Onipotência assassina de jovens
O jovem deve lutar contra a onipotência, contra a ideia de que pode tudo e de que nada de ruim vai lhe acontecer. Um pouco de cautela o ajudará a ter equilíbrio diante do excesso de vitalidade.
Assim como os mais velhos devem lutar contra os receios, não deixar que o medo se infiltre na prevenção. Uma pitada de coragem garantirá que não fiquem paralisados. Eu vejo cada vez mais vítimas adolescentes em acidentes de trânsito. Vidas ceifadas pela disposição de emendar viagens, de virar noites, de não perder momentos, de não querer descansar, de não reconhecer os limites do corpo.
Já fui adolescente, e corri riscos desnecessários. Já fui destemido no mau sentido: sem a noção das horas, jurando que felicidade correspondia a um sinônimo de insônia. Dormia quase nada como sinal de resistência física. Ia de uma cidade a outra, achando que poderia diminuir gordas distâncias com a velocidade. Vangloriava-me de fazer um percurso de três horas pela metade do tempo, esnobando a moderação, chamando de tartaruga e lerdo quem passava ao meu lado a 80 km/h e cumpria a média normal da viagem.
A presença do radar apenas me indicava por onde não poderia correr. Ultrapassava pela adrenalina de logo voltar para a minha pista. Não aceitava advertências, faróis altos, as negativas da prudência. Nem me importava se uma festa seria num município distante. Não existia convite recusado.
Jamais controlava a chama da insubordinação. Testava o meu estresse. Parecia que, a todo instante, buscava colocar o meu nome no Livro dos Recordes. Competia com a minha saúde. Não agia a favor dela, mas contra ela.
O mais difícil é incutir no jovem a crença da finitude, de que não somos para sempre, de que urgência de viver não implica viver de modo inconsequente e perigoso. Responsabilidade não é fraqueza, mas confiança, segurança, autonomia. É não depender da sorte de acasos.
Sabemos que racha é crime, que é proibido fazer disputas para ver quem é mais rápido e tem uma maior perícia na direção, mas existe um racha interior liberado em cada adolescente. Uma concorrência consigo mesmo. Eu sobrevivi, porém nunca se fie na exceção.
Você economiza 30 minutos e perde a sua existência inteira. A matemática é macabra, não compensa o luto e o sofrimento interminável daqueles que ficam a prantear futuros interrompidos.
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