quinta-feira, 18 de novembro de 2021


18 DE NOVEMBRO DE 2021
+ ECONOMIA

Um "Posto Ipiranga" que é anti-Guedes

Se alguém ainda duvidava da intenção eleitoral do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, ele mesmo resolveu ao indicar seu consultor econômico em entrevista à TV Globo: Affonso Celso Pastore. É insuficiente dizer que foi presidente do Banco Central entre setembro de 1983 e março de 1985 - portanto, nos estertores da ditadura militar, sob o governo de João Figueiredo e com Ernane Galvêas como ministro da Fazenda. Mas apesar de ter o posto mais alto de sua carreira pública em período histórico conturbado, Pastore virou referência para várias gerações de economistas, ao menos da corrente hegemônica no país, chamada genericamente de "ortodoxa". É descrito como liberal na economia e conservador nos costumes.

Foi um dos primeiros a contestar o modelo vigente até a década de 1990, de controlar a inflação por meio da intervenção direta sobre preços. Antes de ir para o governo, o economista só tinha carreira acadêmica, ou seja, só atuava na Universidade de São Paulo (USP), não tinha passagem pelo mercado financeiro. Aos 82 anos, é pouco provável que assuma um ministério em um eventual futuro governo Moro, mas ao permitir a citação de seu nome, dá uma chancela com peso ao ex-ministro.

Pastore é referência para centros de análise como a Casa das Garças, no Rio de Janeiro, ao qual já foram ligados Armínio Fraga (ex-presidente do BC) e Elena Landau (ex-diretora de desestatização do BNDES), entre outros, e o Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), de São Paulo, que abriga nomes como Ilan Goldfajn (ex-presidente do BC e atual presidente do conselho de administração do Credit Suisse) e Mário Mesquita (ex-diretor do BC e atual economista-chefe do Itaú).

A indicação de Pastore surpreendeu porque ele se mantinha afastado do debate político há décadas. Neste ano, abriu uma polêmica com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Assinou todos os manifestos que contestaram o governo Jair Bolsonaro e fez muitas críticas à condução econômica, com alta repercussão no empresariado e no mercado financeiro.

Em uma das mais agudas, afirmou: "Não temos ministro da Economia, temos um cheerleader (expressão em inglês para chefe de torcida, usada em sentido pejorativo)". Guedes, obviamente, reagiu. Disse que Pastores não via o planejamento por não ter "bom treinamento" e "deficiências na Teoria do Equilíbrio Geral" uma das principais bases da teoria econômica.

MARTA SFREDO

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