quarta-feira, 4 de setembro de 2024


04 de Setembro de 2024
EDITORIAL

EDITORIAL

Perspectivas positivas

O bom momento da economia nacional é um alento para o Rio Grande do Sul em sua luta para se recuperar dos prejuízos causados pela enchente de quatro meses atrás. Como virou rotina no pós-pandemia, a atividade no país surpreendeu e, no segundo trimestre de 2024, voltou a crescer acima do esperado. Conforme o IBGE, de abril a junho, o PIB do país avançou 1,4% ante o intervalo de janeiro a março. A mediana das expectativas era de 0,9%. No acumulado do ano, a alta chega a 2,9%. A despeito de uma possível desaceleração no segundo semestre, os resultados deflagraram novas rodadas de revisão para cima das projeções do PIB para o fechamento de 2024. Agora, situam-se ao redor de 3%.

Seria bem mais penoso para o Estado se reerguer se a atividade econômica no restante do país cambaleasse. O RS é um dos mais importantes produtores de alimentos, e o desemprego baixo e a renda em elevação impulsionaram o crescimento de 1,3% no consumo das famílias no segundo trimestre. A indústria avançou 1,8% e sabe-se que o Estado é um dos principais polos fabris do Brasil. Outra boa notícia veio da formação bruta de capital fixo, que mostra o ritmo dos investimentos produtivos. Subiu 2,1%. O Estado é um relevante fabricante de bens de capital. Sinaliza demanda aquecida.

Outros indicadores regionais, no mesmo sentido, apontam para uma retomada, embora o Estado siga distante de um reerguimento pleno e o ritmo de recuperação seja diferente entre os setores. O próprio IBGE mostrou que, em junho, a indústria gaúcha cresceu 34,9% ante maio. No mês da enchente, o tombo foi de 26,2%. Conforme a Fiergs, a produção também subiu em julho e as perspectivas são mais positivas para o restante do ano. Também em julho, o RS abriu 6,7 mil empregos com carteira, após perder 30,5 mil entre maio e junho. O desempenho da Expointer, com um novo recorde de comercialização, de R$ 8,1 bilhões, é outra evidência da volta da confiança. Assim como a expectativa de uma safra de grãos de verão de 35 milhões de toneladas.

Ainda assim, há fatores condicionantes que atrasam a reabilitação econômica e limitam a possibilidade de o Estado tirar melhor proveito do cenário nacional. Entre eles, as dificuldades para as empresas afetadas acessarem crédito para retomar operações. A infraestrutura ainda longe de ser completamente recuperada também atrapalha o escoamento e o recebimento de insumos e bens finais. Negócios ligados ao setor de serviços, como o turismo, dependem da reabertura do aeroporto Salgado Filho.

O efeito colateral de uma economia mais aquecida pode ser a volta do aumento do juro básico. O PIB robusto fortalece a aposta de que o Banco Central possa elevar a Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, nos dias 17 e 18 deste mês. A taxa atual, de 10,5% ao ano, já é asfixiante. 

Elevá-la para esfriar a atividade e reverter expectativas de alta de preços pode ser prudente considerando-se a conjuntura nacional, mas não favoreceria o Estado no momento em que os gaúchos reúnem forças para se reerguer. Ajudaria se o governo federal indicasse maior convicção em racionalizar gastos para arrefecer as pressões inflacionárias que levam ao aperto monetário. 

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