Fechamento de 13 pós preocupa especialistas
O fechamento de 13 programas de pós-graduação (PPGs) stricto sensu em universidades privadas tradicionais do Rio Grande do Sul está preocupando especialistas e entidades representativas da área em todo o Brasil. Segundo pesquisadores, a oferta de mestrado e doutorado sempre foi pouco lucrativa. Com o corte de bolsas de pesquisa e a expansão de cursos de educação a distância (EaD), contudo, a crise financeira se agravou.
No final de julho, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) informou que 12 de seus 26 PPGs serão descontinuados: Arquitetura, Biologia, Ciências Contábeis, Ciências Sociais, Comunicação, Economia, Enfermagem, Engenharia Mecânica, Geologia, História, Linguística Aplicada e Psicologia.
Na última quinta-feira, a Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) confirmou que não abrirá edital para o ingresso de novos estudantes na pós-graduação em Serviço Social. A instituição também unificará o ingresso nos programas de Educação e de Educação em Ciência e Matemática.
Por enquanto, ainda não há outros casos de encerramentos de PPGs em outros Estados, conforme especialistas consultados pela reportagem de GZH. De acordo com Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência (SBPC), fechar programas de pós-graduação é algo muito raro.
- Do ponto de vista de mensalidades, um PPG é deficitário, porque é preciso ter professores que pesquisam. Isso quer dizer que a universidade vai pagar um salário, digamos, de R$ 10 mil a R$ 15 mil, para oito a 10 professores que farão pesquisas e darão oito horas de aula por semana, e não 20 ou 40 horas. Se você quer oferecer mestrado ou doutorado, tem que colocar dinheiro - relata o presidente da SBPC.
Desequilíbrio
Por serem deficitários, os programas de pós-graduação costumam ser oferecidos por instituições sem fins lucrativos, como são a PUCRS e a Unisinos, e pelas universidades públicas. Apesar de não visarem o lucro, no entanto, as privadas precisam contar com um equilíbrio financeiro que tem sido prejudicado nos últimos anos.
Professora titular do pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Pará e pesquisadora do CNPq, Vera Lúcia Jacob Chaves cita duas principais razões para o gradual desequilíbrio financeiro entre as universidades sem fins lucrativos: a concentração da maioria das matrículas em graduações do setor privado em instituições mantidas por grandes grupos empresariais ligados ao setor financeiro e a nova possibilidade de ofertar cursos de mestrado e doutorado a distância. Por isso, avalia que o movimento de fechamento de pós-graduações stricto sensu será nacional.
- Pode ter começado no Rio Grande do Sul, mas esse movimento está ligado a um novo modelo de Ensino Superior privado no nosso país que vem se expandindo de forma assustadora - destaca Vera.
Segundo a pesquisadora, que estuda instituições de ensino privadas, muitas vezes, quando cursos de pós-graduação presenciais são fechados, com a alegação de prejuízo, logo é anunciada uma modalidade a distância, especialmente em áreas como Ciência da Saúde e Tecnologia da Informação.
Janine lamenta que, entre os cursos de pós-graduação encerrados, estejam programas com conceito 6, considerado nível de excelência pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). É o caso do PPG em Serviço Social da PUCRS e o de Comunicação da Unisinos, por exemplo.
- Quando esse sistema fecha é preocupante, porque faz parecer que o Estado está parando de investir no futuro - comenta o presidente da SBPC.
ISABELLA SANDER
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