
06 de Dezembro de 2025
PARA VER - Ticiano Osório
O filme "Bugonia" (2025), em cartaz nos cinemas, reúne três nomes que já viraram figurinhas carimbadas no Oscar: a atriz Emma Stone e o ator Jesse Plemons, ambos estadunidenses de 37 anos, e o diretor grego Yorgos Lanthimos, 52
Aliens e teorias da conspiração
Três nomes que já se tornaram assíduos nas cerimônias do Oscar estão reunidos em Bugonia (2025). No filme em cartaz nos cinemas de Porto Alegre, Yorgos Lanthimos dirige a atriz Emma Stone e o ator Jesse Plemons.
O grego Lanthimos é o diretor de Dente Canino (2009), que disputou o Oscar internacional. Depois, ele concorreu ao prêmio de roteiro original, por O Lagosta (2016), e recebeu duas indicações nas categorias de melhor filme, como um dos produtores, e melhor direção, por A Favorita (2018) e Pobres Criaturas (2023).
Stone ganhou duas vezes o Oscar de melhor atriz, por La La Land (2016) e Pobres Criaturas, e foi indicada como coadjuvante por Birdman (2014) e A Favorita.
Plemons só concorreu uma vez, como coadjuvante em Ataque dos Cães (2021). Mas na última década atuou em sete indicados ao Oscar de melhor filme: Ponte dos Espiões (2015), The Post: A Guerra Secreta (2017), Vice (2018), O Irlandês (2019), Judas e o Messias Negro (2020), Ataque dos Cães e Assassinos da Lua das Flores (2023).
Os três já haviam trabalhado juntos em Tipos de Gentileza (2024), que deu a Jesse Plemons o prêmio de ator no Festival de Cannes, mas foi solenemente - e merecidamente - ignorado no Oscar. O mesmo não deve - e nem deveria - acontecer com Bugonia, comédia ácida baseada em Save the Green Planet! (2003), do sul-coreano Jang Joon-hwan.
Bugonia talvez seja a obra mais acessível de Yorgos Lanthimos, cineasta célebre por provocar desconforto, choque ou perplexidade. Mas continua sendo um filme de Lanthimos: tem um olhar misantropo e um pé no bizarro, combina senso de humor com pessimismo, crueldade e violência, examina e ridiculariza as dinâmicas e as figuras de poder.
Emma Stone encarna Michelle Feuer, CEO de uma grande farmacêutica. Capas de revistas mostram que Michelle é uma estrela do mundo dos executivos. Já no trabalho, é o pavor da área de RH. Na empresa, em nome do suposto bem-estar dos empregados, ela estabelece que todos podem ir embora às 17h30min - a não ser que estejam ocupados, tenham coisas a fazer, metas a cumprir etc. O horário de encerrar o expediente não é obrigatório: o funcionário "fica livre para decidir". O timing cômico da atriz deixa cada ponderação mais perversa.
Michelle é sequestrada pelo apicultor Teddy (Jesse Plemons) e seu primo autista, Don (vivido por Aidan Delbis, que tem autismo). Não há pedido de resgate.
Teddy acredita que Michelle é uma alienígena disfarçada, vinda do planeta Andromeda em missão maléfica. Os andromedanos estariam dizimando as abelhas, que, com seu trabalho de polinização, respondem por um terço da produção global de alimentos - "É como sexo, mas mais limpo", compara o personagem de Plemons. "Ninguém se machuca."
Os dois primos se prepararam fisicamente e "limparam o cache psíquico" para o sequestro. No cativeiro, eles cortam todo o cabelo de Michelle (Stone teve sua cabeça raspada de verdade) e besuntam seu corpo com um creme anti-histamínico, para impedi-la de enviar um sinal de socorro. Simultaneamente, Teddy exige que ela marque uma audiência com o imperador andromedano.
Não convém avançar na sinopse, mas vale dizer que há cenas perturbadoras, sobretudo quando combinadas à música de Jerskin Fendrix. Os diálogos refletem sobre o capitalismo, a polarização política e o comportamento humano - ou talvez a desumanização decorrente da ganância e do radicalismo. O enredo satiriza a tendência de nos escorarmos no chamado viés de confirmação, ou seja, buscamos e interpretamos informações que validam crenças já existentes, ignorando ou minimizando as evidências contrárias.
O filme vai ao encontro do que o pesquisador canadense Marc-André Argentino, especialista em terrorismo, extremismo violento e combate à radicalização, disse em entrevista à repórter Isabella Sander, de Zero Hora. Para ele, o movimento de extrema direita QAnon "criou uma população mais vulnerável a teorias conspiratórias" - que vão de "eleições roubadas" à associação entre o uso de Tylenol e o autismo. "É qualquer narrativa que reforce sua visão de mundo", resumiu.
Quando Don pergunta ao primo se ele tem certeza de que Michelle é uma E.T., Teddy responde: "Os sinais estão claros. Mas você só nota se estiver procurando". O apicultor também prefere achar um único culpado para os seus problemas e os do mundo, desconsiderando - de propósito ou por visão obtusa - que quase sempre as razões são multifatoriais. Não à toa, a certa altura Michelle dá-se por vencida em um debate natimorto como muitos que ocorrem nas redes sociais: "Não posso mudar sua opinião".
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