09 DE AGOSTO DE 2022
NÍLCON SOUZA
A pergunta que falta
Como cantava Elis Regina, pelos versos de Aldir Blanc e Maurício Tapajós, o Brasil não conhece o Brasil. Mas já vai conhecer. Desde o início do mês, os recenseadores do IBGE estão nas ruas do país para investigar, de casa em casa, quem e quantos somos, qual a cor da nossa pele, como moramos, qual o nosso grau de instrução e - talvez a mais desafiadora das questões - quanto ganhamos por mês.
Não se trata do leão do Imposto de Renda, que depois vai conferir se a informação é verdadeira ou falsa, mas também não podemos nos recusar a dar a informação. A lei determina que devemos receber (de preferência, bem) os visitantes do Censo e que é nossa obrigação prestar informações corretamente. Porém, é inegável que os brasileiros têm motivos de sobra para suspeitar de tudo e de todos.
São tantos e tão frequentes os golpes neste país que, outro dia, ao ser questionada em entrevista sobre a melhor estratégia de defesa para os cidadãos, uma autoridade especializada em vazamento de informações sentenciou: - Em primeiro lugar, faça aquilo que nossos pais nos recomendavam quando éramos crianças: não fale com estranhos!
Claro, ele estava se referindo, principalmente, às chamadas telefônicas de origem desconhecida, com predomínio absoluto de golpistas, pois quase ninguém mais liga diretamente para amigos e parentes. Já os vigaristas usam métodos antigos e atuais. Ligam ao vivo para telefones fixos, na suposição de que encontrarão interlocutores menos tecnológicos e mais vulneráveis, mas também atuam fortemente no ambiente digital e nas redes sociais.
Em muitos casos, se valem de informações precisas sobre potenciais vítimas, obtidas sabe-se lá como e com quem. Não são poucos os relatos, por exemplo, de cidadãos que ficaram sabendo da própria aposentadoria por intermédio do golpista, sempre mais ágil e eficiente do que o serviço público responsável pela tramitação.
Diante de tal situação, é de se esperar que os diligentes recenseadores tenham que enfrentar resistências. Aliás, quando li os dois questionários que estão sendo aplicados pelo IBGE, o Básico e o da Amostra, senti falta de uma questão que considero essencial para a definição de políticas públicas, objetivo principal do levantamento: alguém desta casa já foi vítima de assalto, roubo ou golpe?
Ou talvez fosse melhor perguntar se alguém ainda não foi.
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