
Quem perde com tarifaço de Trump?
O melhor resumo do dia seguinte ao tarifaço de Donald Trump veio na capa da revista britânica The Economist: Ruination Day (jogo de palavras com o Liberation Day, o 2 de abril do presidente dos Estados Unidos). Embora tenha sido um dia negativo para quase todos os mercados, os mais impactados foram... os americanos.
Os principais índices fecharam no vermelho forte: o tradicional Dom Jones caiu 3,98%, o mais abrangente S&P 500 mergulhou 4,84% e a Nasdaq, bolsa de tecnologia, despencou 5,97%. São níveis de perda compatíveis com momentos de crise global.
Gigantes americanas perderam bilhões em valor de mercado. A Apple desabou 9,25%, a Nike derreteu 14,44%. Ambas têm unidades na Ásia, região mais prejudicada pelas "tarifas punitivas" de Trump, assim como muitos motores da economia dos EUA, sejam big techs ou não. A perda de valor de mercado da Apple foi de US$ 311 bilhões.
O dólar perdeu força ante várias moedas, especialmente as mais fortes - euro, iene e franco suíço - mas até de países emergentes. No Brasil, a cotação caiu 1,23%, para R$ 5,628. Durante o dia, chegou a baixar para o patamar de R$ 5,594 por volta do meio-dia.
Os números ilustram o tamanho do erro de Trump. Além do cálculo primário para definir "tarifas punitivas", que deformam o mercado de forma artificial, há um equívoco primário: os grandes superávits de países como China, Vietnã e Camboja - parte dos chamados "15 sujos" - não significam que os EUA estão sendo "pilhados".
Nesses resultados, estão "exportações" de empresas como Nike e Apple, que produzem partes na Ásia para integrá-las em território americano. Ou até exportam a partir do Vietnã, mas transferem lucros para os Estados Unidos. Só a Nike tem 71 unidades no Vietnã. Saem de lá 50% de sua produção de calçados e 28% das roupas e acessórios. Trump está, portanto, taxando... a produção americana.
Para muitos analistas, é ruim que o presidente da maior democracia liberal do mundo tente encerrar um capítulo da história, o do livre-comércio. Mas é pior ainda que o faça de forma amadora, sem atenção para o alcance dos negócios com base em seu próprio país, muito menos com peculiaridades do comércio internacional. _
Razões de um "pibão" em ano de catástrofe
O resultado efetivo do PIB do RS foi ainda maior do que o projetado pelo estudo do FGV Ibre. Conforme o Departamento de Economia e Estatística (DEE), a alta no ano da catástrofe climática foi de 4,9%, enquanto o estimado era de 4,2%.
A surpresa havia começado ainda no resultado do segundo trimestre, que trouxe a "boa notícia" de perda de apenas 0,3% e a coluna já havia alertado para a diferença entre estoque e fluxo. No Estado, as perdas de estoque de capital - ou seja, de estrutura produtiva, tanto pública quanto privada - foram imensas, mas no fluxo houve até aceleração para repor as perdas da enchente de maio. Essa é uma parte relevante da explicação.
Outra foi o fato de a safra de soja ter sido preservada, porque cerca de 90% já estava colhida antes da inundação. E mais uma grande contribuição veio de doações, que ajudaram a movimentar o comércio e dar impulso ao setor de serviços.
É melhor ter PIB forte depois de uma catástrofe do que o oposto. Mas é preciso levar em conta que não só ainda há muito a reconstruir no RS como o Estado precisa atuar sobre as causas de seu crescimento histórico inferior aos dos vizinhos do Sul.
6,42%
foi o mergulho da cotação do petróleo do tipo brent, referência no mercado global, ontem. O preço do barril fechou a US$ 70,14. O número da queda representa a percepção de que o tarifaço de Donald Trump vá provocar desaceleração em todo o planeta, inclusive e de forma mais imediata nos Estados Unidos. O preço do petróleo é muito sensível a flutuações nas projeções de atividade econômica: se vai diminuir, as compras do combustível fóssil também caem.
Problemas com cálculo e geografia - calçados entre boas e más notícias
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) observa que haverá impacto positivo e negativo, ao mesmo tempo, do tarifaço de Donald Trump.
O lado bom é que a tarifa de 10% imposta aos calçados brasileiros é menor do que a aplicada a concorrentes asiáticos (produtos de China, Vietnã e Indonésia serão taxados em até 46% ao entrarem nos EUA a partir do dia 9) com possível prazo para negociações. Significa que o Brasil pode exportar mais para os EUA por ganho de competitividade, o que também é importante para o RS, de onde saem cerca de metade das exportações brasileiras de calçados.
O lado ruim é que China, Vietnã e Indonésia não vão deixar de produzir, ainda que percam protagonismo no mercado americano. Na realocação, eles devem buscar fatias em mercados de outros países, possivelmente diminuindo a participação brasileira.
Segundo o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, o próprio mercado brasileiro deve passar a ser opção para os asiáticos. Cerca de 80% dos calçados que entram no Brasil já vêm da região.
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