sábado, 15 de janeiro de 2022


15 DE JANEIRO DE 2022
A ROTA DA ESTIAGEM

Em Passa Sete, o inventário das pequenas propriedades

A batata morreu, a alface queimou, a abóbora nem nasceu. O tomate murchou, a beterraba secou e o milho está se entregando. Palmilhar os três hectares da família de Márcia Fátima dos Santos, em Engenho Velho, no interior de Passa Sete, é como redigir um inventário da estiagem que assola as pequenas propriedades rurais do Rio Grande do Sul: do que sobrou, pouco se salva.

Durante os últimos 12 anos, sob chuva forte ou sol inclemente, Márcia teve água graças a uma cacimba situada nos fundos do terreno. Em novembro, a fonte secou, deixando ela, o marido, as duas filhas e mais sete membros da família sem água nem para beber. Desde então, todos os dias ela sai de casa pela manhã e olha para cima, suspirando por nuvens carregadas.

Ajuda

Mas não há reza ou promessa que faça chover em abundância no município de 5 mil habitantes da região central do Estado. Como consolo, dia sim, dia não surge no alto da coxilha um tanque alaranjado carregando 5 mil litros de água.

Mal avista o caminhão da prefeitura, Márcia sobe a escada de madeira até o alto da caixa d?água e abastece o reservatório de 250 litros que serão usados no preparo da comida e para matar a sede. Baldes e bombonas espalhadas ao redor da casa servem de depósito para a água destinada aos animais e na lida doméstica.

- Essa água dura um dia meio, no máximo dois. Mas nada é pior do que ficar sem água. Não dá para limpar a casa, fazer comida. A gente deixa de fazer muita coisa - lamenta Márcia, ao lado das filhas Marcela, 10 anos, e Maíra, de três.

Dependência

Com 5,7 mil habitantes e 1.015 propriedades rurais, Passa Sete tem 95% da população vivendo no campo. Na última semana, a cada dia 10 novas famílias ficavam sem água.

Depois de ver um poço artesiano secar, a prefeitura precisou a recorrer a um mais antigo, desativado há 20 anos. Todos os dias, o caminhão-tanque percorre 220 quilômetros, entregando em média 40 mil litros por dia.

- Dizem que em 2005 foi a pior seca do Estado, mas naquele ano não foi preciso puxar água para ninguém. Agora, o número de gente sem água só aumenta - diz o secretário municipal de Obras, Elói Kipper.

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