não apenas situa historicamente o conflito, apoiado em farta pesquisa em arquivos de documentos, como apresenta um estudo etnográfico da região, ilustrado por imagens do fotógrafo dinamarquês Torben Eskerod. Para os leitores contemporâneos, soará familiar descobrir que boa parte do ódio que resultou na morte de 13 homens e quatro mulheres foi insuflada pela divulgação de "fake news" no jornal Deutsche Zeitung, editado por Karl von Koseritz - que pedia, sem economizar sangue na tinta, que os Mucker fossem eliminados o quanto antes, para honra e glória do cidadão de bem, urbano, de origem germânica.

João Biehl autografa Jammerthal amanhã, às 18h, na Feira do Livro. Antes, às 15h, no mezanino do Espaço Força e Luz, ocorre a abertura de uma exposição com curadoria de Marco Antonio Filho. Às 16h30min, também no Espaço Força e Luz, João Biehl conversa com Luís Augusto Fischer e comigo sobre o livro e a permanência da cicatriz Mucker na história do Rio Grande do Sul. _

CLÁUDIA LAITANO


18 de Novembro de 2024
DIRETO DA REDAÇÃO

DIRETO DA REDAÇÃO

Dez anos de "Timeline"

Querido David,

Peço desculpas por escrever assim, em público, mas confesso que tentei de todas as outras formas sem resposta. Mandei Whats, SMS, e-mail e nada. Cogitei ligar, mas convenhamos que, em novembro de 2024, ligação telefônica é mais inconveniente que maçã em salada de maionese. Deus nos livre.

Enfim, achei que te chamar por aqui talvez desse certo. Afinal, tu recheavas essas páginas de Zero Hora como ninguém. E não te preocupa que não quero te importunar com as coisas mundanas, viu? Por aqui tudo está como antes. Lula voltou. Trump voltou. Renato voltou. Roger voltou (mas esse para o Inter). Quer dizer, não sei por que as pessoas brigam, porque volta e meia a coisa volta. Ah, se eles soubessem o valor dos chopes cremosos.

Pois bem, o motivo do meu contato é direto. Nosso Timeline está completando 10 anos! A-há! Eu sabia que tu não tinhas lembrado. Éramos eu e o Tiago Boff que cuidávamos das datas, desde o início, lá em 2014. O Augusto também, é verdade. Tu lembras que nós ficávamos procurando as músicas que tu, sorrateiramente, escondias nas entrelinhas dos teus textos? Era nosso caça-tesouro pela manhã. Ah, que saudade!

Passamos por poucas e boas nessa década. Ouvimos ministros, juízes, deputados, atletas, atrizes, atores, cantores, anônimos e famosos. Fernanda Montenegro, Galvão Bueno, Tony Ramos, Ziraldo, Mauricio de Souza, Lulu Santos, Elza Soares, Faustão. Ex-presidentes, todos à exceção de Dilma. Fomos criticados, mas também aplaudidos. Cancelamos. Fomos cancelados. Fomos parar no Jornal Nacional. E no programa da Sônia Abrão.

E pensar na maluquice que foi juntar um trio tão diferente? O colunista brilhante, homem do texto impecável; um comunicador tanto jovem quanto genial, com uma rapidez de raciocínio ímpar; e a guria que gostava de política e havia passado uma temporada como repórter importante em Brasília. Para substituir o insubstituível Lauro Quadros. Que audácia!

Dez anos se passaram, querido David, e tu faz uma falta danada. Agora temos conosco o PG, que faz questão sempre de te citar como o cara generoso que o acolheu em ZH. Mas, antes de me despedir, preciso te contar algo que, espero, vai te deixar feliz. Sabe aquele canteiro verde na Erico Verissimo que é nossa vista do estúdio da rádio? Ele agora tem nome: Largo David Coimbra. Juro! Com placa azul (claro) e tudo. Nome escolhido para fazer jus ao integrante mais incrível desse programa. E o amigo mais a favor da vida que eu conheci.

Saudade. Comemora aí por nós. 


18 de Novembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo - Priscila Schapke

Respostas capitais

"Gaúchos envelhecem com menos mão de obra qualificada, retomada será complexa"

Priscila Schapke é diretora e sócia da Fesa Group, ecossistema que oferece soluções para contratação e gestão de profissionais, com escritórios no Brasil e no Exterior. A executiva aponta setores que estão mais aquecidos pós-enchente, mas alerta para uma preocupação: o envelhecimento da população gaúcha e o impacto na mão de obra.

Quais setores estão com melhor recuperação depois da enchente?

A tragédia foi espalhada e diversificada. Algumas indústrias calçadistas da região de Igrejinha, Três Coroas e Campo Bom foram afetadas, com muitos profissionais atingidos. Na Região Metropolitana, indústrias farmacêuticas foram muito impactadas. Pequeno comércio e varejo também estão sofrendo. 

As indústrias próximas a rodovias, principalmente de plástico e metalmecânica, foram impactadas, mas por serem de grande porte, conseguiram se recuperar de forma rápida. Indústrias de alimentos e bebidas conseguiram obter um efeito positivo, com compra de insumos. O agronegócio também sofreu, mas cerca de 90% da colheita já havia sido feita antes da enchente. O impacto é mais de médio e longo prazo. Setores de máquinas e de insumos agrícolas tiveram congelamento de contratações, estimando impacto maior em 2025.

Quais os segmentos mais e menos aquecidos para o próximo ano?

O setor de plásticos, para autopeças e embalagens, está entre os mais aquecidos. O mercado de tecnologia teve impacto menor da enchente, não precisa de muito espaço físico. Indústrias de bebidas e alimentos seguem com boas perspectivas para 2025. Entre todos, o setor de infraestrutura é o que deve ter grande alta, por investimentos públicos e privados para reconstrução. Mas ao contrário dos demais, não está com perspectiva positiva por questões políticas e econômicas e cortes que terão de ser feitos. A construção civil também está muito aquecida, com procura por imóveis de baixa renda devido a prejuízos da enchente, mas também novas construções de luxo.

Como a enchente pode impactar o longo prazo da economia gaúcha?

Temos muitos estudos referentes ao Katrina, o quanto impactou a economia dos Estados Unidos. É preocupante para o RS. Em situações como essa, há perda de mão de obra qualificada. A população no pós-Katrina reduziu em 30%. A população gaúcha está envelhecendo, com redução de mão de obra qualificada. Se perdermos profissionais qualificados, a retomada do RS será complexa.

Que opções haveria para reter ou repor capital humano?

Existem movimentos do empresariado para não levar posições estratégicas para fora do RS. Também vemos movimentos de contratação de imigrantes e projetos para contratação de mulheres para operações que normalmente são mais masculinas. Mas não bastam iniciativas internas. Precisamos dos suportes municipal, estadual e federal, incentivos para as empresas manterem suas operações no Estado e poderem investir em pessoas.

Há como reduzir a tendência de envelhecimento da população gaúcha?

Trazer novas famílias jovens de fora para cá. O RS sempre foi bastante fechado. Se não houver esse movimento de trazer famílias mais jovens, em 20 anos, o impacto vai ser muito grande.

Uma mudança de escala, com menos dias de trabalho, atrairia pessoas ao RS?

O gaúcho é bastante conservador. As empresas, com exceção das de tecnologia, estão voltando ao presencial. Não acredito que, no curto prazo, haja redução de um dia útil de trabalho por semana. O que vemos é que ter um dia remoto se mostra saudável, atraindo e retendo mão de obra mais jovem.

GPS DA ECONOMIA