sábado, 6 de dezembro de 2025



A Reuters é uma das agências de notícias mais respeitadas no mundo. Segundo o jornalista, "no final do ano passado documentos internos projetaram que 10% do faturamento anual se deve à divulgação de propagandas, de itens proibidos e de golpes". Esses 10% correspondem a estratosféricos US$ 16 bilhões.

Os documentos revisados pela Reuters mostraram que a Meta deixou de identificar e de apagar uma avalanche de anúncios fraudulentos que expõem bilhões de usuários a esquemas criminosos de investimentos financeiros, cassinos online ilegais e à venda de remédios falsos.

Em relação aos crimes contra a saúde pública brasileira cometidos em parceria com a Meta, quadrilhas de estelionatários se apropriaram de minha imagem com tanta facilidade que chegaram a colocar à venda um curso na internet para interessados em aprender a falsificar minha voz por inteligência artificial, com a finalidade de vender tratamentos falsos. Uma matéria publicada no Uol pela jornalista Isabela Aleixo mostrou que os vigaristas tinham mais de 600 alunos matriculados.

Como já expliquei nesta coluna, fiz uma denúncia ao Ministério Público de São Paulo e pedi os préstimos do escritório de advocacia Bottini e Tamasauskas na tentativa de descobrir quem são esses meliantes. É tarefa inglória, porque a Meta se recusa a identificá-los e a legislação brasileira ainda não está preparada para enquadrá-la em nosso código penal.

Enquanto isso, milhares de pessoas ingênuas caem em golpes que as fazem comprar comprimidos de conteúdo desconhecido que apregoam curar diabetes, dor nas costas, neuropatias periféricas ou hipertensão, além de uma infinidade de suplementos alimentares inúteis e do abecedário completo de vitaminas.

A matéria da Reuters continua: "Muitas dessas fraudes partem de anunciantes suficientemente suspeitos para serem detectados pelos sistemas internos de segurança da Meta. Mas a companhia só os proíbe quando seus sistemas automatizados estimam em pelo menos 95%, o grau de certeza de que se trata de fraude".

E, mais grave: quando o usuário da rede clica numa dessas propagandas-golpe, passa a receber outras da mesma espécie, graças à aplicação dos algoritmos personalizados que se baseiam nos interesses do usuário. É um esquema armado para otimizar os lucros da empresa em sociedade com golpistas para tomar dinheiro de pessoas de boa fé.

O repórter entrevistou Sandeep Abraham, que trabalhou na Meta como investigador de segurança: "Se os legisladores não toleram que os bancos lucrem com fraudes, não deveriam tolerá-las na área da tecnologia".

Anos atrás, quando começaram a aparecer os vídeos fake usando minha imagem, tentei inúmeras vezes pedir que os tirassem do ar. Santa inocência, imaginei que tratava com gente honesta e bem intencionada. Nas raríssimas vezes em que se dignavam a responder, uma mensagem automática dizia que o vídeo obedecia às regras estabelecidas pela plataforma. Nunca derrubaram uma propaganda falsa sequer.

Na investigação da Reuters, Jeff Horowitz afirma que um documento de 2003 indica que a Meta estava ignorando a vasta maioria das queixas contra golpes: "Os funcionários da área de segurança da empresa estimavam que naquele ano os usuários do Instagram e do Facebook tenham documentado cerca de 100 mil propagandas falsas e tentativas de golpe, por semana. A Meta ignorou ou rejeitou incorretamente 96% deles".

Você poderá pensar: com tantos vídeos que chegam até eles todos os dias, deve ser impossível separar o joio do trigo. Há mais de 10 anos, tenho um canal com mais de 4 milhões de inscritos no YouTube. De acordo com o ChatGPT, as estimativas mais confiáveis são de que o YouTube publique de 2,5 milhões a 3 milhões de vídeos por dia. Nunca vi uma propaganda falsa em meu nome. Por duas ou três vezes nesses anos todos, comunicamos alguma incorreção que foi imediatamente retirada.

Se a tecnologia do YouTube consegue identificar e eliminar golpes com tamanha eficiência, por que o mesmo não acontece com o Instagram e o Facebook? A resposta está nos US$ 16 bilhões anuais que a plataforma fatura com eles. 

Drauzio Varella 

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