09 DE OUTUBRO DE 2018
+ ECONOMIA
EUFORIA NO MERCADO, CAUTELA NA VIDA REAL
Enquanto o mercado financeiro vivia um dia tão excepcional que representou novo recorde na bolsa (leia ao lado), variações de dois dígitos nas ações de estatais e a menor cotação do dólar em dois meses, o ex-ministro Maílson da Nóbrega seguia recomendando cautela a seus clientes empresariais. A moeda americana fechou ontem em R$ 3,766, menor valor desde 8 de agosto, com queda de 2,35%. Foi a reação do mercado à vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no domingo, com percentual de votos que facilita projeções de prevalecer também no segundo turno, no dia 28 de outubro.
- Ninguém pode tomar decisões no campo empresarial com base em entusiasmo ou depressão do mercado. O sonho de qualquer operador é ficar vendido no fim do mundo. Vai morrer, mas ganhando muito dinheiro - brinca Maílson.
A comparação extremada do ex-ministro é uma forma de advertir que o entusiasmo do dia seguinte ao primeiro turno está relacionado à redução do "risco de vitória do candidado do PT". Na avaliação de Maílson, o programa é "um horror para quem trabalha com risco".
- O próximo presidente, muito provavelmente Bolsonaro, enfrentará a agenda mais desafiadora da história, ao menos desde a República.
São três os maiores desafios da lista Maílson: evitar a "insolvência fiscal", tirar a produtividade da estagnação em que afundou na última década e evitar a erupção de crises fiscais em outros Estados, além dos já afetados - Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
E apesar de estar longe de ser petista ou simpatizante, adverte:
- Não concordo que a democracia brasileira esteja sob ameaça, mas até agora Bolsonaro não demonstrou possuir atributos necessários para construir, manter e gerir uma coalizão. Elegeu 52 aliados, mas precisa de uma base de apoio de 350 deputados, 308 para aprovar reformas constitucionais e uma margem de segurança, para lidar com rebeldes.
O ex-ministro lembra que, na história recente do Brasil, presidentes sem apoio parlamentar fizeram mau governo ou caíram.
- Esse é o grande desafio para o próximo governo. O que o mercado vê é superficial, reage por raciocínios binários. Estou aconselhando os clientes a não tomar decisões de profundidade antes de ter visão clara de como o governo vai reagir - detalha.
O prazo para que a situação se defina, avisa, não é de três semanas, até o final do segundo turno. É de seis meses a um ano:
- Só aí vai ficar claro. É bom se preparar para a volatilidade.
Ainda que dominada pelo clima de "não haverá amanhã", a bolsa teve um dia de exceção ontem, em reação ao resultado da eleição, que desenhou um quadro de grande probabilidade de vitória de Jair Bolsonaro (PSL) em 28 de outubro. A bolsa fechou em alta de 4,57%, a 86 mil pontos e movimentou nada menos de R$ 30 bilhões, o maior valor na história para um dia sem vencimento de opções.
- O mercado brasileiro ficou reprimido durante muito tempo, por uma série de fatores, como o crônico problema fiscal, enquanto lá fora caíam recordes. Agora, a perspectiva de vitória de Bolsonaro colocou no preço dos ativos o que não havia sido possível por conta dos nosso problemas. Os ativos mais defasados, que eram de empresa relacionadas ao Estado, foram os que mais se beneficiaram - avalia Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama.
Parte do efeito nas estatais, pondera o analista, é provocado pelas declarações do coordenador econômico de Bolsonaro, Paulo Guedes, de privatizar "todas as estatais". O próprio candidato já relativizou o movimento, mas o efeito simbólico prevalece.
- É um ajuste que não se sabe se vai permanecer daqui para a frente. Não vejo a bolsa subindo com essa intensidade, mas deve se acomodar em novo patamar, entre 85 mil e 90 mil pontos. O cenário econômico do Brasil não é para sair comemorando como se não houvesse amanhã.
Para movimentar tamanho volume de recursos, houve reforço de investidores estrangeiros, que voltaram a comprar papéis de empresas brasileiras mesmo em dia de quedas generalizadas na Europa e feriado nos Estados Unidos. COMPENSANDO O ATRASO
As ações da Eletrobras tiveram ontem alta de; 18,3%
Papéis da Petrobras subiram: 11%
No Banco do Brasil, a valorização de mercado foi de: 9,6%
EM DIA DE PINOTES NAS AÇÕES DAS ESTATAIS, A PETROBRAS CONSOLIDOU O RETORNO AO POSTO DE EMPRESA MAIS VALIOSA NO BRASIL. A ALTA DE 11% LEVOU A ESTATAL A ATINGIR R$ 368 BILHÕES EM VALOR DE MERCADO (TOTAL DE AÇÕES MULTIPLICADO POR SUA COTAÇÃO). A RETOMADA DO POSTO HAVIA OCORRIDO NA QUARTA-FEIRA DA SEMANA PASSADA.
MARTA SFREDO