Eliane Cantanhêde
Rastilho de pólvora
BRASÍLIA - Os "black
blocs" estão por toda parte e, se não há clima para Dilma em inauguração
de estádio, também não há para reunião de presidentes do enfermo Mercosul.
A cúpula do bloco foi marcada
para 13 de dezembro de 2013 e desmarcada, para 17 de janeiro e desmarcada, para
31 de janeiro e, mais uma vez, desmarcada. Já não será em fevereiro e ninguém
crê na nova previsão, de meados de março.
Ora é Cristina Kirchner que não
está se sentindo bem, ora é Dilma que não tem tempo, correndo entre Davos, Lisboa
e Havana. Mas são só desculpas esfarrapadas.
O problema real é que a reunião,
pelo sistema de rodízio, tem de ser em Caracas. E quem é louco para jogar pelo
menos cinco presidentes naquele caldeirão fervente?
A batalha de rua entre chavistas
e antichavistas --ou seja, em torno de um fantasma-- produziu três mortes num
único dia da semana passada. Há crise de desabastecimento, inflação galopante,
desemprego preocupante e violência descontrolada. Maduro não conseguiu nem
encarnar nem representar Chávez. Está completamente perdido.
Mas quem vai atirar a primeira
pedra --ou rojão? No Brasil, a morte do cinegrafista Santiago Andrade, os 30
feridos nos protestos do MST, as dezenas de ônibus queimados em São Paulo e as
cabeças rolando no Maranhão. Sem falar no apagão.
Na Argentina, Cristina Kirchner
controla a imprensa, mas não as greves, a insatisfação e, menos ainda, a
economia. No Paraguai, Horacio Cartes convive com problemas entranhados na
história e na alma do país, como contrabando e corrupção. No Uruguai, Pepe
Mujica está distraído com a maconha livre.
E há uma questão prática: a
Argentina, teimosamente, não fecha sua lista de produtos para a negociação do
bloco com a União Europeia, nas próximas semanas.
Logo, não há clima, não há pauta
e não há vontade para reunir a turma. O Mercosul virou um fardo.