quinta-feira, 27 de janeiro de 2022


27 DE JANEIRO DE 2022
CARPINEJAR

Irmão com as suas medidas

Não sei se você passou pela infelicidade de ter um irmão ou irmã com o mesmo tamanho de pé, com as mesmas medidas do corpo.

Mas, se você enfrentou esse infortúnio, lamento profundamente. Talvez explique a sua desconfiança excessiva, a sua possessividade, os arroubos de controle, o motivo de entrar em pânico do nada e procurar uma peça sumida, de perder tempo conferindo o varal e o cesto da lavanderia.

Os efeitos colaterais permanecem na vida adulta, ainda que se encontre longe do convívio familiar por décadas. Impactarão negativamente a dinâmica de seus namoros e prejudicarão o andamento do casamento.

Nunca mais confiará em ninguém, acreditando em furtos imaginários.

Ter um irmão já é difícil; o perigo é dobrado quando ele inventa de imitar a sua estatura e se aproveitar das suas influências.

Você é um personal stylist gratuito, sem receber coisa alguma em troca. Você veste a outra pessoa com uma caridade forçada.

Por mais que reclame aos pais o direito da sua individualidade, eles vão se valer daquela máxima: seja mais generoso. Você nunca terá razão. E acabará malvisto pelo egoísmo, como um exemplo de ausência de solidariedade.

Primeiramente fora educado a dividir os brinquedos, depois a amargar a contrariedade dos cabides e das gavetas. Nada é seu no armário. Nem dentro do território soberano do quarto.

Você vai querer usar uma combinação, e o seu sósia tratou de roubar na surdina o casaco, ou o tênis, ou o cinto, ou a calça, ou a camiseta; não pediu porque previu a recusa.

Ainda precisará aguentar a desculpa furada de que ele não reparou que não era dele, como se sempre se vestisse no escuro. Não existe sequer o privilégio da estreia. Ele não respeita a primeira vez. É bem capaz de estrear algo que você nunca experimentou em público.

Daí todo mundo vai pensar que a roupa é dele e que você é quem está pegando emprestada. Andará com a sua moral desacreditada na escola, no bar, nas baladas, nos passeios.

Enquanto guarda o figurino para um momento especial, com requintes de colecionador, o seu irmão não apresenta pudor nenhum de trajá-lo, ultrajá-lo, e gastar à toa o tecido, como uma mera segunda opção.

A operação tem um quê de avareza: o irmão emprega tal expediente para poupar a indumentária dele, que fica mais conservada do que a sua.

Não é que vocês partilham um gosto parecido, ele saqueou a sua personalidade, as suas tendências, as suas manias.

Pior do que isso é quando o pai ou a mãe têm números iguais ao seu. Daí não há como comprar briga. Irão alegar que o dinheiro parte deles.

CARPINEJAR

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