quinta-feira, 19 de setembro de 2024


19 de Setembro de 2024
EM FOCO -Anderson Aires*

EM FOCO

Comunicado do Copom destaca pressões existentes no mercado de trabalho, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas para justificar o aumento unânime da taxa Selic, o primeiro realizado no governo Lula. Colegiado do Banco Central deixa em aberto novas altas e a "magnitude total do ciclo ora iniciado"

BC eleva o juro básico, que vai para 10,75%

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu ontem elevar a taxa básica de juro, a Selic, em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, em decisão unânime. É a primeira alta de juro no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ferrenho crítico do aumento da taxa. A última elevação do indicador havia sido em 3 de agosto de 2022.

Em comunicado veiculado após a divulgação do aumento do juro, o Copom apontou que "o cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista".

O colegiado deixou em aberto nova elevação na próxima reunião, em 5 e 6 de novembro, assim como o tamanho do ciclo de alta. "O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, (...) das projeções de inflação (...) e do balanço de riscos", ressaltou.

A elevação já era esperada pela maior parte do mercado. Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirma que o BC analisa dois movimentos distintos. Em uma ponta, juros caindo nos EUA e deflação recente criam ambiente para manutenção do juro no nível atual. Na outra extremidade, fatores como estiagem e impacto nos custos de energia pesam mais no lado pela elevação da Selic, avalia:

- A tendência é de que aumente a energia por conta da estiagem. Tem também a questão das queimadas, que vai reduzir a área plantada, e isso pressiona preços. Temos outro fator recente, que foi o PIB vindo mais forte do que estava imaginado.

Mais desafios na indústria

Segundo a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), a decisão do BC eleva os desafios do setor no processo de recuperação do RS.

Com a decisão de alta de 0,25 ponto percentual de ontem, o juro real (descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses) do Brasil está em 7,33%, segundo levantamento do site MoneyYou. O país está atrás apenas da Rússia, com 9,05%. _

* Com agências de notícias

Nos Estados Unidos, corte pela primeira vez desde março de 2020

O Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortou a taxa dos Fed Funds, como é conhecida a taxa de juros dos Estados Unidos, em 50 pontos-base, para a faixa entre 4,75% a 5% ao ano. A decisão, tomada por 11 votos a um, sendo que o voto contrário optou por um corte de 0,25 pontos-base, foi anunciada ontem.

Foi a primeira queda na taxa básica de juro dos EUA desde março de 2020, quando o Fed buscou abrandar os impactos econômicos da pandemia. Em comunicado, dirigentes do Fed registraram "maior confiança de que a inflação está se movendo sustentavelmente em direção a 2% e julga que os riscos de atingir seus objetivos para emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados." O presidente do Fed, Jerome Powell, comentou que a redução de juros em 0,50 ponto percentual "é um movimento forte" de um sinal de compromisso para atingir os dois mandatos do Fed e não ser influenciado por fatores políticos.

O corte pode provocar impactos no Brasil e no mundo. Com a rentabilidade dos títulos públicos norte-americanos menos atraentes, investidores tendem a tomar mais riscos e aplicar em países emergentes. A entrada de dólares poderá acabar valorizando o real em relação à moeda dos EUA.

Dos 19 dirigentes do Fed presentes na reunião de ontem, nove avaliam que os juros terminarão este ano entre 4,5% e 4,25%. Outros sete apontam entre 4,75% e 4,5%, enquanto dois defendem manter o nível atual, entre 4,75% e 5%. Powell alertou que não há garantia de que o ritmo de redução de 0,50 ponto percentual será mantido nos próximos encontros. 

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