17 de fevereiro de 2014
| N° 17707
PAULO SANT’ANA
O bem e o mal
O Jayme Eduardo Machado escreveu
sábado um artigo em Zero Hora que eu gostaria de ter escrito.
Referindo-se à morte do
cinegrafista na manifestação do Rio de Janeiro, saiu-se com esta tirada
magistral: “O maior truque do diabo é nos fazer acreditar que ele não existe”.
Sobre isso, quero acrescentar
que, se acreditamos em Deus, temos também de acreditar no diabo. Por sinal, as
Sagradas Escrituras estão repletas de atestados da existência do diabo.
Isso nos faz crer que residem
juntamente em nossos peitos um demônio que ruge e um Deus que chora.
Nossas ações são pautadas, assim,
pelo bem ou pelo mal, a guerra e a paz, o amor e o ódio, a amizade e a
carnificina, como diz o Augusto dos Anjos, “o ângulo obtuso e o ângulo reto/ o
que o homem ama e o que o homem abomina/ tudo convém para o homem ser
completo”.
E o poeta assim emoldura em
notável soneto o seu hino à dualidade: “Eu sei tudo isto mais do que o
Eclesiastes/ e por justaposição desses contrastes/ junta-se um hemisfério a
outro hemisfério/ as alegrias juntam-se às tristezas/ e o carpinteiro que
fabrica as mesas/ faz também os caixões do cemitério”.
Deduz-se daí que o homem vive
dominado pela dualidade, já assim inspirado no dia e na noite, na luz e na
escuridão, na lucidez e na burrice, no Grêmio e no Internacional, no próprio
ser masculino e na mulher, no inverno e no verão, na saúde e na doença, no
vício e na virtude. Todos esses polos antagônicos são cordões de marionetas que
guiam as ações humanas.
Tudo isso é um quadro para
escolhas. No Céu, só existe, suponho, o bem. E no inferno só existe o mal.
Cabe, então, ao homem, na vida, escolher entre o bem e o mal. E não há lugar
para tergiversações, embora eu saiba quanto o homem tergiversa para enganar a
Deus.
Temos, então, que Deus é a luz e
o diabo é a tentação para que o homem fuja da luz. E para isso o diabo usa
disfarces, usa lanternas de falsa luz, usa faróis, nada como a luz ofuscante e
encantadoramente atraente do Bem e da Verdade que emana de Deus.
Felizes dos homens que passaram
uma noite só com o diabo e depois uma lua de mel perene com Deus.
Sim, porque estou entre aqueles
que consideram que, se o homem não conhecer o Mal, não terá condições de
escolher o Bem.
É preciso, portanto, assim
considero, chafurdar primeiro para depois penetrar na luz.
Não será virtuoso, penso, aquele
que não foi pecador. São Paulo, São Francisco de Assis e tantos outros campeões
da cristandade, antes de terem atingido a santidade, mergulharam profundamente
nas trevas da impureza.