sábado, 14 de setembro de 2024



14 DE SETEMBRO DE 2024
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Eleição em São Paulo coloca Marçal no radar de Lula e Bolsonaro para 2026

Fenômeno político

Ex-coach que concorre pelo PRTB disparou nas pesquisas com discurso beligerante e antipolítica e alterou os rumos de uma disputa que estava inclinada a repetir a polarização nacional. Influência sobre próximo pleito presidencial já começa a ser avaliada pelos principais partidos

Maior e mais cobiçado colégio eleitoral do país, a capital paulista costuma indicar aos partidos as tendências políticas que irão nortear a população brasileira dois anos depois, na disputa pela Presidência da República e pelos governos estaduais. Em 2024, a polarização nacional estabelecida entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Jair Bolsonaro se reflete na campanha, mas acabou turvada pelo estilo debochado e agressivo de Marçal.

Dono de uma fortuna declarada de R$ 169 milhões e com engajamento digital oito vezes superior aos nove adversários somados, Marçal encarnou o papel de outsider, o candidato antissistema que despreza a política tradicional. Nos discursos, diz que não precisa de partidos nem de aliados, simplifica problemas complexos e faz promessas mirabolantes, como a construção do maior arranha-céu do mundo e teleféricos para transportar moradores de comunidades pobres.

Sua principal estratégia, contudo, é incentivar o individualismo e disseminar entre os eleitores a crença de prosperidade financeira baseada em inteligência emocional.

Esse é o método com o qual enriqueceu vendendo cursos de autoajuda. Dessa forma, triplicou as intenções de voto, saltando de 7% em maio para 23% na mais recente pesquisa Quaest, divulgada na quarta-feira.

O crescimento vertiginoso, calcado basicamente na multiplicação de memes e vídeos curtos nas redes sociais, assusta Lula e Bolsonaro. Ambos estão empenhados em eleger, respectivamente, Boulos e Nunes, marcando a vitória como uma conquista pessoal.

Para tanto, compraram brigas internas em seus partidos. Lula fez o PT abdicar de candidatura própria pela primeira vez na cidade e Bolsonaro rifou os postulantes do PL, preferindo indicar o vice de Nunes. O objetivo era polarizar a eleição, emulando o antagonismo nacional.

A evolução da campanha logo mostrou que Marçal se tornaria um complicador incontrolável. Nos debates, descumpre regras, faz acusações sem provas e enerva os adversários criando apelidos pejorativos. Boulos virou "Boules", alusão à linguagem neutra usada em um comício do candidato, Nunes é o "Bananinha", José Datena (PSDB) é o "Dapena" e Tabata Amaral (PSB), a "Chatabata".

O grupo reagiu reforçando na propaganda uma condenação criminal de Marçal por integrar quadrilha de desvio em contas bancárias e as relações de membros da campanha com o PCC.

Reações nos dois lados

Tarcísio, porém, redobrou a aposta no aliado. Candidato à reeleição e com 65% do tempo de rádio e TV, Nunes recuperou terreno exibindo o apoio do governador e realizações da gestão municipal. Com o latifúndio midiático, o maior na história das eleições paulistanas, o prefeito avançou em quase todas as faixas de renda e idade, melhorou a própria avaliação e conquistou eleitores de Bolsonaro que haviam migrado para Marçal.

Nos bastidores, os estrategistas de Nunes já dispensam o apoio do ex-presidente no primeiro turno. O comitê trabalha para desidratar Marçal e forçar um segundo turno contra Boulos, ocasião em que uniria o eleitorado de direita.

Ciente de que Marçal registrou aumento na rejeição e desconfiado de que ele pode ter batido no teto das intenções de voto, Bolsonaro ensaia reaproximação com Nunes. Agora, o objetivo é se engajar na reta final da campanha e aparecer como fiador de um eventual êxito sobre a esquerda.

O ex-presidente sabe que as chances de aprovar no Congresso uma anistia à inelegibilidade passam pela imagem de que é capaz de galvanizar candidaturas vitoriosas em torno da própria imagem, catapultando aliados nos Estados e municípios. Já Lula busca pavimentar o caminho à reeleição recuperando a capital paulistana após o fiasco da derrota de Fernando Haddad no primeiro turno em 2016, quando João Doria obteve o triplo de votos do PT. _

FÁBIO SCHAFFNER

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