06 de Dezembro de 2025
MARTHA MEDEIROS
Que dia da semana é hoje?
Pessoas muito idosas não têm essa bênção de apenas 20 segundos de desconexão. "Que dia é hoje?", perguntam a si mesmos ao acordar, e a angústia da desinformação se prolonga. O que tenho mesmo que fazer? Alguém chegará? É uma torturante sensação de abandono. O que vai ser de mim sem poder confiar em mim? Por isso, precisam estar sempre acompanhadas por familiares ou cuidadores que as devolvam ao seu eixo central, situando-as no tempo e espaço, mesmo que isso leve algumas horas. Dependendo do comprometimento neurológico, os ponteiros do relógio avançam e a segurança não vem. Sorte dos idosos que conseguem relaxar e entregar-se a quem zela por eles. Os ansiosos se desesperam.
Neste exato momento, são 9h30 de um sábado ensolarado, vou escrever mais um pouco e depois almoçar com minha mãe no restaurante preferido dela, onde ela pede sempre a mesma coisa e damos as mesmas risadas. À tarde tentarei terminar este texto, mas o mais provável é que eu o deixe pela metade e vá jogar conversa fora com minha filha, que não mora no Brasil e veio nos visitar. É sábado, como já disse. Posso terminar o texto amanhã. Não me importo de transformar o domingo em um valoroso dia útil.
Afinal, é bom ou é ruim desconsiderar o dia da semana em que se está?
Quando é minha vez de visitar esta filha, aterrisso no país em que ela mora e, automaticamente, as quintas-feiras, as sextas, as segundas deixam de existir. Todos os dias são sábados, e cada sábado é diferente do outro. O espírito do dia é que me conduz. Não há uma rotina ordenando o que devo ou não devo fazer, não existe a rigidez do horário em que devo sair da cama. Os compromissos são outros - um brunch com um amigo, visitar um museu, pedalar pela cidade.
A urgência é pelo encantamento com a vida, e não com a sina da sobrevivência. Que diferença faz qual é o dia da semana para quem está flanando em Paris? Às vezes, os melhores fins de semana caem numa terça-feira, como já disse a escritora Leila Ferreira. Viagens: em contraponto à nossa rotina repetitiva, elas funcionam, metaforicamente, como os 20 segundos sagrados em que não pertencemos a nenhuma engrenagem, somente ao comando da alma.
Do que concluo: ando pensando demais. Hora de fazer as malas.
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