sábado, 6 de outubro de 2018



06 DE OUTUBRO DE 2018
DAVID COIMBRA

Não vai ter golpe

Não. A democracia brasileira não corre risco. Seja quem for o novo presidente, ele não se transformará em ditador.

Digo isso porque são insistentes e candentes e frementes os discursos dos supostos defensores da democracia que temem o resultado da eleição. São discursos óbvios, repletos de lugares-comuns, como citar um contraparente que teria sido vítima de tortura, ou coisa que o valha, mas que ainda capturam a admiração de incautos.

Tudo bobiça, como se diz em Santa Catarina.

É verdade que Zé Dirceu e o general Mourão andaram fazendo declarações de natureza pouco democrática, não duvido mesmo que eles quisessem tomar o poder à força, mas, querer, você também quer namorar a Megan Fox, e não vai.

Zé Dirceu disse que o PT está perto de "tomar o poder, o que é diferente de ganhar a eleição". Ora, o PT já tomou o poder. Lula era um presidente com altíssima popularidade, governava o país em um momento em que o crescimento chinês estufou nossa economia de dólares e o Congresso lhe era submisso, hoje se sabe a que custo. Lula podia fazer o que quisesse. E fez. Como (desculpe) uma lula, estendeu seus tentáculos, formando alianças com ditadores africanos e centro-americanos, montou um clube de populistas bolivarianos na América do Sul e se tornou o ídolo das esquerdas sonhadoras em todo o mundo. Lula tinha o dinheiro dos empreiteiros e das estatais e, para arrematar, divisou as profundas possibilidades do pré-sal. Nenhum outro presidente brasileiro, nem Vargas, jamais teve tanto poder quanto ele. Não será Haddad, um estafeta de Lula, que se transformará em ditador.

Já o general Mourão, entre outras tolices, falou em "autogolpe". Imagine o tamanho da estupidez: depois do Marechal Dutra, os militares tentaram ascender à Presidência por meios democráticos em 1955, com Juarez Távora, e em 1960, com o Marechal Lott. Perderam. E acabaram açambarcando o poder pelas armas em 1964. Mas meio constrangidos. Passaram 21 anos em discussões internas, uns querendo devolver o governo aos civis, outros querendo se eternizar no mando. Finalmente, retiraram-se em silêncio para os quartéis e em nenhum momento manifestaram desejo de retornar. Agora, eles chegariam de novo ao poder, com Bolsonaro, só que legitimamente, pelo voto, com aprovação do povo. Por que estragariam tudo dando um golpe? Para que exigir algo que você já tem? Não há lógica.

Um golpe de Estado, no Brasil, para funcionar, precisa necessariamente de dois apoios: da classe média e do Exército. No caso de vitória de Bolsonaro, e consequente derrota do PT, a classe média estaria contentada e quieta. Ou seja: não reivindicaria golpe algum. Além disso, não existe, no Exército brasileiro, um único sinal de que há clima para rebeliões.

Não tenha medo, portanto. A democracia brasileira ainda não está madura, mas continuará viva e bem. Se você quiser votar em Bolsonaro, vote. Se quiser votar no PT, vote. Se quiser votar em qualquer outro, vote. E, se não quiser votar, não vote. Siga a sua consciência, que o Brasil seguirá em paz. Ou mais ou menos em paz.

DAVID COIMBRA