04 de fevereiro de 2014 | N° 17694
LUIZ PAULO
VASCONCELLOS
A origem
dos teatros
A ideia de construção de teatros sempre esteve ligada ao
processo de transformação política e enriquecimento dos povos. O teatro, antes
do advento da imprensa, antes da construção dos clubes, era o espaço onde as
oligarquias se encontravam para celebrar a prosperidade e conspirar contra as
formas de governo que não lhes conviesse. Assim foi na democracia grega, na
Roma imperial, na Renascença absolutista e nas Américas capitalistas.
No Brasil, a construção dos primeiros teatros coincide com
os ciclos econômicos nas diversas regiões do país, o ciclo do ouro, em Minas
Gerais, quando foram construídos os teatros de Ouro Preto (1770) e de Sabará
(1819); o ciclo da borracha, na Amazônia, quando foi construído o Teatro da
Paz, em Belém (1878), e o Teatro Amazonas, em Manaus (1896); e o ciclo das
charqueadas, no Rio Grande do Sul, quando foi construído em Pelotas o Theatro
Sete de Abril (1831).
Mas nenhum outro período da história do país foi tão
pródigo na construção de teatros quanto a época das campanhas abolicionista e
republicana. Saindo de uma monarquia hereditária, o Brasil precisava se
preparar para enfrentar a consequência das urnas. Nunca antes um local de
encontro das elites havia sido tão necessário. Um espaço de reafirmação do
poder, de ostentação da riqueza, de propaganda das novas ideias.
Aqui no Rio Grande do Sul, entre 1831 e 1897, foram
construídos nada menos que sete teatros: o já mencionado Sete de Abril, o
Municipal de Triunfo (1848), o São Pedro, em Porto Alegre (1858), o Teatro
Prezewodowski, em Itaqui (1883), o Treze de Maio, em Santa Maria (1890), o
Teatro da Sociedade Rio Branco, em Cachoeira do Sul (1896), e o Teatro
Esperança, em Jaguarão (1897).
Provavelmente foi o maior número em todo o país, mas as
circunstâncias locais favoreciam o investimento: a ideia sempre presente de um
separatismo, o risco de uma guerra civil, o temor que representavam as
fronteiras, o processo imigratório europeu e tantas outras razões de cunho
socioeconômico.
A programação desses teatros, como, aliás, no resto do país,
era composta de comédias de costumes, melodramas, tragédias românticas,
recitais e óperas – o São Pedro, por exemplo, foi inaugurado com o espetáculo
Recordações da Mocidade, pela Companhia Ginásio Dramático Rio-Grandense. Pois,
mesmo assim, por mais inócua que a programação possa ter sido, não há dúvida de
que nas plateias fervilhava o pensamento de uma comunidade que fazia sua
história construindo teatros e, com isso, afirmando-se econômica, política e
culturalmente.