28 DE SETEMBRO DE 2018
DAVID COIMBRA
Já sei quem vai perder na eleição
Em 1979, quando se via pelos muros de Porto Alegre uma espécie de pichação comemorativa ou talvez um grito de alívio, "Deu pra ti, anos 70", quando o Inter foi campeão invicto e o Grêmio montou um time com Manga, Paulo César Caju, Tarciso, Baltazar e Éder, quando Elis cantava O Bêbado e a Equilibrista, em 1979 foi lançado o filme Alien - O Oitavo Passageiro.
Oito anos depois, em 1987, quando Rudolf Hess, um dos mais esquisitos nazistas entre tantos nazistas esquisitos, puxou o fio de uma lâmpada e enforcou-se na cadeia em Spandau, quando o menino Lionel Messi nasceu em Rosário, quando o Grêmio contratou pela primeira vez um jovem técnico chamado Luiz Felipe Scolari, quando o Inter teve de encarar um Flamengo de Renato, Bebeto, Zico e Leandro na final do Brasileirão, em 1987 foi lançado o filme Predador.
E em 2004, quando uns estudantes de Harvard criaram o Facebook, em primeiro lugar com a intenção de facilitar sua comunicação com as garotas da faculdade, em 2004 foi lançado o filme Alien versus Predador.
Os dois primeiros filmes, Alien e Predador, são ótimos. Se você não assistiu, assista. É uma boa diversão. Já a reunião de ambos, Alien versus Predador, não vi e não recomendo. Muito oportunismo, só pode ser ruim. Mas o filme apresentava um cartaz que alertava o seguinte:
"Não importa quem vença? Nós perderemos".
É como me sinto em relação a esse provável segundo turno das eleições presidenciais, disputado entre Bolsonaro e o PT.
Quando é que o Brasil vai se livrar do populismo, meu Deus? Talvez nunca. Assisti ao último debate entre os presidenciáveis. Deu um desânimo.
Com exceção de Marina Silva, a única que parece falar a verdade no meio daqueles marmanjões, todos eles são candidatos a reizinho. Não passam de projetos mal-enjambrados de populistas. "Eu vou fazer isso, eu vou fazer aquilo." COMO o senhor vai fazer, candidato?
O populismo transformou a política brasileira em um pântano onde só importa quem vence a eleição. É um troféu, uma conquista a ser comemorada e esfregada na cara do adversário, não um processo maduro de tentativa de solução dos nossos problemas.
Então, o vitorioso assume e, a partir daí, o que ele faz é tentar continuar. Ele busca nova vitória. Só. Para isso, nada de entrar em polêmicas, como protagonizar reformas impopulares. Nada de projetos custosos e de longo prazo, como os que envolvem a educação básica. Não. O ideal são coisas simples e que rendam popularidade. Bolsas. Programas. Distribuição de dinheiro. Exemplo: em vez de se ocupar da escola pública, que dá muito trabalho, basta facilitar o ingresso nas faculdades. Ninguém se importa se o universitário é semianalfabeto, o importante é que ele, aparentemente, venceu na vida graças a um governo bondoso.
Assim foi o governo do PT e também o da sua presumida nêmesis, o PSDB, e agora o do ubíquo MDB. Quando houve alguma melhora, foi pontual e efêmera. Nada estrutural, nada sistêmico. De estrutural e sistêmico, apenas o projeto de continuidade.
Agora, você olha para eles na eleição e vê que nada mudará. De um jeito ou de outro, estaremos submersos no atraso do populismo. Alien ou Predador? Quem vencerá? Não sei. Sei que nós perderemos.
DAVID COIMBRA