quinta-feira, 11 de agosto de 2022


11 DE AGOSTO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

CUIDADO COM O ENDIVIDAMENTO

É inequívoco que há notícias boas na economia, como a queda do desemprego. Mas a situação financeira dos brasileiros segue longe de estar confortável. Mesmo em queda, a desocupação mantém-se alta, a inflação oficial do país em 12 meses permanece na casa dos dois dígitos, apesar do recuo de julho, e a renda continua perdendo para a evolução dos preços, especialmente dos alimentos. O aperto da população aparece de forma nítida em indicadores como endividamento e inadimplência. Em julho, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 29% das famílias tinham algum tipo de conta ou dívida atrasada, o maior patamar desde o início da pesquisa, em 2010. Já o percentual de endividados, também em níveis inéditos, chegou a 78%.

O aumento da incapacidade de honrar contas e mesmo a necessidade de assumir compromissos que serão pagos em um segundo momento ou em parcelas são um sintoma de sufoco financeiro pessoal, mas também um obstáculo para o crescimento da economia via mercado interno. Significa menos renda disponível para consumir. Para muitas famílias em dificuldade, o novo valor do Auxílio Brasil, de R$ 600, ainda que garantido somente até dezembro, é a chance de algum alívio tanto para as necessidades básicas quanto para a possibilidade de quitar dívidas. São 20,2 milhões de beneficiários, com 2,2 milhões de novos incluídos. Mesmo que a majoração de R$ 400 para R$ 600 tenha cunho eleitoreiro, chega em boa hora para quem a recebe.

Mas há o risco de o refrigério se tornar uma armadilha. O governo federal também aprovou, por meio de Medida Provisória, a possibilidade de os inscritos no Auxílio Brasil tomarem crédito consignado. Para isso, podem comprometer, com o pagamento descontado na fonte, até 40% do valor permanente do benefício (R$ 400), o equivalente a R$ 160 mensais. Ocorre que, ao contrário de outros programas, não há limite para os juros. Reportagens de jornais do centro do país mostraram que há instituições financeiras pretendendo cobrar taxas de quase 5% ao mês, cerca de 80% ao ano. São condições escorchantes, extremamente desfavoráveis para os tomadores.

Muitos dessa população vulnerável têm baixíssima educação financeira. Assim, sem compreender bem os termos contratados, estão sujeitos ao perigo de serem atropelados pela bola de neve do endividamento. A sensação prazerosa mas fugaz de ter dinheiro na mão no período pré-eleitoral, fruto do empréstimo, pode se transformar em um pesadelo mais adiante. Cientes da fragilidade desse público, os grandes bancos privados, por exemplo, já sinalizaram que não pretendem trabalhar essa modalidade. Receiam danos à própria imagem por acabarem associados a uma piora da situação financeira de milhões de famílias.

Como é típico de medidas improvisadas e aprovadas no afogadilho, o crédito consignado para os beneficiários do Auxílio Brasil é temerário. Tem o potencial de agravar o quadro de endividamento e de inadimplência dos brasileiros. Resta esperar um mínimo de responsabilidade dos agentes financeiros e juízo e atenção dos tomadores ao analisarem as possibilidades de contrair o empréstimo e as condições.

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