sábado, 27 de agosto de 2022


27 DE AGOSTO DE 202
IMUNOLOGIA

TENDÊNCIA GLOBAL E PREOCUPANTE

MOVIMENTO ANTIVACINA, FAKE NEWS E FALTA DE MOBILIZAÇÃO: COMO SE EXPLICA A QUEDA NA COBERTURA VACINAL INFANTIL

Doenças consideradas erradicadas no Brasil voltaram a preocupar autoridades de saúde, porque o país segue uma tendência mundial: a redução nos índices de cobertura vacinal infantil.

Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado neste mês relata "a maior queda contínua nas vacinações infantis em 30 anos" em todo o mundo.

No Brasil, a situação é similar. Entre as maiores quedas de cobertura vacinal infantil, está a da vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), que, em 2015, chegou a 96% das crianças, mas em 2021 teve redução para 71%.

A pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e hemófilo B) caiu de 96% para 68% no mesmo período; e a de poliomielite (contra a paralisia infantil) foi de 98% a 67%.

Até 2014, o cenário era o oposto: em geral, a cobertura vacinal apresentava aumento ano após ano, com adesão acima dos 90% e que, em alguns imunizantes, superava os 100% no grupo.

O Rio Grande do Sul também registra redução na cobertura vacinal de crianças nos últimos anos, segundo dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações compilados por ZH. A cobertura da poliomielite, por exemplo, chegou a 100,02% em 2013, mas teve alcance de 75,72% em 2021. Outro exemplo é a vacina BCG, que combate a tuberculose: em 2013, foi registrada cobertura vacinal de 110,88% no RS; em 2021, foi de 74,64%. Autoridades de saúde entendem que, para que haja proteção coletiva a doenças, a recomendação é de que no mínimo 90% das crianças estejam com as vacinas em dia.

u Movimento antivacina ganhou força na pandemia

Quando perguntado sobre os motivos que levaram à redução da cobertura vacinal de crianças no país e no mundo, Paulo Ernesto Gewehr, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, cita, primeiro, os movimentos antivacina. Para ele, as ideias contra os imunizantes circulam na Europa e nos EUA há anos, mas ganharam espaço e seguidores no Brasil durante a pandemia de covid-19.

O médico assegura que a desconfiança não tem base no que é verificado no combate às doenças, mas esse "debate" causa dúvidas na população quanto a vacinas que já se provaram seguras e eficazes durante anos de uso:

- O movimento antivacina se alimenta de fake news. É importante combater a desinformação e a mentira com informações baseadas em estudos científicos e chanceladas pelos órgãos sanitários e especialistas de cada área.

Outros problemas podem explicar o cenário global, como a falta de vacinas em postos de saúde, o horário de funcionamento desses locais e a capacitação dos profissionais para orientar a população quanto à importância dos imunizantes. Mas, por outro lado, uma característica desse tipo de prevenção pode explicar o desinteresse em manter as crianças com o calendário vacinal em dia: os bons resultados das campanhas de imunização feitas em décadas passadas.

- As vacinas sofrem do próprio sucesso. Quando há uma doença em atividade, como é o caso da covid-19, a população quer a vacina. Mas, no momento em que o imunizante chega e controla a doença, a percepção de risco diminui e as pessoas deixam de se vacinar - resume o médico.

Entretanto, o vírus estar sob controle ou sem registros de casos durante anos não significa que não possa retornar. Como exemplo, Gewehr cita o sarampo. De acordo com o Ministério da Saúde, o último registro da doença no Brasil havia sido em 2015, o que levou o país a receber, em 2016, uma certificação da eliminação do vírus.

Em 2017, foram confirmados 9,3 mil casos, e em 2019, cerca de 20 mil registros. Em 2021, 668 casos da doença foram registrados. Além disso, desde o retorno da circulação do vírus, 40 pessoas morreram devido à doença, metade delas crianças abaixo de cinco anos, de acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

VINICIUS COIMBRA

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