
12 DE OUTUBRO DE 2020
DAVID COIMBRA
Como ter Ísis Valverde e Marina Ruy Barbosa
Sonhei com uma panela, no fim de semana. Antes que você me critique, quero dizer que concordo com a crítica: uma pessoa contar sobre seus próprios sonhos é a maior chatice. Se tem algo que considero insuportável é alguém começar: "Tive um sonho estranho essa noite..." Quando ouço isso, já olho para o lado, esperando que a pessoa perceba que não estou interessado no sonho dela. Mas não adianta. Ela quer muito relatar em pormenores tudo o que sonhou. Aí desanda a narrar: "Eu estava no meu apartamento, mas ao mesmo tempo não era o meu apartamento. Então, de repente, o apartamento sumiu e eu estava numa praia, uma praia linda e deserta e..."
Ave Maria! Por que é que as pessoas acham que outras pessoas vão querer saber essas coisas? Os psicanalistas ganham, e bem, para ouvir essas histórias. Por que tenho de ouvir de graça?
Na abertura daquele seu famoso livro, A Interpretação dos Sonhos, Freud escreveu que "todo sonho se revela como uma estrutura psíquica que possui um significado e que pode ser inserido como um ponto designável nas atividades mentais da vida de vigília".
Quer dizer: todo sonho tem um sentido oculto na vida do sonhador. Não sei, não. Tenho cá minhas dúvidas. Em todo caso, se Freud estivesse certo, eu não perderia tempo investigando qual é o significado psíquico de uma panela. Seria aborrecido demais.
E é por isso que estou aqui escrevendo a respeito: não por causa do sonho, não vou chateá-lo, amado leitor, contando um sonho, mas por causa do tema do sonho. Porque é um desperdício sonhar com uma panela.
Por que não sonhar, por exemplo, com a Megan Fox? Ou, talvez, um sonho mais nacional, como a Marina Ruy Barbosa e a Ísis Valverde. Isso, sim, seria um sonho!
A propósito, deixe-me dizer uma coisa, adorado leitor: essas duas, a Marina e a Ísis, são as mulheres da década. Quiçá, do começo do século. Porque elas combinam formosura com malícia e manemolência. Elas sentariam com você e os amigos numa mesa de bar e beberiam chopes cremosos até de madrugada e jogariam as cabeças perfeitas para trás ao gargalhar das piadas indecentes que porventura fossem contadas. Não duvido de que elas próprias contassem piadas indecentes.
Marina e Ísis. Isso, sim, seria um sonho. Mas uma panela! Não tem cabimento.
Acordei-me levemente agastado por ter sonhado com aquela panela. Não quero que isso se repita e estou tomando providências. Uma vez, li em algum lugar que aquilo em que você pensa, quando está prestes a dormir, em geral se torna assunto de seus sonhos. Venho elaborando, portanto, uma lista de bons pensamentos a fim de me cevar com eles durante as madrugadas.
Em meus sonhos, quero estar na minha casa de madeira, uma casa aconchegante, em que sempre haja alguma comida boa e quente no fogão. Haverá um grande pátio, na minha casa, com um grande pastor-alemão brincando sob as parreiras e uma horta da qual colherei especiarias e árvores frutíferas e uma rede pendurada entre dois troncos dessas árvores. Nos fundos do pátio, terei a minha biblioteca e lá poderei ler desde os gibis do Tex Willer até os clássicos, tenho muitos clássicos para ler e reler. Haverá uma geladeira, na minha biblioteca, onde guardarei as cervejas para partilhar com os amigos, quando eles vierem ver o jogo comigo. Talvez eu jogue uma ou duas partidas de xadrez, na minha biblioteca, e, de vez em quando, sairei pela rua, cumprimentando os vizinhos, jogando conversa fora, deixando o sol esquentar meus ombros e esticando um pouco as pernas. Farei tudo isso, nos meus sonhos. Acompanhado de Ísis e Marina, evidentemente.
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