terça-feira, 3 de setembro de 2024


03 de Setembro de 2024
NÍLSON SOUZA

O poder do rádio

Estou acompanhando uma novela de televisão sem vê-la. Enquanto trabalho no meu escritório doméstico, que não tem aparelho de TV, minha companheira assiste No Rancho Fundo na sala ao lado. Evidentemente, ouço os diálogos dos personagens, a música-tema e os dois divertidos repentistas que, ao final de cada episódio, cantam as cenas dos próximos capítulos. Só então saio da frente do computador para ver o telejornal.

Embora voluntariamente, me sinto às vezes como um daqueles prisioneiros da caverna de Platão. Ouço as vozes dos atores, vejo os reflexos da tela luminosa na parede e imagino cenas que nem sempre condizem com a realidade (ou, no caso, com a ficção). Mas capto o suficiente para saber que Zefa Leonel é uma mulher corajosa e que as duas megeras da história são ótimas atrizes, Débora Bloch interpretando Deodora ("quando ela chega, piora") e Luisa Arraes fazendo a lambe-beiço Blandina.

Pois bem, ouvir tevê, com uma ou outra espiadinha para a tela de vez em quando, não é exatamente a mesma coisa que acompanhar programas radiofônicos sem imagens ao vivo - recurso que atualmente a internet proporciona às emissoras de rádio. Numa analogia com o mito, a caverna de Platão ganhou janelas e nós, os prisioneiros da escuta cega, já não precisamos mais nos guiar apenas por sons e sombras.

Mesmo com inovações, o rádio continua sendo veículo da imaginação. Como sou da geração pré-televisão, ainda lembro de programas que ouvia na infância e na adolescência com tal riqueza de detalhes que tenho a impressão de tê-los vivido presencialmente. E são impressões pessoais e intransferíveis. Possivelmente, outras pessoas que ouviram os mesmos programas os tenham gravado em suas memórias com uma conformação muito diferente.

Esse é o encanto do rádio, veículo que completará cem anos de existência em nosso Estado no próximo sábado, dia 7 de setembro. Na ocasião, instigada pelo jornalista e professor Luciano Klöckner, com respaldo nas pesquisas do doutor em Comunicação Luiz Artur Ferraretto, a Associação Riograndense de Imprensa receberá e homenageará profissionais que ajudaram e ajudam a construir a história do rádio no Rio Grande do Sul, estimulando com suas vozes e seu talento os sonhos de milhares de ouvintes. 

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